As horas se passaram numa velocidade alucinante. Com a mesma agilidade que uma das funcionárias dos Malta viera ao quarto de Miguel e executou o nó nas nossas gravatas. Tentei acompanhar a artimanha, mas eram muitas voltas para mim.
Com o tempo, Miguel e eu ouvimos o som do primeiro carro de visitantes. Nós dois já vestíamos nossos ternos – parecíamos outras pessoas –, então decidimos que seria melhor descer. Não foi fácil me fazer esquecer um pouco todas essas sérias dúvidas envolvendo Leo. Sua porta, ainda fechada, fora ainda mais agoniante de se ver, assim que passei por ela novamente.
O jantar – que no momento era resumido há muita bebida cara de gosto ruim, e uns petiscos minúsculos – ocorria num tédio enorme. A calmaria do ambiente, ainda que relativamente cheio, era responsável pelo sono que corria pelas minhas entranhas. Eu poderia me sentar no espaçoso sofá da senhora Malta e dormir até amanhã, se pudesse.
Miguel havia me abandonado, há uns vinte minutos. Eu contei. Não fazia ideia de onde ele poderia estar, mas eu somente queria que ele voltasse logo. Ficar em pé com cara de paisagem no meio de adultos desconhecidos era bem desconfortante, ainda mais sem seu amigo, filho dos donos da festa. Também não tive o alívio de me encontrar com senhor ou senhora Malta – que seriam os únicos adultos com quem eu poderia conversar sem medo de minha timidez e constrangimento atacarem. O falso sorriso dado de mim a todos que passavam do meu lado já doía minhas bochechas.
Então, ela veio. Senhora Malta. Linda como sempre, contudo acredito que desta vez a mãe de Miguel se superara. Ela usava um vestido preto, respeitosamente bem aberto em cima, dando bastante vista ao seu colar de ouro e pedra verde caído sobre o peito. Seu cabelo castanho-claro bem penteado. Não entendo nada de maquiagem, mas, para mim, pareceu mais do que Ok o trabalho feito em sua cara. Senhora Malta caminhava até mim, portando um sorriso que me fez sorrir de volta, de verdade desta vez.
— Oh meu Deus. Ian, você está fantástico! — ela falou tão empolgada que por um segundo acreditei. Sorri sem graça.
— A senhora também está, com todo o respeito — Meu elogio fora deixado de segunda mão. Senhora Malta agarrou meu braço, passando as mãos pelo tecido do terno, juntando mais nossos corpos. Parecia encantada demais.
— Muito obrigada, querido. Um Givenchy, ainda que as pressas, nunca decepciona. Como está se sentindo? — depois de um tempo, seu perfume suave me alcançou. Era ótimo e gritava elegância e doçura. Fiquei um pouco confuso com o que senhora Malta falava, porém sua atenção nítida ao que eu vestia poderia ser uma dica.
— Ahh... a senhora está falando do terno? — Perguntei. Ela riu de minha reação, finalmente olhando para meu rosto. Suas poucas rugas evidentes, porém, continuava radiante. Ela assentiu. — Estou bem, obrigado. E a senh-
Antes que pudesse perguntar, um convidado passou por nós dois, roubando a atenção da senhora Malta. Fiquei uns dez minutos ali, parado, esperando que terminassem a magnífica conversa. Depois que a pessoa desconhecida se fora, senhora Malta voltou-se para mim, escondendo um pouco dos dentes perfeitos de seu último sorriso.
— Eu acho que vou procurar Miguel lá fora. — disse, ela agarrou meu braço outra vez.
— Não, espere! Oto conhece tantas pessoas que fico desorientada às vezes. Me perdoe. Eu vou bem também, muito obrigada por perguntar, Ian. — é assim que a senhora Malta ganhava a todos. — Ian querido, você ficou um charme. Deem um terno a um homem que ele lhe dirás quem és. — Havia mesmo um ditado assim?
Ainda que aja, eu não acho que faça tanto sentido.
— O-obrigado. — ela passou a mão por uma de minhas bochechas, que provavelmente estariam ruborizadas. — A senhora também está... fenomenal. — não sei porquê, mas os outros elogios que estava preparando para este momento me saíram da memória. Senhora Malta riu alto, como se eu tivesse contado a mais hilária das piadas.
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Adoráveis Garotos - Max Melim
RomansaIan foi uma criança de relativamente muita sorte. Aos sete anos, os caminhos de Ian se cruzaram com dos, extremamente idênticos, gêmeos Malta: Leo e Miguel. Ambos ajudaram o garoto a enfrentar uma nova vida em uma nova cidade, e somente por isso, I...