Capítulo IV

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[...]

Mais uma noite, mais um baile.

Annie retorceu as mãos, sentindo-as geladas. Nunca conseguiria se acostumar ao fato de ser o centro das atenções a todo tempo.

Na carruagem da família a caminho da mansão Morgade, sentia uma ansiedade que de alguma forma era boa e ruim ao mesmo tempo. Era boa pelo fato de que encontraria sua amiga e teria a oportunidade de dançar a noite inteira, se tivesse sorte, o que adorava fazer. O lado ruim era ter que lidar com os cochichos, os olhares e o julgamento a cada segundo de sua permanência em sociedade.

Pelo menos, desta vez, estava usando um de seus vestidos preferidos: o veludo vermelho sangue lhe protegeria do frio noturno ao mesmo tempo que a cor forte destacava sua pele clara. O espartilho erguia seus seios, valorizando-os no decote quadrado, enquanto um colar de pérolas enfeitava seu pescoço e colo. As mangas alcançavam o cotovelo e então eram enfeitadas com tule branco com detalhes de pequenas flores bordadas. A saia comprida, em formato de sino, era levemente volumosa, o que valorizava sua cintura fina. Os cabelos negros estavam presos para cima num penteado trabalhado, deixando seu pescoço livre e dando destaque aos brincos que faziam conjunto com o colar. Seu rosto levemente maquiado a deixava com um aspecto mais maduro para combinar com o peso do vestido.

Modéstia a parte, estava se sentindo linda. Se a rainha resolvesse mesmo aparecer como havia prometido que faria, torcia para que sua aparência agradasse a monarca.

– Chegamos, querida – ouviu sua mãe chamar e então percebeu que a carruagem já estava parada.

Annie piscou, despertando de seus pensamentos. Em um movimento fluido, levantou-se do banco da carruagem e foi em direção à porta, aceitando a ajuda do cocheiro para descer.

O ar da noite lhe atingiu com força, porém, como imaginava, o vestido de tecido grosso lhe manteve aquecida. Os olhos cor de mel se ergueram para a mansão que se erguia logo a frente e se surpreenderam com a beleza da estrutura, agora totalmente iluminada.

– Está linda, minha filha – Louise sussurrou, ajeitando algumas mechas do cabelo negro.

Annie olhou para ela, sorrindo. Sua mãe era uma mulher incrivelmente bonita, os cabelos ruivos e os olhos verdes que sempre desejou ter herdado. Reparou que algumas marcas de expressão começavam a se destacar ao lado dos olhos.

Sua mãe estava envelhecendo mais rápido? Quando essas marcas tinham surgido e como ela não havia reparado?

– Obrigada, mama – resolveu apenas agradecer, empurrando a melancolia da descoberta para o fundo de seu estômago.

– Dance bastante e se divirta – Louise continuou a dizer, o tom de voz calmo – Quero que aproveite cada segundo, está bem?

Annie assentiu.

– Está bem, mama.

(...)

Dominic estava impaciente.

Fazia quase uma hora inteira que havia chegado na mansão Morgade e nem sinal de Annie. Não era possível que ela não viesse, afinal, ela e Chloe eram amigas íntimas.

Por falar na ruiva, esta desfilava pelo salão com um sorriso enorme no rosto, cumprimentando a todos. Tinha reparado na presença dela apenas porque a garota usava um vestido amarelo tão chamativo que era quase impossível não vê-la passar. Os cabelos cor de fogo apenas ajudavam o visual chamativo.

O loiro olhou para o lado, encarando Robert. Era a primeira vez que seu amigo insistia em lhe acompanhar a um evento da nobreza londrina. Desconfiava seriamente que tinha a ver com a ruiva Morgade, já que ele não tirava os olhos dela.

DiamanteOnde histórias criam vida. Descubra agora