Eu não poderia mais esperar. Depois que ouvira os noticiários relatarem o desaparecimento de Leo, e o incriminando de roubar a própria família, eu precisava conversar com Miguel. Saber se tudo aquilo era de fato verdade, e saber se ele e sua família acreditavam. Também teria que me explicar. Ainda que não fosse minha culpa toda essa história ter vazado a imprensa, Miguel deveria se assegurar que eu lutara para guardar esse segredo.
Mas não era nada confortante lidar com tudo isso como se fosse um segredo, um detalhe que facilmente poderia ser jogado para debaixo do tapete. Leo estava desaparecido, sua família não tinha a menor ideia de onde ele poderia estar, e isso continuaria a ser preocupante, não importa por quanto tempo seu paradeiro seja misterioso. Ainda mais depois daquela íntima e dolorosa carta...
Então apenas troquei de roupa e sai de casa, porém, eu não esperava me ver numa situação tão pior do que aquela.
A mansão estava rodeada de carros e vans de jornais locais famosos, e alguns que eu não reconhecera muito bem. Inúmeras pessoas engravatadas se dispunham pelo gramado da mansão, acompanhadas de enormes câmeras e microfones. Eles pareciam ter montado um acampamento rente a porta principal. Eu estava na calçada, do outro lado da rua, analisando a cena, mordendo os lábios em aflição.
Num momento, encontrei uma mulher me encarando curiosa, então arrastei meu capuz pela cabeça, fazendo o possível para esconder meu rosto. Ela parecia ter me reconhecido, até porque todos aqueles repórteres aparentavam tão dedicados, que é quase absolutamente certo que bisbilhotaram as redes sociais dos Malta, a fim de encontrar conexões para suas suposições. Eles podiam ter encontrado fotos antigas minhas com os gêmeos. Por sorte, a tal mulher, se tivesse montado qualquer teoria na cabeça, a deixara de lado, voltando seu foco a enorme mansão. A rua era uma confusão de carros tentando atravessar a infinidade de pessoas e automóveis estacionados em frente a casa.
Seria impossível que eu entrasse dentro da mansão, porque, ainda que qualquer um que estivesse em seu interior se atrevesse a me dar passagem, não sei se conseguiria passar sem que uns dois jornalistas me acompanhassem. Então, me mantive aguardando qualquer sinal.
Alguns metros de alcançar a casa, antes de ter conhecimento da bagunça que estava o local, mandei uma mensagem para Miguel, anunciando minha ida até ele. Miguel não me respondera, e agora eu sabia o porquê. Devia estar com medo, sei que eu estaria.
Meu celular vibrou de repente em minha mão, o destravei o mais rápido possível, encontrando a notificação de mensagem de um número não identificado. A abri sem muitas expectativas certeiras, porém me sobressaltei ao ler o que estava escrito.
10:58
Desconhecido:
Me encontre na locadora – M
Tudo bem que eu convictamente acreditava ser Miguel quem me enviara o recado. Além da assinatura ao final, outra pista me fizera concluir que era sim ele. Nós dois e Leo vivíamos frequentando a locadora do bairro desde crianças. E continuamos nós três a frequentá-la, alguns tempos depois que locar filmes se tornara ultrapassado. Além do mais, o lugar foi o palco para um desentendimento entre Leo e Miguel. Nunca soube sobre o que discutiram, mas sei que Miguel ficara bastante nervoso. Naquela tarde, Leo se resguardara em casa, enquanto eu e seu irmão voltamos a escolher filmes, como se nada tivesse acontecido.
E a noite de filmes daquela eventualidade acontecera em minha casa, pela primeira vez desde nossa amizade. Sem o trio completo.
Dobrei o quarto e último quarteirão, aliviado por não ver mais nenhuma sombra de vans ou carros suspeitos. Sem câmeras e microfones também. Avistei o prédio da locadora, agora fechado, e por não encontrar Miguel ali, peguei meu celular a fim de mandá-lo uma mensagem. Porém, não precisei. Um assobio me fora ouvido, então me virei na direção de seu som, aonde um carro antiquado, daqueles com um motor tão grosseiro de barulhento, estava estacionado. Miguel, com óculos de sol e um boné, agasalhado numa jaqueta grande, estava no banco do motorista, acenando para mim. Corri até ele.
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Adoráveis Garotos - Max Melim
RomanceIan foi uma criança de relativamente muita sorte. Aos sete anos, os caminhos de Ian se cruzaram com dos, extremamente idênticos, gêmeos Malta: Leo e Miguel. Ambos ajudaram o garoto a enfrentar uma nova vida em uma nova cidade, e somente por isso, I...