"Quem tem a chave do mistério, não teme tanto medo de amar."– Mais um na Multidão, Erasmo Carlos e Marisa Monte.
— E então... está pronta. Aprovado, Mari? - Stenio acabava de preparar um curativo no meu braço, sendo atentamente observado e orientado por Mari, mesmo tendo feito a milhões de anos atrás o curso de medicina para ser psicanalista.
— Tá, Doutor Stênio. Esqueceu que tem mais aptidão do que nós duas para fazer esse tipo de tarefa? - a garota revirou os olhos, dando um tapa leve no ombro do agora, cunhado, que por algum motivo esqueceu da formação de medicina para exercer a psicanálise.
— Mari, tem certeza que precisa voltar tão cedo? A semana passou num piscar de olhos, e eu só te dei trabalho esse tempo todo. Não é justo.
— Louca, você sofreu um sequestro. É claro que eu ia cuidar de você, sou sua irmã, te amo mais do que tudo nessa vida. - Mari afagou minha testa, e a abracei, sentada na cama, como se meu coração fosse explodir de amor. - Somos só nós duas por nós duas nesse mundo, deixa de neura. Porque você não aproveita, e vai pra Ouro? Tira umas férias dessa loucura, cara. Passa um tempo na casa da Tia Cotinha comigo, com a Guida....
— Vou pensar.
— Vai ser bom pra você, Helô. Depois desse... inferno de Dante que você passou. - Stenio retomou a falar. - Estar com a família é importante também.
— Você iria comigo, Stenio?
Ele ergueu a sobrancelha, e dava seu riso entre os lábios, totalmente envergonhado. — Não sei se aquela cidade estaria preparada para ter nós dois ao mesmo tempo, e agora juntos, aterrorizando cada viela.
— Seria algo explosivo. - roubei um selinho dos lábios em estado de timidez no exato momento.
— Vocês são enjoativos. Mas... deveriam se planejar. – ela desfez o olhar de desaprovamento, cruzando os braços. - ambos.
— Certeza que pegou tudo, Mariana? - ativei o instinto irmã ursa, garantindo que ela havia catado toda e qualquer coisinha que poderia deixar ali no apartamento.
— Peguei, Heloisa. - ela revirou os olhos, como se não aguentasse mais minhas ordens. - Você é muito nervosa.
— Claro que eu sou. - acariciei seu rosto, que recordava tanto o meu, em cada traço, tirando os olhos que eram mais apertados do que os meus, idênticos ao da nossa mãe, e o rosto que também era mais fino, tal como nosso pai. — Queria ir com vocês dois.
— As recomendações médicas já te liberaram, mas as profissionais não. Montenegro ordenou que você só sai desse apartamento quando transferirem a estelionatária do presídio. Nunca se sabe, Heloísa. - Stenio me repreendeu.
— Vou ficar calada, Stênio. - revirei os olhos. - Cuide dela. Mari, vou ir te visitar, fique tranquila. Será mais rápido do que você imagina.
Demos um abraço apertado. Daqueles, estonteantes e cheios de amor.
Devo ter deixado cair alguma lágrima solta no rosto, mas estava tudo bem. As lágrimas não eram de tristeza, eram ressignificadas, de alegria.
— Eu... preciso falar antes com o Stênio. - passei a mão no rosto, secando-o.
— Ok. - sorri tímida para a garota, que saiu de cena do quarto, nos deixando à sós.
Desde que havia voltado do hospital, Stenio insistiu que eu ficasse em seu apartamento, por ser, de acordo com ele, mais próximo do hospital, da fisioterapeuta, e dele.
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Dínamo
RomancePassado, Presente e Futuro. O passado da Delegada Heloísa Sampaio é cheio de histórias pesadas e difíceis de se lidar. Autossuficiente por toda uma vida, a delegada de Homicídios terá que lidar com um caso de polícia complexo e por ela nunca visto...