XVI

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23/06/2022

•pov gina•

- Vou dormir. - Rosa avisou.

- Boa noite.

- Boa noite. - repetiu.

Eu a observei se afastar. Faz quase um mês que somos foragidas, estamos há bastante tempo no Alabama. Desobedeci Rosa e li as matérias sobre nós, eu sou a "atriz que tinha futuro brilhante que infelizmente surtou", esses repórteres são falsos, no começo do ano apontavam que a minha carreira estava estagnada. Rosa é a policial suja que assasinou um inocente. Bem, pelo menos foi isso que as fontes oficiais declararam, a internet está um caos, há boatos que Rosa me sequestrou, convenhamos, seria o contrário.

Os policiais rondaram Nova Iorque inteira e só depois de relatos anônimos foram para Detroit, agora eles perambulam por essa área, estamos mais para baixo da sua busca e esperamos continuar assim. Eu assistia novela mexicana, foi Rosa quem me viciou. Ela tinha o costume de ver com a mãe antes de brigarem. Não imagino como a sua mãe está, evito pensar em como a minha está. Eu e ela somos, eramos, muito próximas e agora sou uma procurada da polícia.

Assim que o capítulo termina, eu mudo para outro canal, onde outra novela começa. Só depois vou me deitar. O sofá está estranhamente gelado, me levanto, acendo a luz para pegar o cobertor e me deparo com uma mancha de vinho. É nesses momentos que me arrependo de beber vinho gelado, Rosa bem que me avisou. Pego o meu travesseiro e cobertor e vou me deitar na mesma cama que Rosa. Fecho os olhos, mas o meu coração está muito acelerado.

Eu fantasio com esse momento desde a primeira noite, nós dividindo uma cama. Eu me viraria e ela estaria me encarando, eu me assustaria com sua presença e ela inventaria uma desculpa boba por estar ali, eu fingiria que acredito. Ela se vira para a parede, eu faço o mesmo, ouço ela virar novamente depois de algum tempo, repito o movimento, nossos olhares se encontram e nos beijamos. Não é o que acontece, primeiro, fui eu quem deitou na cama.

Acordo com a claridade me incomodando, viro para o outro tentando voltar a dormir. Rosa me olha, ela está sentada na beirada da cama.

- Desculpa, eu derrubei vinho e estava muito gelado.

Ela quase salta ao perceber que a peguei encarando, ela tenta agir normalmente.

- Tudo bem.

Ela encosta a cabeça na parede.

- Pode dormir, só estou enrolando para tomar café.

Eu ri.

- Bom dia, Rosa.

- Bom dia, Gina. - ela sussura.

Eu volto a dormir sorrindo. Acordo com um barulho baixo, distante. Me levanto e sigo o som, é choro. Encontro Rosa chorando no chão do banheiro.

- Rosa. - minha voz quase não saiu.

Ela levanta a cabeça assustada.

- O que aconteceu?

Ela bateu a porta na minha cara. Eu fiquei parada, sem saber como agir. Deslizei até o chão e me sentei.

- Estou aqui se precisar.

Jogo kwazy cupcakes no meu celular, a porta se abre, quase caio para trás. Rosa me olha, os olhos vermelhos.

- Perdeu alguma coisa? - disse quando percebeu que eu a encarava.

Balancei a cabeça negativamente. Temho mil respostas mal educadas pra essa pergunta, mas não as usarei com ela nesse estado. Ela continuou me olhando, só então percebi que barrava o caminho, deslizei para o lado. Ela saiu e parou.

- Pode vir se quiser.

Eu me levantei e a segui antes que mudasse de ideia. Me sentei na cama em silêncio. Ela sentou na outra beirada, depois de um longo suspiro, começou a falar:

- Não consigo esquecer o rosto do operador de câmeras. Sua expressão quando o matei. Toda vez que fecho os olhos o vejo. - ela me olhou. - Sei que também vê o seu ex agente, já te ouvi chorar enquanto dormia.

Segurei minha respiração. Será que falo enquanto durmo? Será que ela sabe o que ele fez comigo?

- Foi em legítima defesa.

- Não, eu te defendi antes. Ele iria te atacar, mas eu te salvei.

Fiquei em choque.

- O extintor... - falei pensativa - Ele ia jogar em mim?

Ela deu de ombros.

- O que quer que ele fosse fazer, eu não deixaria.

- Por que não? Seria um problema a menos.

- Não quero que você morra.

Ela corou.

- É meu trabalho.

- Hm.

Olhei para as minhas unhas, o esmalte descascava.

- Sinto muito.

Agora era ela quem estava surpresa.

- Foi culpa minha.

- Cala a boca. - disse, mas não estava zangada. - Fui eu quem o matou, não você.

- Mesmo assim...

Ela me olhou, seus olhos brilharam, não sei se era pelas lágrimas ou por me ver. Com certeza era pelo primeiro motivo.

- Eu escolhi te salvar e não me arrependo.

- Você estava chorando até agora, como pode não se arrepender?

- Eu me arrependo de tê-lo matado, poderia ter deixado ele desacordado, mas não me arrependo de ter fugido com você.

Fui pega de surpresa.

- Você gosta de mim?

- Eu te suporto.

Getaway Car |Dianetti|Onde histórias criam vida. Descubra agora