XIV

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30/05/2022

•pov gina•

Pela primeira vez nesses cinco dias, acordei mais cedo do que Rosa. Fui ao banheiro nas pontas de pés. Fiz a minha higiene pessoal e skin care. Peguei um mufim da sacola do mercado, nós nos preparamos para dormir dias aqui. Descobri ontem quando saimos para jantar que estamos em Detroit, apenas descobri devido ao nome do restaurante "Mario's Pizza: a melhor pizza de Detroit".

Fui obrigada a manter o celular no modo avião, apenas desativo quando saímos de casa, seja juntas ou separadas. É sempre importante informar se os noticiários falam de nós, Rosa suspeita que vai demorar até a informação chegar aqui, afinal estamos há 993km de Nova Iorque. Estou morrendo de tédio, meu novo passatempo é assistir Rosa dormir no sofá.

Ela insistiu em dormir ali. Eu ofereci a cama, mas ela não aceitou. Observo seu peito subir e descer, fico aflita quando não a vejo respirar, por isso peguei a mania de dormir somente depois que ela dorme. Conto suas respirações para ver se está bem. Não conversamos mais sobre o ocorrido, mas sei que está abalada, me lembro da minha primeira morte. Ambas agimos em defesa própria.

Vi sua cabeça mexer, coloquei o fone de ouvido e fingi estar escutando música. Eu ainda a observava pelo canto do olho. Ela levantou, a minha visão do paraíso matinal e noturno; Rosa Diaz de camisão e shortinho. Prendo a respiração para não surtar. Ela vai ao banheiro, nem nota que já acordei. Coloco uma música e fico dançando até ela sair do banheiro. Ela me olha de forma estranha.

- Já acordada?

Olho o relógio: 7h30.

- Pera - eu me toquei. - Pelo o que tudo indica eu estou acordada agora.

Ela revira os olhos e pega uma barrinha da sacola. Já me acostumei à nossa dinâmica, eu falo algo sarcástico e ela revira os olhos, às vezes ela me responde de forma grosseira e eu finjo que me ofendi.

Ela toca as costas, parece com dor.

- Com dor?

- Um pouco.

- Tem certeza que não quer dormir na cama? - coro levemente, sorte que o quarto está semi-iluminado e ela não pode me ver direito. - Eu durmo no sofá, assim revezamos.

- Pode ser.

Ela não me agradece e isso me incomoda um pouco. Eu queria que ela reconhecesse e apreciasse o meu esforço. Eu realmente estou tentando.

- Dormiu bem? - ela perguntou, fui pega de surpresa.

- Sim, você? - percebi a bobagem assim que deixou a minha boca.

- Não, estou dolorida.

Assenti.

- Eu trouxe uma bolsa de remédios, quer um relaxante muscular?

- Por enquanto não, mas obrigada.

Aí está, o reconhecimento.

Os meus dias são iguais, acordo, tomo café da manhã, assisto tv, almoço, assisto mais tv, leio uma revista de fofoca (Rosa me comprou várias), assisto mais tv e durmo. Nós não conversamos muito, puxei muito assunto nos primeiros dias, depois percebi que não daria em lugar algum.

07/06/2022

Rosa me levou a uma lanchonete para jantarmos. O cheiro de óleo velho invadiu meus sentidos, infelizmente, alugamos uma Airbnb afastada por motivos de segurança, o ponto negativo é a ausência de restaurantes decentes ao redor. Devido a nossa situação, não podemos andar de carro, ele está guardado na garagem, intocado desde quando chegamos. Tento manter em mente que da última vez amei o podrão, não sei se hoje será igual, não depois de tocar a mesa gordurosa.

Esfreguei uma mão na outra, na tentativa de tirar o óleo das mãos, isso apenas espalhou. Fiz careta de nojo, Rosa riu de mim, segurei a vontade de sorrir com o meu novo som favorito.

- Vai ao banheiro, eu peço pra você.

- Um x-salada. - pedi, ela assentiu.

Não foi difícil encontrar o banheiro, uma placa de madeira mal pintada indicava o caminho. Lavei as mãos, o banheiro parecia ser o ambiente mais limpo daquele lugar, até mais do que o do Airbnb, aproveitei e utilizei o sanitário. Ouvi alguém entrar para usar as pias.

- Você acha que é ela mesmo?

- Ela está mais acabada, mas sim, acho que é.

Mesmo já tendo dado a descarga, eu fiquei em pé ouvindo a fofoca.

- E a outra é a policial?

Meu estômago revirou. Pode ser qualquer uma, não é ela.

- Rosa Diaz - disse. - Ela é uma gata.

Senti o meu sangue ferver.

- Se controla Kelly, ela é uma assasina.

- Suspeita de assasinato. De qualquer jeito, eu não me importo.

As duas riram. Ouvi passos e o ranger da porta ao abrí-la. Finalmente, sai da divisória e lavei as mãos. Preciso correr e contar para Rosa. Fui até a nossa mesa, ela não estava lá, o pânico tomou conta do meu ser. A batedeira e a tremedeira me dominaram, segurei minhas lágrimas, não, não levaram ela.

- Já peguei pra comer no apê, vamos?

Deixei algumas lágrimas escaparem.

- Não te levaram!

- Do que está falando?

- Te explico no caminho.

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