CAPÍTULO V

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notas iniciais:
dropando esse capítulo e saindo correndo 🏃🏻‍♀️ 💨
boa leitura! 🤍



"Faz o não virar talvez, o talvez virando sim... mais ou menos assim."
- Boca Com Boca, Gabriel o Pensador e Nando Reis.


O babyliss foi meu maior aliado no trabalho de fazer com que aquele loiro quase platinado da peruca do meu disfarce ficasse decente.

Assim como Cinderela, tive meu Bibidi-Bobidi-Bu bem rápido. Um scarpin preto bem alto que ficou divino nos meus pés e um vestido vermelho longo bem acentuado, cheio de recortes.

Investigamos mais fundo sobre o evento, e seria um casamento judeu entre um acionista de São Paulo e uma herdeira do Delfim Moreira com 10 anos a menos do que seu noivo. Lindos, jovens e brancos.

Estava designada a falar, em meio à celebração do casal um poema exclusivo, e ao que tudo indicava, Atena, ou Alejandra receberia em torno de U$170K unicamente por essa apresentação de um reiki personalizado. Era muito, muito dinheiro para uma imigrante que recebia vintão por hora de trabalho, muita grana. Grana suficiente para deixá-la encrencada.

A parte de baixo dos meus seios suava sem parar. Pensei 3x em desistir daquilo. Passavam-se as horas e eu havia tido alguma notícia sobre o paradeiro de Stenio. Ele passaria no meu apartamento 40 minutos antes para que eu pudesse colocar as escutas no seu terno e para que chegássemos cedo ao evento granfino.

Ensaiei o texto 10 vezes antes que Stenio chegasse. Eu gostava de apresentações, mas não participava de nenhum recital desde a época de escola, então, o talento estava em crise – como se um dia já tivesse existido.

A campainha da casa tocou e eu gritei com todos os pulmões do meu quarto para que Stenio pudesse entrar na casa. Hoje o ambiente estava mais arrumado, não havia roupas íntimas espalhadas pelo lugar e tampouco Marcos estava por lá.

- Srta. Atena Torremolinos, estou aqui. - Escutei a voz distante de Stenio na sala.

- Um momento, Stenio. - esbravejei.

Prendi os brincos nas orelhas e resolvi desenterrar um antigo perfume que eu sabia que ele adorava: o La Vie est Belle, da Lancôme. Era infantil, não transmitia a energia que eu passava, mas fazia sentido naquela noite. Borrifei o perfume por todo meu corpo, e resolvi sair para a sala seguindo as dicas de boa convivência da Dra. Célia. Duas bolsas, uma creme, outra preta.

Até a sala de estar, há uma passarela de quadros antigos, paredes com estruturas de madeira, e uma visão ampla de quem entra. Eu não tinha muitos móveis espalhados por toda casa, isso ajudava nos dias que eu não voltava sóbria, e ainda, dava a impressão de que o apartamento era maior do que já era. Subi o batente, recebendo uma forte encarada de Stênio até mim, que me ardia, da cabeça aos pés.

- Eu preciso de ajuda. - levantei as duas bolsas até a altura da minha cintura. - o que você acha?

Porra, ele estava ridículo... Ridículo de bonito.

Algo aconteceu no cabelo, talvez um gel. Ou a umidade se dava pela água do banho. O terno preto, com a camisa branca, que mais parecia um marfim, vestia no corpo dele perfeitamente.

Trazia consigo um buquê de rosas vermelho, no mesmo tom do meu vestido. A barba rala, os olhos de diabo e os cabelos grisalhos.
Tudo aquilo deixava Stenio extremamente e insuportavelmente irresistível.
Ele percebeu que eu o encarava demais, mas não pude deixar de notar seu olhar na altura dos meus seios. Assim como eu desviei de uma vergonhosa conversa, ele o fez.

- Hm... a bolsa escura, com certeza. - ele franzia as sobrancelhas. - É um belo vestido. Você tá linda, Helô. Marcos é um homem de sorte.

- Obrigada, eu acho. É um belo terno. Essas flores são para quem?

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