Eu não sabia para onde estávamos indo, e acredito que Miguel não havia bolado uma ideia de lugar. Estávamos em silêncio há um bom tempo. A última vez que trocamos palavras foi para decidir qual estação de rádio ouviríamos. Eu preferia escutar a rádio do que minhas inúmeras músicas salvas em meu pen drive. Era ótimo ouvir no aleatório, não saber qual seria a próxima música é assustadoramente confortante.
Entretanto, o som estava no baixo, então o silêncio era previsivelmente notado, e acredito que, em poucos minutos, se tornaria bizarro. Miguel normalmente era bom de assunto, ele devia surgir com algum agora.
Mas em meio ao silêncio, pude reparar a vista. Estávamos nos afastando da redondeza, o que me deixava um pouco curioso, mas o vento intruso das duas janelas da frente meio abertas, permitia a estadia durante a viagem ser agradável. Até eu olhar para Miguel e vê-lo levemente carrancudo.
— Como anda os preparativos para a mudança? — Perguntei.
— Um pouco cansativo, mas... é, cansativo é a palavra que resume, você sabe — ele respondeu depois de um tempo, suavizando a expressão e respirando pesado outra vez.
Mas eu não sabia.
Quando tinha 7 anos, me mudei para uma cidadezinha chamada Catonópolis, onde vivo até hoje. Mamãe, Cléo e eu viemos com muito pouco, pois a maior parte das economias de mamãe e de papai fora usada para comprar a casa que moramos. Uma casa um tanto cara, que fazia jus somente pelo fato de ser localizada num dos melhores bairros da cidade. Então nossos vizinhos eram pessoas de "bem" e relativamente levavam uma respeitosa vida de luxo.
Bom, somente havia duas famílias desse pedaço que divergiam do restante: Os Ambrosina (mamãe, Cléo e eu) e a família de Miguel, os Malta. Eles, perfeitamente, levavam uma vida de ainda mais luxo.
No nosso terceiro dia em Catonópolis, numa tarde como qualquer outra, mamãe me autorizou jogar bola no nosso gramado, o que na época era meu melhor passatempo, antes de conhecer as maravilhosas – ou não tão maravilhosas assim – possibilidades de me divertir dentro do quarto o dia inteiro. Durante esta tarde, conheci os Malta, mais precisamente, os dois membros mais famosos da família.
Miguel Malta e seu irmão gêmeo idêntico, Leo.
Sem querer, chutei a bola qual brincava muito forte, que passou pelo portão que eu deixara aberto, então ela desceu umas das ruas. Eu devia tê-la esperado parar e não sair igual doido atrás dela. Inclusive, não cheguei a tempo. Se não fosse por um garoto branquelo, com cabelos pretos como carvão, que parara a bola, receio que estaria em busca dela até hoje. Esse garoto a parou com o pé, e eu estava prestes a gritá-lo, com minha voz rouca, em agradecimento, mas antes que o fizesse, um outro garoto apareceu. Um garoto completamente idêntico ao que segurava a bola com o pé.
Me lembro de ficar espantado, como também me lembro de que eles se divertiram com minha reação.
"— Somos Leo e Miguel." Um deles disse, o que impedira a bola de continuar a percorrer por toda a rua.
Gêmeos, conclui na época. Era lógico. Mas eu nunca havia conhecido gêmeos tão idênticos como eles. Por isso são os membros mais famosos da família, pois além de possuírem assustadoramente a mesma cara, Miguel e Leo são extremamente bonitos, de acordo com qualquer garota da escola ou do bairro, ou das que já os viram na TV. E como se não pudesse faltar, são imensamente ricos.
Naquela tarde que conheci os enigmáticos gêmeos Malta, depois que um deles devolveu minha bola, me virei para ir embora, mas quando cheguei ao final da rua, olhei sobre os ombros, a fim de me certificar que não era uma miragem a presença daqueles seres perfeitamente idênticos. Mas, como para embaralhar a cabeça de uma criança de 7 anos, apenas vi um único garoto pálido, e ele sorrira para mim.
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Adoráveis Garotos - Max Melim
RomanceIan foi uma criança de relativamente muita sorte. Aos sete anos, os caminhos de Ian se cruzaram com dos, extremamente idênticos, gêmeos Malta: Leo e Miguel. Ambos ajudaram o garoto a enfrentar uma nova vida em uma nova cidade, e somente por isso, I...