CAPÍTULO XVII

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"E são tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora — mas ainda sei me virar."

– Lanterna dos Afogados, Os Paralamas do Sucesso.

Cambaleei desnorteada até a sala de jantar, pensando no gosto dos lábios de Stenio a todo tempo. Pensando no seu rosto, nos fios grisalhos, e o quanto ele se fazia cada vez mais atraente. Insuportavelmente atraente.

Queria que tal desejo dilacerante fosse feito só da carne, mas não – ali, residia uma morada de sentimentos, ora românticos, ora afetuosos, ora eróticos, que se faziam presentes em cada pequeno detalhe da nossa convivência.

Uma gama de sentimentos, fortes, únicos, e só sentidos por ele.

Devia ser efeito do vinho todo aquele fogo que eu sentia ardendo por dentro de mim, ou podia só ser efeito dele.

Do que ele causava em mim. Ainda estava tentando decidir o que seria aquilo.

Voltando ao ambiente, notei que os cochichos se silenciavam até minha entrada triunfal. Foi o tempo de voltar até a minha cadeira, que a paz terminou. Minha espinha congelou, por todo seu perímetro. Aí vinha uma bomba, das grandes.

— Mas você é cara de pau, hein? - Maitê bebericou a taça de tinto, com um riso irônico no rosto.

— Oi, Maitê Arantes Dias? - respondi, irônica.

— Joga uma água nesse rosto, você tá com o queixo todo vermelho. - Yone complementou. - aproveita pra tirar esse nó do cabelo.

Meu queixo caiu, automaticamente. O bolo do talharim se formou, indo e voltando, na minha garganta. A merda estaria feita, ou pelo menos, parte dela.

— Meu Deus, é verdade!! - elas entraram em frenesi.

— Parem, parem com isso agora. - já tinha começado a me estressar, passando as mãos no meu rosto, no intuito que a vermelhidão da barba de Stenio passasse. - pentelhas.

— Eu sabia. Melhor, eu tinha certeza! Amiga, como você tava escondendo isso, a quanto tempo? - Maitê perguntou, frenética.

— Tá vendo aí ó, foi uma péssima ideia ter chamado vocês aqui. Mal chegaram, e já começou, começou esse circo. - revirei meus olhos com tanta força que previa uma dor de cabeça. Minha voz ia se afinando aos poucos, ao passo que me estressava mais e mais. - vocês tem o quê, 12 anos pra estarem surtando porque duas pessoas se beijaram?

— Para de ser fresca, tá com vergonha de tá se atracando com um homão desses porque, hein? - Yone exclamou, me repreendendo. - devia estar orgulhosa com esse troféu de 1.80.

— Ah, é tão complicado Yone... - franzi meu cenho, fraca demais pra debater.

— Eles tem um histórico pregresso na adolescência, Yonicha. - Maitê gargalhava. - O que hoje é bem irrelevante, diga-se de passagem. Mas conta pra gente, e aí Helô, foi bom?

— Ah. - fiz um muxoxo. - eu e Stenio... sempre fomos compatíveis, em tudo. Menos nas atitudes. Nossos gênios... nunca entraram em consenso.

— Começou... - Maitê revirou as orbes claras, em um gesto claro de desaprovação.

— Isso faz muito tempo, Heloísa. Muda o disco, larga de besteira, vocês eram crianças. - Yone complementou. - Conta a parte boa. Começa contando que ele te abrigou na maior boa vontade, tá te ajudando nesse caso dificílimo, e ainda por cima, foi ele mesmo que mandou aquelas flores LINDAS que estão no centro? Se foi, ele é muito especial. Pra mim, só isso já mostra tudo.

— Foi, foi sim. - sorri, abobada. - a gente... acabou se beijando, naquela tocaia, sabe. Foi confuso, bom, quente... Parecia que o tempo tinha parado, real. Parecia que... só existia nós dois ali. Até esqueci de todas as galinhagens dele.

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