Fragmenta-me, Marinette

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Tínhamos fragmentos de diálogos todas as vezes que nos esbarramos na minha casa e olha que esse estava sendo somente o primeiro dia. Minha mãe me puxou para um lado, ainda, e questionou o modus operandi de nossa heroína preferida. Não que duvidasse dos planos que sempre davam certo no final, longe disso, ela somente gostaria de compreender o que estava havendo aqui. "Um circo montado desse jeito, Marinette Dupain-Cheng, não me parece coincidência." Minha mãe alfinetou, arqueando a sobrancelha. "Mas quero ver no que isso tudo vai dar." Era impossível esconder alguma coisa dela, no fim!

Geralmente as minhas conversas com Félix se resumiam a:

"Bom dia."

"Com licença?"

"Eu sugiro que troque de canal."

"Por favor, você está no meio do caminho."

"Até outro momento."

E os meus favoritos, sarcasticamente falando:

"Agora não, Marinette!" e "Agora não, Félix..."

Se o meu coração havia sido estilhaçado antes, agora nem mais os fragmentos consigo encontrar para me curar. Chega a ser triste, mas infelizmente eu estou sofrendo por nada e tudo ao mesmo tempo. Não lembro de querer, ou gostar, de me meter nesse tipo de confusão - sequer gostar dele tanto assim. Eu pensei ter deixado o romantismo dramático para Rose.

À noite, enquanto eu consertava um lindo vestido da Chloé - que havia rasgado na lateral, ouvi uma batida na minha porta. Pensei ter imaginado, por estar tão focada no vestido, e logo ouvi mais três batidas insistentes. Eu nem precisei fazer sinal para os kwamis se esconderem, já haviam feito e mandei a pessoa apressada entrar. Apesar do loiro ter me visto despida algumas vezes, confesso ter ficado um tanto constrangida ao deixar que me visse com um short curto e um cropped, ambos na cor preta, que eu estou usando para dormir no dia de hoje. Ele não pareceu se importar muito, mas os seus olhos vacilaram um pouco ao olhar o meu quarto. Félix havia, de forma bem chula mesmo, me comido em vários pontos daquele lugar. Convidei-o para sentar-se no banco próximo onde estou e assim o fez, e logo de cara percebi o seu nervosismo. A forma como ele mexeu na gola da sua camisa de manga curta foi o suficiente para mim. Eu não poderia dizer que o conheço muito bem, todavia, notei algumas de suas manias em nossos encontros.

"Podemos conversar?" E eu que estava morrendo de medo que esse dia chegasse, mas concordei com a cabeça.

"Claro."

Félix, diferentemente de Adrien, não é um livro aberto. Eu nunca sei o que acontecerá a seguir, se o mesmo não disser, e acredito que isso deixe as coisas muito mais interessantes. Nós dois nos encaramos por longos segundos em silêncio até que o loiro resolveu iniciar o diálogo.

"Se eu não fosse obrigado a estar aqui, eu não teria procurado você." Disse, de forma sincera, fazendo eu revirar os olhos.

A sua sinceridade, às vezes, me irrita.

"Eu imaginei." Respondi, pensando seriamente que não deixaria que ele fosse o único com a sinceridade ácida. "E eu não iria atrás de você."

O loiro arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

"Você ficou realmente chateada por uma foto?" Colocando dessa forma, faz eu parecer uma idiota por ter me sentido um pouco chateada.

Balancei os ombros.

"Você ficou realmente chateado por eu ter beijado o seu primo?"

Touché.

E sinto que peguei muito pesado.

"Você não só o beijou, como transou com ele. Acho que posso ficar chateado."

"Por quê?"

"Porque tenho sentimentos por você, Marinette." Pisquei algumas vezes, tentando me manter naquela realidade, enquanto evitava demonstrar a tamanha surpresa sentida. Eu suspeitava disso, sim, com certeza, mas não imaginava que Félix me diria de uma forma tão direta. Se eu soubesse que ia ser tão fácil ele me contar o que sente, teria feito Ladybug mandar o loiro dormir na minha casa antes.

Eu segurei a cadeira que estou sentada com mais força.

"Quando pretendia me contar?" Perguntei, quase num sussurro.

Ele balançou os ombros, sem desviar o olhar em momento algum.

"Estou contando agora."

Bufei, revirando os olhos.

"Eu também tenho sentimentos por você, Félix." Confessei, a contragosto. Admitir isso para uma multidão com certeza seria mais fácil do que dizer a ele. "Tem um tempinho já e isso estava acabando comigo, porque mal nos falamos; mal nos vemos e mal frequentamos os mesmos locais." Mordi o la inferior, olhando para o lado. "Se você não tivesse sido forçado a passar essa semana na minha casa, eu não teria contado como me sinto."

"Nem eu teria dito, então estamos quites."

Nos encaramos e demos um sorriso pequeno, mas cúmplice.

Éramos cúmplices um do outro? Somos cúmplices? Eu não sei dizer, mas sinto que não somos somente conhecidos. Félix me viu despida tanto de corpo quanto de alma, porque nunca consegui estar no mesmo lugar que ele e não desabafar sobre parte do que acontece na minha vida. E da parte do loiro, o mesmo. Chega a ser cômico! Quase surreal... que é o 'irmão' do cara, que eu morria de amores quando pequena, que me faz ter emoções indescritíveis. Não, não chega a ser amor. Talvez... ainda não? Eu gosto muito de Félix, somente isso que consigo afirmar, e ele me retribui. Ele sempre me retribuiu, na verdade. Por que nunca paramos para conversar sobre isso antes? Talvez por eu achar que eu tinha Adrien e ele ter Bridgette.

Ah, esqueça.

É muito fácil se apaixonar pelo loiro.

E olhe que ele sempre me deu motivos para que eu não o fizesse.

"É muito fácil se apaixonar por você, Marinette..." Félix sussurrou, inclinando-se para mais perto e tocando a minha bochecha, fazendo um carinho bem vindo, que fez eu inclinar a cabeça para o lado de uma forma quase entregue. "Você dá muitos motivos mesmo que sem querer."

Eu suspirei, mordendo o interior da bochecha, segurando a sua mão para que o carinho fosse interrompido.

"Tudo o que acontecer nessa semana, fica entre nós." Afirmei, incerta, evitando demonstrar o meu nervosismo.

Mas, então, o loiro sorriu para mim.

O sorriso que Félix dá ao me ver ainda é o meu sorriso favorito.

"Por mim, tudo bem." E, então, se inclinou para me beijar.

Eu só podia estar sonhando!

Desafia-me - Miraculous/FelinetteOnde histórias criam vida. Descubra agora