.Prólogo.

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Exatos 500 anos se passaram após a grande calamidade que devastou o equilíbrio no mundo conhecido.

Os dragões desapareceram, os antigos se esconderam nos confins da terra fugindo da calamidade, as criaturas se isolaram em florestas e desertos e cavernas e montanhas e lagos, para evitar o perigo que os espreitava sem os dragões para protegê-los, os monstros se tornaram mais hostis e violentos e, os humanos presunçosos e arrogantes lutaram entre si por coisas vãs como poder e títulos e terras.

Tudo era um caos, a balança estava quebrada e os primordiais apenas se recolheram em punição por seu erro irreparável. Ele era tudo o que restava para levar o mundo de volta ao equilíbrio e ninguém o ajudaria, afinal tudo isso era inerentemente sua culpa!
Estava na hora de fazer as engrenagens voltar ao trabalho, 500 anos era tempo suficiente de rastejar e lamentar o que perdeu. Agora precisava reparar sua estupidez juvenil, ele suspirou apenas pensando quanto trabalho teria para consertar tudo o que destruiu, as vidas que não poderia trazer de volta e a dor que não podia compensar aqueles que sofreram por seus erros.

Entre o frio congelante com o qual aprendeu a conviver e as correntes que tensionam seus músculos em uma posição desconfortável, ele deixou seu poder fluir, precisava puxar as linhas do destino e torcê-las...

Está na hora de encontrar os herdeiros.

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Floresta ancestral 18 anos antes.

Respirar era difícil, mas precisava continuar, seus braços estavam tão pesados, mas não podia soltar o bebê. Sentia os músculos de suas pernas queimarem por todo o esforço de correr por quilômetros na floresta, sentia tanta dor por fazer esforço enquanto seu corpo ainda estava tão debilitado após dar à luz aos seus bebês, mas não podia parar!

Então correu mesmo quando sentia sua vista turva e quando pareceu que seus pulmões e coração estavam para explodir em seu peito, forçou seu corpo muito além do limite enquanto corria e machucava ainda mais seus pés descalços ao correr na floresta escura.
Podia ouvir os gritos ao longe e quando se permitiu olhar para trás viu as chamas consumindo a cidade de onde está desesperadamente tentando fugir, a cidade que deu suor e sangue para construir, arruinada em uma única noite... Suas vistas também alcançaram aqueles que estão lhe perseguindo incansavelmente.

Precisava se livrar deles!

Não poderia correr para sempre e já nem sabia quantos passos lhe serão permitidos dar antes de desmaiar completamente sem forças.

Podia ouvir a chuva e sentir seu corpo tremer sob o frio congelante de cada gota escorrendo por sua derme e enxergar através da escuridão seus inimigos quando o clarão dos raios lhe permitiu.
Correu e correu entrando em trilhas de arbustos espinhentos e passando entre árvores e grama alta tentando despistar seus perseguidores, sem claro obter sucesso no ato. A pele cortada entre os espinhos ardia com a água da chuva lavando os ferimentos imediatamente, mas a dor permanecia e já não sabia quanto mais de dor seria capaz de aguentar.

Tudo era dor, seu corpo todo dói. Mesmo assim, quando não pode mais correr e quando suas pernas cederam em uma colina ao olhar para trás no momento errado e rolar na lama escorregadia, não desistiu!

Usou seu corpo e braços para proteger o bebê que continuava chorando sem parar, deixou seu corpo ser batido e coberto por arranhões enquanto continuava caído no terreno desconhecido. Terra, lama, folhas e pequenas pedrinhas se prenderam no vestido e capa que costumavam ser brancos, mas não se importou, tudo o que importava era proteger seu único filho.

O instinto materno agora dominava tudo e lhe deu força o bastante para levantar quando chegou bruscamente ao final da ladeira na qual caiu.

Olhou seu bebê precioso com o rostinho vermelho de tanto que chorava e quis chorar como ele, mas não tinha tempo pois do alto os soldados olhavam pra ela com sorrisos cruéis em seu rosto pensando em formas de tortura-la antes de assassinarem brutalmente e talvez fazer o mesmo com seu bebê recém nascido.

Nascido na Tempestade (CHM).Onde histórias criam vida. Descubra agora