Parte final

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Não sei se é do álcool, mas desejo-o em mim. Preciso de beijar-lhe aqueles lábios rosados e quentes, preciso ser dele novamente.
Mais um gole, enquanto continuo a busca, sem sair do lugar onde me deixou.
De repente, um par de mãos abraça-me por trás, fazendo-me saltar e virar-me pronta para esmurrar quem acaba de me tocar.
Felizmente, consigo travar a tempo.
— Oh! — exclamo. — D-desculpa. Não pensei que fosses tu...
— Só podia ser eu. O homem que ousar sequer pensar em tocar-te desta forma, terá a pior morte que me lembrar. — diz, de sorriso no rosto. — Estavas à minha procura, princesa?
Engulo em seco.
— S-sim. — gaguejo.
Bolas! Porque estou eu a ferver da cabeça aos pés? Nem pareço a mesma pessoa que era antes DELE. Que se passa comigo?
— Aqui me tens! — afirma, abrindo os braços.
Aproximo-me dele, envolvendo-o no meu abraço. Como sabe bem estar nestes braços. Como estou viciada neste perfume.
— Quero-te... — sussurro. Não tenho a certeza se me ouve.
— Também te quero, meu amor. — a resposta apanha-me de surpresa. Ergo o rosto, procurando-lhe o olhar.
Os olhares cruzam-se e só vejo fogo, paixão, desejo. Preciso sentir tudo isso em mim.
— Acho que não estou sóbria. Nunca tinha bebido antes. Agora que estou assim, estou meio zonza e o cérebro não colabora. — digo, tentando não gargalhar. Mas não consigo pensar com clareza, especialmente quando me olha desta forma. — Conheci uma senhora simpática, Evelyn. Ela disse que me procuraste por 2 anos para me salvar. Mas não fez muito sentido, foste contratado para me devolver ao meu tio... Já não entendo mais nada.
Afundo o rosto no peito dele, não esperando uma reação sua.
Sinto uma das mãos no encaixe entre o queixo e o pescoço, erguendo-me a cara. Encará-lo faz-me derreter. E não imaginava sequer que seria possível uma pessoa derreter. Não deste jeito.
Por momentos esqueço-me de como se respira. Estou presa naquele olhar tão expressivo e misterioso ao mesmo tempo. Permanecemos imóveis por um longo período de tempo, onde nada mais existia ao nosso redor. Apenas nós os dois.
Inspiro.
Expiro.
— Merda! — exclamo. — Isto não pode ser amor, pois não? Porque não consigo estar longe de ti, mas não se ama alguém que só conhecemos há 24 horas!
— Nunca ouviste falar em amor à primeira vista, princesa? — indaga, com aquele maldito olhar provocativo.
Afirmo com um mero acenar de cabeça.
— Podemos sair daqui? Não aguento este fogo dentro de mim, quero ter-te só para mim. — digo, sem desviar o olhar.
Fervo da cabeça aos pés.
— Tens a certeza que eras virgem, meu amor? — brinca. Novamente aquele maldito sorriso, que me tira as forças das pernas.
— Os lençóis ensanguentados da minha cama podem confirmar isso, não os consegui trocar a tempo... — respondo, devolvendo o olhar provocador.
Ele gargalha.
Volto a afundar a cara no peitoral de Joong Ki, completamente envergonhada comigo mesma.
Um beijo no topo da cabeça faz-me levar o olhar na sua direção.
Merda!
Como ele é belo!
— Consegues aguentar mais uns minutos? Não podemos deixar esta gente ficar, se nos vamos ausentar. — brinca. Entrega-me um sorriso bem rasgado e quase derreto aqui mesmo, uma vez mais.
Aceno afirmativamente, devolvendo-lhe o sorriso.
Sinto-me gelar no instante em que os braços me abandonam a cintura. Sigo-o com o olhar, vendo-o andar até ao ponto central do salão, projetando a voz suave para dar por encerrada a festa.
As pessoas reclamaram por alguns segundos, mas rapidamente se despediram tanto dele como de mim. Um a um, vimo-los sair devagar, desejosos de nos jogarmos nos braços do outro, agora como um casal oficial e verdadeiro.
No momento em que a porta se fecha, descalço os malditos sapatos e respiro fundo. Como sofri com os sapatos nos pés e pensava eu que seriam os olhares na cicatriz que me iriam incomodar mais. Afinal, foram os sapatos.
Tropeço no ar, mas antes de cair, as mãos fortes do meu futuro marido circundam-me a cintura. O corpo ferve de paixão, só com um mero toque.
— O-obrigada. — gaguejo. Tento evitar o contacto visual, mas ele não me permite fugir.
