Liberta-me, Adrien...

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Adrien me fazia rir como ninguém, deixando os problemas bobos da minha cabeça de lado. Quando estamos juntos, tem somente a sua voz e eu, e eu me pergunto se isso é errado ou até mesmo estranho. Esquisito? Há dias que eu preciso de uma distração e o loiro chegou como um cavaleiro de armadura reluzente, traçando o caminho para a liberdade. A minha liberdade? Ou a nossa? Percebi que eu o distraio também, mas de seus problemas reais. Havíamos passado quase a tarde inteira desenvolvendo o trabalho de história, que consistia em uma apresentação de slides de um marco histórico - tiramos a Revolução Francesa - e agora, próximo ao final da tarde, consigo que Adrien me conte mais sobre os seus problemas amorosos. Ele não precisava que eu falasse dos meus, o loiro já estava por dentro de tudo por causa de seu primo. Pergunto-me se deve ser assim ter um caso com o irmão do seu melhor amigo. No meu caso, quase pode ser dito isso. Que tedioso.

"Eu já te disse o que aconteceu." Adrien protestou, cruzando os braços.

"Você falou apenas por alto." Também cruzei os braços, encarando-o com uma sobrancelha arqueada. "Vamos lá! Você sabe o que está acontecendo comigo e nem foi pela minha boca."

O loiro deu um pequeno sorriso que, juro, fez com que eu lembrasse de quando só tinha olhos para ele.

"É o que acontece por você querer se envolver com um parente meu. O parente, não qualquer parente, O parente."

"Posso dizer que foi um delírio coletivo?" Perguntei, bufando. "Não foi... nada sério." Seria libertador dizer essa frase e acreditar nela.

"Kagami não faz bem para a minha saúde mental." Adrien balançou os ombros, escorando a cabeça no encosto do sofá. "Eu achava que fizesse, mas ela é tão centrada no próprio universo, o que a mãe dela criou e eu sei que poderia ser eu assim, mas eu não sou. E eu também estou passando por meses onde só quero ficar longe dos holofotes, nada de saídas desnecessárias, o que ela não aceita bem. Ainda mais porque ela ainda lê mangá tentando pegar dicas de como se relacionar com o namorado. Eu sei que era um pouco distante na primeira vez que tentamos, mas eu tentei mesmo. E na outra vez, me dediquei tanto que chegou a doer. Não me arrependo dos últimos beijos que tivemos, dos encontros, mas isso não é pra mim."

"Compreendo."

Respiramos fundo ao mesmo tempo, ao olhar para o teto, e demos as mãos.

Liberdade é superestimada, mas para mim é um marco.

Eu acredito que qualquer um que se preze consiga alcançar esse estado de espírito.

O loiro nunca foi livre como eu, podendo andar pelas ruas sozinha, mas em contrapartida, ele era mais livre do que eu, podendo viajar a qualquer lugar e falando diversos idiomas. Kagami é semelhante a Adrien, exceto pelo esforço de tentar se encaixar na sociedade - que a japonesa não tem. O loiro teve grandes chances de ser um mesquinho, como Chloé um dia foi, e eu me pergunto o que foi que deu errado. Ou certo? Ele continua sendo uma das melhores pessoas que tive o privilégio de conhecer, ficando em segundo lugar somente por conta de Chat Noir. Se eles fossem a mesma pessoa, Adrien Agreste teria o posto de melhor homem existente para mim. Imagine só? Sinto um arrepio na espinha só de pensar.

Eu duvidei dos meus pensamentos impuros para com meu amigo quando o mesmo mexeu a mão que segura a minha e, ao que consta, ele deve ter sentido o mesmo. Um calor subindo, da minha parte, por meu ventre, chegando até as minhas bochechas. Adrien foi a minha primeira paixão, aquela que fazia meu coração errar a batida e me deixar ansiosa com um possível encontro. Eu pensei tê-lo superado, após os eventos com o seu primo, mas... essa troca de olhares muda tudo. Foi a minha ruína e, mesmo sabendo que estávamos somente tristes com os acontecimentos da vida amorosa, Adrien não hesitou em me puxar para mais perto e eu não pensei duas vezes antes de sentar no seu colo. Quantos anos esperei por esse tocar de lábios? Sete, oito ou mais? E agora sinto a sua excitação pressionando a minha parte íntima, enquanto seguro o seu rosto com ambas as mãos e o loiro trilha, das minhas nádegas até a minha cintura, com as suas mãos firmes.

