XXII

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•pov rosa•

Gina morreu no banheiro. Bem, não literalmente. Ela está trancada há uma hora e estou faminta. Pela primeira vez na bati na porta, consegui controlar a minha raiva explosiva.

- Já vou.

Voltei a me sentar no sofá. Ela disse que só trocaria de roupa e iríamos comer. Pela demora, acho que está fazendo a roupa. Passaram-se mais cinco minutos, me levantei para bater na porta novamente. Gina abriu antes que eu chegasse ao banheiro. Ela usava uma blusa preta de gola alta e uma calça jeans. Estava linda.

- Essa blusa é minha?

- Era. Agora é nossa.

- Posso pegar sua roupa emprestada, também?

- Não. O que é seu, é nosso, o que é meu, é meu.

Assenti.

- Faz sentido. - ironizei.

Ela girou.

- Valeu a pena esperar?

- Não.

Ela bateu em mim, eu ri.

- Normalmente, você é linda, agora está bem mais.

Ela sorriu.

- Essa coisa velha aqui? - debochou.

- A blusa é minha, Linetti.

- Amo quando me chama assim.

- É o seu sobrenome.

- Soa sexy na sua voz.

Revirei os olhos.

- Vamos? Estou faminta.

Ela me encarou maliciosa, eu ignorei rindo.

- Espera - parei na porta. - Temos que nos disfarçar?

- Não. As investigações diminuíram. - ela olhou pra mim como se tivesse sido pega no flagra. - Quer dizer, eu acho e só a minha opinião importa.

- Você não está usando o celular, né?

- Não. - ela mentiu e eu fingi acreditar.

Achei um restaurante argentino há 1 km de distância, mesmo estando de noite, preferimos andar para observar o céu estrelado.

- Gosto das estrelas - comentou Gina. - Gosto de coisas brilhantes.

- Você é as duas coisas.

Ela sorriu.

- É, tem razão.

- Eu gosto da lua. - comentei. - A lua está linda hoje.

Parei para observá-la melhor, Gina parou ao meu lado, percebi que me olhava e prendia a respiração. Olhei para ela.

- Tudo bem?

- Sim. Claro. Só com fome. Vamos? Podemos pegar uma com vista para a lua.

Eu assenti. Ela pegou na minha mão, meus dedos suavam, mas mesmo assim, ela os apertou mais forte. É como se faíscas saíssem de nossas mãos, tamanha a eletricidade. Caminhamos em silêncio, observando o redor. A rua estava bem movimentada, alguns nos olhavam torto, mas não nos importamos. Eu fui treinada para o combate corpo a corpo, carrego várias facas e Gina matou vários. Então, acho que estamos seguras.

O restaurante surgiu no meu campo de visão, meu estômago roncou. Possuía uma fachada branca com detalhes azuis e um sol para representar a bandeira argentina. Entramos ainda de mãos dadas. O cheiro de empanadas dominou os meus sentidos, fui levada ao céu e voltei para Terra. Estava com medo de ser um restaurante comandado por não-argentinos.

Fui surpreendida ao saber que o restaurante era de uma família tipicamente argentina. O filho mais novo nos recebeu na entrada, ele nos guiou até uma mesa perto da janela. O mais velho veio receber o nosso pedido, pedi duas empanadas. Gina permitiu que eu escolhesse por ela. Encarei a janela, a lua reluzia no céu.

- Gostei daqui.

Olhei Gina, ela encarava a lua.

- É um ótimo lugar pra um primeiro encontro.

Ela me olhou e sorriu.

- Qual o seu restaurante argentino favorito de Nova Iorque?

Pensei um pouco, ela me olhava curiosa.

- Criollas. É especializado em empanadas.

- Eu acho que você gosta mais de empanadas do que de mim.

- Acho que sim.

Ela fingiu se ofender e eu ri da sua frustração falsa.

- Você não consegue dormir com empanadas.

- Tem razão. Mas, posso comé-las.

Gina me encarou, ficou uns segundos sem falar nada, depois riu.

- Uau. Apenas uau.

Eu ri também. Ela voltou a encarar a lua.

- A lua realmente está linda hoje. - falei encarando-a.

Gina me olhou, encontrando meu olhar. Ela sorriu.

- As estrelas também. - Gina completou.

- Você entendeu a referência?

Ela assentiu.

- Claro, amo filosofia.

Eu tombei minha cabeça, ainda mantendo o contato visual.

- Vi um tik tok. - ela disse me fazendo cair no riso.

A comida chegou, instrui Gina a esperar uns minutos, pois estava muito quente. Ela riu sozinha.

- O que foi?

Ela continuou rindo.

- Somos idiotas.

- Perdão?

Levantei uma sobrancelha.

- Nós sempre falamos por código, porque simplesmente não falamos um "eu te amo". É tão difícil assim?

Eu congelei.

- É muito cedo para eu dizer? Eu te amo, essa é a pior coisa que já ouviu?

Eu apenas a encarei, a expressão confiante de Gina sumiu aos poucos. Ela ameaçou sair da mesa, mas segurei seu braço. Ela me olhou surpresa.

- Faz mais de um mês que estamos juntas, então, diria que não - ela voltou a sentar. - Quer dizer, eu não sei. Não sei se é cedo ou tarde e também não dou a mínima. Eu não te suporto, eu te amo, Gina.

Ela sorriu.

- Uau, que gay.

Eu ri.

- Podemos comer? - ela encarou o prato ansiosa.

- Podemos.

Getaway Car |Dianetti|Onde histórias criam vida. Descubra agora