Capítulo 5

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Enquanto ela seguia para o seu carro, Sam observou Mon através da janela do chalé.

Sam lhe dissera a verdade sobre ter boas lembranças de Jim e do resto do pessoal desde que chegara ao chalé. Mas vinha sendo assombrada por um número ainda maior de lembranças ruins. Não só da morte de Jim, mas de como ela e Freen haviam permitido que a relação delas se deteriorasse. Durante a época da faculdade, fora Jim quem dera um jeito de ajudar as duas irmãs a transformar a competitividade que tinham uma com a outra em afeição. Quando a amiga morrera, foi quase como se a ligação entre Sam e Freen houvesse morrido com ela.

Sam e Freen, a morena se corrigiu. Naquela época, não era Sam. Era chamada simplesmente de Lady Estupidez pelos amigos. Uma mulher comum, uma estudante simples, a tipo de jovem que gostava de festas, filmes e de jogar vôlei no parque.

Mesmo na morte, a velha avó fora capaz de jogar uma irmã contra a outra, determinando que, quem quer que ganhasse o seu primeiro milhão primeiro, ficaria com toda a herança. O que não conseguisse, acabaria sem nada. Quando os advogados leram a estipulação para ela e Freen, Sam fora capaz de imaginar a avó no pós-vida, recostando-se em sua poltrona celestial, esfregando as mãos de alegria e dizendo: "Que o jogo comece".

A princípio, fora mesmo uma espécie de jogo. Freen e Sam haviam feito piadas sobre como irai deixaria a outra comendo poeira. Ambas haviam começado sua própria empresa, e, literalmente, trataram de pôr mãos à obra. Nos primeiros meses se portaram como haviam se portado em todas as outras competições ao longo da vida, fosse em um jogo, por uma nota, ou por uma garota. Depois, pouco a pouco, Sam começou a ganhar vantagem. Um negócio fechado aqui, uma aquisição ali, e o dinheiro começou a se empilhar. Cem mil. Duzentos e cinquenta mil. Meio milhão. Até chegar àquele acordo final que lhe garantiria a vitória.

O problema foi que aquele último acordo fora maculado — sem o conhecimento de Sam — por condutas duvidosas no interior de sua própria empresa. Desconfiada, Freen acusara Sam de trapacear, uma acusação que Sam negara veementemente durante anos. Uma acusação responsável pelo rompimento de relações das duas irmãs. Até que Sam descobriu — na verdade, apenas recentemente — um vira-casaca em sua própria empresa, que jogara ela e Freen uma contra a outra, e, depois, desaparecera com seus ganhos ilícitos. E, embora agora as duas irmãs houvessem se dado conta de que haviam sido passadas para trás — mesmo com a linhas de comunicações agora abertas —, as coisas ainda não estavam lá de todo resolvidas. Tudo bem, Sam havia ajudado a irmã a conquistar a mulher com quem ela mesmo outrora planejara se casar. Que tal ajuda tivesse vindo na forma de um tapa na cara de Freen, fora apenas um bônus. Mas Freen havia se desculpado por ter sido uma idiota, e por não ter se esforçado para manter as linhas de comunicação abertas.

Mas, agora, as linhas estavam abertas. Mesmo que as coisas com Freen ainda não estivessem como deveriam estar. Talvez jamais viessem a ser novamente as garotas de faculdade despreocupadas que Jim as ajudara a ser, mas Sam tinha esperanças de que, pelo menos, poderiam voltar a ser irmãs.

Estava determinada a fazer o possível para que voltassem a ser. Começaria a ligar mais vezes para a irmã e faria um esforço para que se vissem com mais regularidade. Diabos, as duas moravam em São Francisco. Não era necessário nenhum sacrifício tão grande assim para que se vissem com mais frequência.

Mon entrara no seu carro e ligara o motor, e estava olhando por cima do ombro para dar ré. Ela se deteve para esperar um cachorrinho passar antes de acelerar, e, ao fazê-lo, por algum motivo, olhou de novo para a casa. Os olhos dela na mesma hora se encontraram com as de Sam. Mas Mon colocara os óculos escuros, o que tornava impossível ler a sua expressão. Sam ergueu a mão para acenar, e após alguns instantes, Mon imitou o gesto, mas não acenou, e não sorriu, de modo que ogesto deu a impressão de ser mais definitivo do que realmente o era Depois, ela engatou a marcha e pegou a estrada que a levaria de volta para a autoestrada. Sam ficou observando até o carro desaparecer de vista. Depois, ficou mais algum tempo parada diante da janela, olhando para o lugar vazio na estrada onde a vira pela última vez. Lembrando-se de que ainda tinha um bocado de coisas para fazer, inclusive receber outro candidato ao cargo de assistente temporário em algumas horas, Sam decidiu que tinha de começar a trabalhar.

O Despertar do Amor  - AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora