Parte 5

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O capanga fecha a porta no instante em que entro e, segundos depois, entra para o lugar do condutor em poucos segundos, já estamos em andamento, em direção ao desconhecido.
— Obrigada pela roupa. Não esperava gostar tanto. — agradeço.
Evito o contacto visual, ele deixa-me mesmo agitada. Sou consumida por imensas recordações de ontem, aumentando ainda mais todo este meu estado emocional. Não sei com agir com ele. Não sei se posso mesmo confiar nele ou se cometi um enorme erro ao me entregar a ele, como entreguei.
Inspiro.
Expiro.
Tento acamar-me, mas está demasiado complicado. E o motivo é ELE.
— Não precisas estar nesse conflito emocional. Ninguém te fará mal. — ele quebra o silêncio, obrigando-me a encará-lo.
— Não é de propósito. Afina, não sei nada sobre si, tirando o facto de ser um chefe da Máfia e ter sido contratado para me encontrar. Posso muito bem estar a ser conduzida para o meu fim. — explico.
Encolho os ombros.
Juro que tento controlar esta língua afiada, mas parece que o medo não lhe chega e ela diz o que quer e o que não quer.
Ele gargalha, deixando-me bastante confusa.
— Volto a dizer, ninguém te fará mal. Nem hoje, nem nunca mais!
Engulo em seco.
Tenho a certeza de que o coração falhou uma batida neste instante.
— Quero acreditar nisso, mas não sou capaz. Afinal, o monstro do meu tio contratou-o para me apanhar. E, não tenho a capacidade para não pensar nisto. Porque recorreu à Máfia por minha causa, se não tenho qualquer valor para ele? E depois, porque perdeu tempo a vir até mim pessoalmente... Pode ter-me colocado numa roupa sexy, mas não muda o facto de que, no final, me vai entregar àquela besta e as torturas recomeçarão, até que ganhe coragem para acabar com a minha vida. — explico, a dor a dilacerar-me o peito.
Olho para baixo, evitando olhá-lo nos olhos.
Coloco as mãos nos joelho e fecho os punhos. Concentro-me para não chorar, recuso-me a borrar a maquilhagem. Deu bastante trabalho, para estragar tudo em segundos.
Sinto-lhe a mão quente e grande no queixo, virando-me para o encarar.
Quando os olhares se cruzam, posso apalpar-lhe a desilusão no rosto.
— Lamento que não acredites em mim. Prometo que não te farei mal e não vais voltar a ser torturada. Se alguém se atrever a tentar, garanto que terá a pior morte possível. — há algo no tom de voz que me mostra sinceridade.
Estremeço.
— N-não sei o que dizer. — limito-me a dizer.
— Só tens de sorrir e amar-te. Eu trato do resto! — por alguma razão, estas palavras espetam-se na ferida aberta.
Como posso eu amar-me? Nunca me ensinaram tal coisa.
Antes de poder reagir, Joong Ki corta toda a distância existente entre nós, puxando-me para um beijo longo e delicado. Ficamos assim durante algum tempo, até ele se afastar para recuperar o fôlego. Encosta a testa na minha e posso notar-lhe a respiração quente na cara.
— Porque me beijou, Sr Joong Ki? — indago.
Ele endireita-se, encarando-me com uma sobrancelha arqueada.
— Precisamos estabelecer certas regras entre nós! — diz, enquanto coça a nuca.
— O que quer dizer? — pergunto, confusa.
— Primeiro, vais tratar-me por tu! — começa. Faz uma pausa para respirar fundo, antes de recomeçar o sermão. — Depois, vais tratar-me como tratarias um namorado normal e vais tratar os meus homens como eu os trato. Serão também os teus homens!
Juro que o queixo caiu no chão com o que acabo de ouvir. É mesmo verdade?
— M-mas porquê? Não faz sentido... — digo.
— Porque te vou tornar numa Rainha e dar-te o que te foi negado toda a vida. Este é o peso de te entregares a um chefe da Máfia, meu amor. — afirma, cheio de confiança na voz e no olhar.
