.Capítulo 15.

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Quando recobrou os sentidos Erick se viu de volta ao primeiro dia nesse lugar, olhando o quarto como se não tivesse ideia de porque estaria alí, mas diferente da vez anterior, sabia exatamente o que tinha acontecido e isso era motivo suficiente para se sentir infeliz.

Ele tentou, planejou a fuga, esperou o momento perfeito e no fim fracassou espetacularmente.

Repassando a sequência de eventos na cabeça pensou no que poderia ter feito diferente, se isso teria realmente alterado o resultado, e concluir por fim que a fuga podia ter acontecido e por pior que fosse admitir, teria sido pior.

A explosão de poder o descontrole emocional a verdade sombria por trás de seu poder e a origem de seu nascimento que insistiu em ignorar por dias e a triste realidade de que nada pode ser ignorado para sempre. Sua escolha de evitar o assunto quase colocou dezenas de vidas em perigo, seu comportamento infantil teria custado muito.

Chorar como uma criança carente nos braços do homem que causou todos os seus problemas atuais sem uma gota de dignidade e orgulho... O rapaz sentiu uma vontade bastante real de se sufocar com o travesseiro naquele momento, mas em vez de fazer isso Erick respirou fundo e se levantou da cama, olhou ao redor e quase saiu do próprio corpo ao ver a noiva de Peter dormindo em uma cadeira bem ao lado da cama.

Ele precisou de um momento para acreditar em seus olhos e quando o fez se recusou a procurar interpretar o motivo que levou a mulher a estar no quarto dessa forma.

Com cuidado Erick a segurou se perguntando porque no maldito universo ele estava cuidando dessa insuportável, mas colocou em uma posição melhor antes de se arrastar como um bicho preguiça até o banheiro.

Olhou atentamente o reflexo que lhe encarava de volta e, não se reconheceu.... Ser idêntico ao irmão, nem de longe os fazia iguais! O rapaz tocou a superfície fria que o refletia, podia enxergar muito mais do que a aparência exterior.

O brilho em seus olhos de fogo a pele morena e o cabelo bagunçado muito maior do que os seus costumavam ser; ainda estava magro demais e percebia isso nas roupas pouco frouxas no corpo alto e esguio, e também podia ver como os ombros caídos revelavam seu estado de ânimo, a tensão no pescoço por todo o estresse acumulado, era evidente que estava cansado mesmo depois de dormir, pelo que acredita corretamente, foram horas.

A verdade é que Erick não teve tempo de passar por seu luto, não teve tempo de verdadeiramente processar as mudanças em sua vida, não apenas a perda de pessoas queridas, mas a destruição de seu lar, e tudo o que ele teve como certezas a vida inteira. Sonhos, desejos, ambições e seu senso de propósito, tudo foi perdido em uma noite.

Ele não teve tempo de pensar nisso porque tinha vidas que dependiam dele, sua própria sobrevivência estava em jogo e logo depois de se encontrar perdido na escuridão Erick acordou na vida e no corpo de outra pessoa, descobriu verdades as quais não queria saber e não estava pronto para descobrir. Alguém teria realmente feito diferente dele?

Perder o controle, se sentir magoado e exposto, triste se agarrando ao último fragmento de normalidade em sua vida, a natureza sentida sob sua pele até perceber que isso também havia sido tirado dele, por fim fugir para algo do qual verdadeiramente se importava, algo para ter sentido e propósito e aplacar sua culpa por não estar lá por sua família quando eles precisaram, e fracassar vergonhosamente.

Erick queria chorar por suas perdas, e queria voltar desesperado para seu corpo e sua vida, mas não podia fazer isso! Queria gritar e xingar o mundo todo, seu pai, os primordiais, as criaturas e a si mesmo, mas não podia fazer isso! Queria odiar seu irmão por viver essa situação mesmo que não soubesse se era mesmo culpa dele, mas não podia... Não podia fazer absolutamente nada.

Nascido na Tempestade (CHM).Onde histórias criam vida. Descubra agora