Capítulo quinze - Aparte (a mágica da noite que vinha)

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A situação não parecia boa.

Passaram-se horas, e Luccas não soubera mais esconder sua irritação, então ele chamara Leo para conversar em particular. Os dois se enfiaram em uma das portas do pequeno corredor a direita. Eu conseguia ouvir suas vozes, ainda que não entendesse o que diziam. Mas de uma coisa tenho certeza: Luccas estava zangado. Toda vez que ele aumentava o tom de voz, eu escutava Leo abaixar um pouco mais o seu. Como se quisesse abafar a falação.

Eu estava sozinho na sala, encarando meus tênis, agarrado a minha mochila. Parecia estar no meio da discussão dos meus pais, qual eu não podia ouvir por ser muito novo. Mas eu já estava me cansando de esperar.

Mamãe enviara umas três mensagens nesse intervalo, e todas eu ignorei. Não sabia o que dizer quando me perguntava que horas eu voltaria. Retornar a Catanopólis por agora não era nem um pouco atrativo para mim, ainda que, no fundo, eu soubesse que devia. Mas, abandonar tudo isso aqui, mais precisamente Leo, não parecia certo. Me doía um pouco pensar nessa hipótese. E, por mais que eu entendesse aonde tudo entrava em declínio, não me era mais permitido saber o que era justo ou não.

E isso não me preocupava tanto.

No momento, meus tênis eram mais interessantes. Até eu ouvir sua voz ao fundo.

Levantei a cabeça e encontrei Leo em pé, à minha frente. Ele parou ao lado do sofá, me encarando.

— Percebeu que já está perto de escurecer? — Somente a partir de sua pergunta que realmente me preocupei com que horas poderiam ser. Guiei meus olhos para a janela da cozinha, vista pela sala, notando o sol da tarde já se fazer presente.

O tempo passara muito rápido. Devia ser quase seis horas.

— Quer dar uma volta? — Voltei-me para Leo. Em seu pedido não havia nada de mais, eu acredito, mas, ainda assim, estranhei.

— Uma volta? — Não devíamos ficar no apartamento, escondidos?

— Você ainda não conheceu a verdadeira Tipanopólis. A que surge quando a noite é próxima.

— Eu deveria me preocupar?

— Não... Ou talvez.

Ri com sua resposta, o que fez Leo sorrir com os olhos. Eu não lembrava de vê-lo fazer isso nas últimas vezes que nos encontramos.

Quando percebi o silêncio sugestivo, da parte dele, que se iniciou, me levantei.

— O que você trouxe aí? — Leo apontara para minha mochila, que eu humildemente colocava em minhas costas.

Sua repentina curiosidade estava sendo o que mais me intrigava agora. Era como se Leo tivesse virado uma chave. Ele saíra do quarto um novo ele, – mais simpático e risonho – não sabia até onde teria sua presença, entretanto, eu gostava. E odiava ao mesmo tempo, simplesmente pelo fato deste Leo me fazer corar mais vezes possíveis num espaço minúsculo de tempo.

— Nada muito importante.

— Então pode deixá-la aqui, se quiser.

Pensei bem, antes de deitar a mochila no sofá. Voltei-me para Leo, colocando as mãos nos bolsos traseiros das calças. Era meu sinal de inseguridade. Mas o garoto na minha frente não viera até mim, desta vez, para me encabular ou algo do tipo. Esse gostava da minha presença, e me queria descontraído ao seu lado.

Então eu decidi ceder também.

Leo se encaminhara até a porta, pegando sua jaqueta solitária no cabideiro ao lado. Observei-o vestindo a peça com bastante atenção, e eu tinha completa noção que o fazia.

Adoráveis Garotos - Max MelimOnde histórias criam vida. Descubra agora