Nesse momento, fiquei tentada a clamar por Afrodite - culpa de Alya, por gostar tanto dos deuses gregos, faz com que aprendemos junto - ou Vênus, que seja o nome. Gostaria que ela ouvisse a nossa dor e que fizesse eu me apaixonar novamente, mas pela a minha vida e não pelo loiro outra vez. Ou por qualquer homem, seja moreno, loiro ou até ruivo. Voltar a ter gosto pela vida sozinha, sem precisar de um corpo quente para ajudar a me aquecer. Eu também pediria que me libertasse, ensinando-me uma maneira de me deixar sair dessa pequena confusão e ter um bom futuro. Mas, bem, não essa tarde. Porque hoje eu quero ser dele, de Adrien Agreste, nem que seja somente uma única vez. Para o bem do meu ego e para a satisfação pessoal da menina que um dia eu fui.

Outro ponto que foi minha ruína, foi a voz dele, sussurrada no meu ouvido, chamando-me para a sua cama. Eu não poderia dizer outra coisa senão aceitar. O seu toque é leve feito uma pluma e pensei que, caso a comparação fosse permitida, eu diria que me senti no céu, sendo tocada e abraçada pelas nuvens. Não havia outra coisa na minha mente que não fôssemos nós dois e sua cama, local onde descobri que Adrien não era tão pacífico como a sua aparência faz com que achemos. Mas eu também não deixei por isso mesmo, como em uma luta pelo poder, e confesso que me senti satisfeita ao conseguir ficar por cima, deixando uma marca nele para sempre. O loiro está me vendo despida, me provou assim como o provei, então acredito que não tem mais volta. A nossa relação jamais seria a mesma.

Mãos no meu quadril, impulsionando para que eu fosse mais rápido.

Unhas nas suas costas, sempre que ele se permitia ir mais forte e devagar.

Um gemido, baixo, chamando o seu nome.

Você fica mais linda ainda quando goza, Marinette.

O seu gosto nos meus lábios enquanto puxa o meu cabelo para perto e para longe, perto e longe.

O seu olhar intenso, causando a minha ruína.

Mamãe ficaria desapontada, tenho certeza.

Adrien não me levou ao ápice muito rápido, mas quando cheguei lá, pensei que não sairia tão cedo daquele estado. E apesar de ficarmos deitados, comigo de costas e o loiro abraçando a minha cintura, eu não sentia que fosse sua. Nós dois estávamos em uma bela sincronia e foi como uma conquista pessoal, porém... havia o seu primo. Pergunto-me quando conseguirei ser livre para não pensar mais nele. Que tristeza, de fato.

"Preciso ir para casa." Falei para Adrien, após um tempinho deitados e conversando minimamente sobre a rotina de cada um.

"Eu te acompanho até a porta." Cavalheiro eternamente, acredito. Essa está sendo a primeira vez que eu dou para alguém e sou eu quem saio pouco tempo depois, não o contrário. Ao meu ver, parece cômico.

O caminho até a porta da frente nunca foi tão curto, mas estávamos engajados na conversa que eu quase me arrependi de precisar ir embora. Ouvi o pai de Adrien conversando, talvez falando com a secretária ou em ligação? Eu me atentei somente por ouvir a palavra Londres.

Adrien e eu nos abraçamos, sem mencionar o acontecido ou alguma chance de vir acontecer novamente outro dia, e fui para minha casa conversando com Tikki. Ou melhor, ouvindo-a brigar comigo por eu ter sido um pouco irresponsável por deitar com Adrien. Se eu queria um, por que ficar com o outro? Ou, se eu estava carente, por que não apenas assistir filmes até dormir e pronto? Não tiro a razão da kwami de joaninha, ela é sensata o suficiente. Eu não poderia perder uma amizade de anos, mesmo que na maioria desse tempo gastei gostando dele, apenas por termos ficados tristes com a vida amorosa - desastrosa. Mas, não posso negar, a voz dele naquele momento me deixou de pernas bambas.

Ainda bem que Tikki não consegue escutar os meus pensamentos, senão brigaria feio ao saber que, se a oportunidade permitisse, eu me despiria novamente para Adrien.

Ah, Céus.

Um viva a família Graham de Vanily?

Evitando os questionamentos dos outros kwamis, corri para o banheiro e, após um banho quente, joguei-me na cama sem pensar duas vezes. Infelizmente eu acordei cedo, após sonhar com o loiro britânico - onde ele me abraçava e sorria para mim, e quando fiz a minha higiene matinal e peguei no meu celular para revisar as notificações, quase gritei. Arregalei os olhos, pondo uma mão na boca, e neguei com a cabeça. Eu vi as minhas chances com Félix voando para longe, como um pássaro que acabou de encontrar a sua liberdade. E ainda abri o seu último story, uma foto do jardim da Mansão Agreste.

"Eu sei o que vocês fizeram ontem à tarde."

Desafia-me - Miraculous/FelinetteOnde histórias criam vida. Descubra agora