Um arrepio percorre-me todo o corpo, quando o oiço chamar-me "meu amor".
— Como pode tratar uma total desconhecida desta forma? Não pode mesmo amar-me, só nos conhecemos desde ontem. Posso não ter conhecimentos sobre o tema, mas acredito que seja preciso bem mais que umas horas de sexo para duas pessoas se amarem. — algo me destrói. Destruo-me com as minhas próprias palavras.
Será por ansiar por este tal de amor? Será por já sentir algo pelo homem a meu lado?
O coração volta a falhar um batimento.
— Não precisas acreditar nas minhas palavras agora. Mas vou provar-te que podes confiar em mim. Depois desta festa, onde serás apresentada como minha futura esposa, terás a minha prova.
Não sei como reagir, por isso, limito-me a ficar em puro silêncio.
Permanecemos assim grande parte da viagem, onde só aprecio toda a paisagem. Estou há demasiado tempo naquela floresta, longe de pessoas, de carros, festas e convívios. Mesmo nunca tendo propriamente frequentado festas antes, mas estou entusiasmada para saber como é uma festa.
Vejo as estradas, vejo as formas das árvores, os carros passar para de onde viemos.
— Posso perguntar-te algo, Adriana? — começa. Porque tem ele que quebrar este silêncio reconfortante?
Viro o rosto na sua direção, acenando-lhe afirmativamente.
— Porque colocaste um casaco por cima do vestido? Foi para esconder a cicatriz? — ele tem mesmo o dom de me abrir as feridas mal saradas.
— Sim, foi. — respondo. — Desculpa, mas não quero receber olhares de pena ou de nojo, por ter marcas de tortura no corpo. Não é algo de que me orgulhe, por isso achei que me podia proteger só um pouco da exposição. Quase morri por causa desta maldita cicatriz.
— Respeito esse receio, minha Rainha. Mas essa cicatriz é bela e a prova do teu valor e força. Se houver uma pessoa que se atreva a desrespeitar-te, a minha ira será o menor dos seus problemas.
Inspiro.
Expiro.
— Porquê eu? Porque me escolheste para esposa? Não tenho nada de especial! O que me destaca de outras mulheres é a falta de amor, as marcas no corpo. As torturas. Estou escondida há demasiado tempo, nem sei se terei jeito para conviver em festas. — explico. Procuro as respostas às perguntas que receava colocar.
Olho-o nos olhos. O olhar parece arder de desejo, o que me confunde. Mas deixa-me ainda mais presa a ele.
— Porquê? Depois desta festa, saberás tudo. Prometo! — responde.
— Tudo bem. Posso esperar. — afirmo, virando a minha atenção para a estrada, do lado exterior do carro.
Alguns minutos depois, o carro passa por um enorme portão de metal e, poucos metros a seguir, o carro para mesmo em frente a uma grande escadaria de pedra branca, que dá acesso a uma mansão tão grande que mais parece um palácio.
As portas do carro abrem-se, abrindo espaço para que possamos sair. Ele aproxima-se de mim, estendendo-me o braço para me apoiar nele.
Fico bastante contente com este gesto de cavalheirismo. Posso habituar-me a isto, se realmente estou com a pessoa certa.
Com a ajuda dele, subimos as escadas sem qualquer dificuldade. Ao contrário do que pensava, até ando consideravelmente bem em cima dos sapatos. Pode ser porque ele não me solta e me dá a devida confiança para não tropeçar. Ou por ter algum talento natural escondido.
No momento em que entramos na mansão, deixo cair o queixo no chão, tal não é o espanto em que me encontro. As paredes brancas aparentam brilhar debaixo das luzes brilhantes, no tecto imensamente alto, exibindo um espantoso abajur de cristal. No centro do corredor, uma escadaria com uma carpete bem vermelha. Ainda mais vermelha que os sapatos que trago calçados.
Sou puxada para a realidade, quando um homem bem vestido se aproxima e se dirige a Joong Ki.


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