Dias atuais...
Sinto a exaustão tomando conta do meu corpo. Começou há horas, mas eu venho forçando meu próprio limite mais e mais.
Eu preciso.
Só o fato de não morar aqui na Academia como a maioria das garotas já me deixa em desvantagem.
Fiz a audição aos 11 anos. Lembro que cheguei a vomitar na noite anterior, tinha certeza de que não iria ser aceita. Mas eu fui. Tento não pensar sobre se o nome Grayson teve alguma influência nisso ou não, mas é impossível. Precisei me esforçar o dobro para alcançar o nível das garotas da minha idade, dançava por horas e horas, todos os dias. Pra me sentir merecedora de estar aqui.
E desde então nunca parei, é necessário para manter o nível que conquistei.
Na época meus pais acharam que eu era muito nova para morar na escola, então fizemos um acordo: eu continuaria em casa, finalizaria os estudos na Thunder Bay Preparatory School e depois que fosse maior de idade, estaria livre para me dedicar 110%
Acho que eles pensaram que seria algo passageiro, que em algum momento eu iria me cansar do ballet e decidir ir para a faculdade. Não que isso não seja uma opção, um diploma de Marymount, em Nova York seria um ótimo começo de carreira.
Mas a questão é que não me cansei. Falta menos de um ano e eu mal posso esperar. Enquanto isso, a rotina vem me matando.
Meu pai costumava me trazer até o conservatório. Ainda não é Nova York, mas a Academia de Ballet de Meridian vêm formando alguns bailarinos brilhantes que trilharam seu caminho até companhias renomadas, e eu pretendo ser um deles.
Mas aos dezesseis ganhei um carro, um Ford Mustang GT branco — com a minha obsessão por Lana na época, era isso ou um Ford del Rey. Ele é lindo, mas nada parecido com o do clipe, mais moderno. Gunnar ficou doido quando viu, ele sim se interessa por carros. Qualquer coisa com engrenagens ou códigos com os quais ele poderá bater cabeça por semanas, Gunnar está dentro.
Para mim não importa muito, se me traz até Meridian está de bom tamanho. A viagem não é longa, menos de uma hora se não fizer paradas. Mesmo assim no começo eu não podia vir sozinha, Gunnar ou Fane me acompanhavam, dependia de quem estava livre. Meu pai só confiava na família.
Agora já virou cotidiano e eles tem suas próprias vidas, não acho justo saírem de sua própria rotina para me escoltar até a cidade e me esperar enquanto ensaio. Um motorista de confiança vinha dirigindo até mais ou menos um ano atrás, quando tirei minha carteira.
Agora tenho a liberdade de vir direto da escola dirigindo, me poupa bastante tempo.
— Quadris para baixo — o homem de meia-idade me alerta ao pé do meu ouvido.
Sr. Geralt foi o diretor do Ballet da cidade de Nova York por vários anos, um calafrio percorre a minha espinha só de pensar em errar perto dele.
Minha coluna dói e estou tão cansada que poderia chorar. Chorar de exaustão. É uma sensação exasperante, mas sempre que isso acontece, ocupo minha mente com imagens minhas no palco, performando coreografias com perfeição. Engulo em seco e me forço a continuar.
Limpo a mente. Fecho os olhos. Dançar com tia Winter é tão mais... livre. Prazeroso. Mas se quero ser uma profissional em uma companhia algum dia, tenho que me adequar às regras.
Quando o treino acaba mal me aguento em pé. Arrumo minha bolsa esportiva e troco as sapatilhas de ponta por sandálias, deixando meus dedos livres.
No corredor me despeço de alguns colegas e sigo andando sentindo meu corpo latejar. Não tenho condições de dirigir até Thunder Bay agora. Desbloqueio o celular, pensando em ligar para minha mãe quando alguém para bem na minha frente, me impedindo de seguir caminho.
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Wind Bird | Devil's Night
Fanfiction𝗜𝗡𝗗𝗜𝗘 Nós crescemos juntos. Costumávamos ser melhores amigos. E eu achava que seríamos para sempre. Mas as coisas mudaram. Ele mudou. Sinto falta do garoto que um dia já foi minha âncora. Sinto raiva do que ele virou. E me odeio ainda mais por...