Honor

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É como sentir que seu sangue parou de circular em suas veias. Que todo o seu ar saiu de seus pulmões e eles se tornaram um campo vazio e denso, como uma névoa que impede você de respirar. Perder sempre será doloroso, principalmente se você lutar com todas as suas forças e acreditar em um final feliz. Seus olhos percorrem o ambiente, tenta a todo custo achar um ponto específico para focar, mas suas lágrimas não permitem. Tudo que vê são os tons característicos das cores. Verde e amarelo. Seus pés se movimentam, ele consegue levar o punho fechado esfregando o nariz. Puxa o ar.

Totalmente em vão. Neymar não estava respirando.

Chorar não era o seu estilo, ele aprendeu cedo que, ou levantava a cabeça e encarava tudo e todos, ou seria deixado de lado. Mas chorar era uma necessidade humana, embora ele se negasse a partilhar essa franqueza.

Em sua visão.

Ele não conseguia manter a pose, não enquanto o mundo parecia desmoronar consigo. Neymar era um homem forte, por vezes teve que engolir tudo o que estava sentido. Ele se lembra de cada momento que teve que respirar fundo e deixar que críticas a seu respeito fossem ditas e a ele restasse apenas o silêncio, engolindo a raiva e a tristeza que estava dentro de si.

Naquele momento ele sentia-se como a pessoa mais fraca do mundo.

Seus olhos não enxergavam nada, suas pernas se movimentavam como se estivessem amarradas ao chão com enormes pesos. Ele estava chorando absurdamente, ao ponto de soluçar. Podia ver as camisas quadriculadas de vermelho passando correndo por si em comemoração e as verdes e amarelas caídas ao chão e tristes iguais a ele. Ele não conseguiu, estava tudo perdido. Aquilo pelo qual lutou foi por água abaixo. Ele sentia que ia desmoronar, ou melhor, ele sabia que isso ia acontecer. Suas pernas estavam cedendo, ele ia cair a qualquer momento no chão.

— Ei — É amparado por uma voz baixinha, quase inaudível que o segura com força pela cintura.

Ele respira fundo e abraça o corpo, apoiando seu rosto na curvatura do seu pescoço.

— A gente perdeu, acabou! — Neymar fala arrastado. Soluçando.

— Acabou — A voz confirma o abraçando. Sua visão continua embargada, sem de fato enxergar nada. — Respira, calma.

Neymar não se calma.

Ele leva as mãos até o pescoço da pessoa e depois até seu rosto, segurando pelas duas bochechas. Dani Alves era um de seus alicerces na seleção. Um de seus melhores amigos, o cara que sempre dava conselhos de um irmão mais velho. Ao contrário de Neymar, Daniel não estava chorando. Mantinha em seu rosto a frustração, mas não derramava uma lágrima. Seu olhos claros encaram Neymar de uma forma serena, o dando apoio sem de fato falar nada.

— Nosso sonho terminou. A gente tava quase ganhando. — Neymar fala alto.

— Neymar, já era. Acabou. — Diz Daniel o abraçando de novo. — A dor vai passar. Calma. Só se acalma.

Eles caminham abraçados pelo campo rumo aos demais jogadores do Brasil, embora todos estejam espalhados, alguns permaneceram na marca do pênalti. Ouve-se um barulho alto vindo da arquibancada, gritos e uma tristeza que se mistura com a alegria dos rivais de torcida. Um mar amarelo, verde, vermelho e branco com emoções diferentes entrelaçadas. Os pés de Neymar se arrastam pelo gramado sem pressa, mas de forma constante. Ele não enxergava nada.

Nada além de uma tristeza o consumindo por dentro.

Alguns de seus companheiros o abraçam, mesmo que muitas vezes não consiga retribuir, ficando inerte a tudo que estava acontecendo. Seu coração bate como as batidas de um voo de um beija flor, tornando tudo muito confuso para que ele perceba tudo o que está acontecendo. Ele se lembra de ouvir sua mãe dizer que a tristeza às vezes cega, impede que você tenha atitudes ou sequer perceba os detalhes. Neymar não percebia que seus amigos estavam tão mal ou até pior que ele. Ele não percebia Richarlison de pé chorando, sozinho, olhando com olhos de raiva para o público, uma raiva por si próprio, por ter falhado consigo e com seu país.

Anti-hero | Neymar & Richarlison Onde histórias criam vida. Descubra agora