Engulo em seco.
A visão está turva, muito possivelmente devido às bebidas. Endireito o corpo, erguendo uma das mãos até ao rosto que me encara com uma intensidade sufocante. Vejo-o fechar os olhos no instante em que lhe acaricio a face.
— Como eu quero que me ames de verdade! — peço, sem me dar conta de ter falado em voz alta.
Abre os olhos, encarando-me muito seriamente, mas cheio de doçura e ternura no olhar.
Perco as forças pela milésima vez, mas ele não me deixa cair. Em vez disso, corta a distância que ainda havia entre nós. Estamos tão próximos, que quase posso garantir que lhe oiço os batimentos cardíacos.
— Está na hora de te responder a todas as perguntas que me colocaste durante a viagem, meu amor. — diz serenamente. — E, não tens que pedir para te amar verdadeiramente, já amo!
Antes que possa reagir ou responder, pega-me ao colo e começa a subir as escadas sem dificuldade, sem desviar o olhar. Não presto atenção ao caminho percorrido, muito menos aos pormenores do espaço envolvente. Se passa alguma pessoa por nós, não sei.
Quero esconder o rosto, mas não o consigo fazer. Preciso decorar cada detalhe do homem que me carrega nos braços. Receio que tudo não passe de um belo sonho e possa terminar a qualquer segundo.
Alguns segundos a seguir, ele abre uma porta branca, sem nunca me pousar no chão.
O coração bate desenfreado, envergonhando-me.
Oiço a porta fechar atrás de nós, enquanto ele continua a carregar-me, até uma cama 3 vezes maior que a cama da cabana. Pousa-me delicadamente na mesma, ajoelhando-se bem a meus pés.
— Bem-vinda a casa, Adriana. Não tens noção do quanto sonhei com este momento, desde que o teu tio me visitou, há 2 anos, para te encontrar e matar... — começa.
Sou atingida por um enorme sufoco quando ele admite que me procurou para acabar com a minha vida.
Fico sóbria neste instante.
A linha d'água preenche-se, mas esforço-me ao máximo para não chorar à sua frente. Ele tenta colocar uma mão no meu joelho e eu esquivo-me no mesmo segundo, rastejando para o meio da cama.
Como resposta, solta um sonoro suspiro.
— Mereço isso. Afinal, agora acreditas que te quero matar. Mas não é verdade. — explica, esfregando a cana do nariz.
— Então, qual é a verdade? — pergunto. Quero acreditar nele, não sou capaz.
Suspiro.
— É verdade que aquele homem desejava encontrar-te e ver-te morrer. Mas, no momento em que coloquei os olhos na fotografia onde estava o teu rosto coberto de lágrimas e sangue, soube que o teu Destino teria que ser bem diferente. Não mereces chorar, muito menos ser torturada. Não merecias nenhuma dessas cicatrizes ou traumas. — começa o relato. Faz uma pequena pausa para analisar a minha expressão facial.
Faço-lhe sinal para continuar, lutando contra esta dor e vontade de chorar.
— Nessa mesma noite em que ele me visitou, fechei-o numa masmorra escura e fria, onde o visitei todas as noites, para o torturar. Enquanto o fazia, coloquei um grande número de homens à tua procura. — continua, andando de um lado para o outro, em frente à cama.
— Para quê torturá-lo, quando ele te estava a contratar? — tento saber.
A esta altura, já não tenho forças para conter as lágrimas. Observo-lhe no rosto o desejo de me querer consolar, mas não o faz por me ver sofrer por sua causa.
Quero consolá-lo, quando eu é que preciso de consolo. Porquê?
— Porque perdi uma irmã para um monstro como o teu tio, quando era um miúdo... — a dor na voz é demasiado palpável. — Não estou a tentar dizer que te vejo como uma irmã! Na verdade, apaixonei-me por ti, só de ver apenas uma foto. Estranho, não é?
Olha-me nos olhos.
Engulo em seco.
Não sei o que poderei responder. Ele aparenta estar a ser sincero.
— N-não sei o que esperas que responda. Quero acreditar nessa história, porque acho que me estou a apaixonar por ti... Mas agora estou confusa.
As lágrimas não param de cair. Tento esconder a cara com as mãos, mas ele impede-me, segurando-me no queixo.
— Posso ser o chefe de uma grande família da Máfia, mas não sou mentiroso. E também me apaixonei por ti, mesmo antes de te conhecer. Torturei aquele monstro durante meses, enquanto o obrigava a contar-me TUDO sobre ti e sobre os motivos de todas as torturas que te provocou. Ao mesmo tempo, os meus homens procuravam-te sem descanso. — faz nova pausa, para me acariciar a face e limpar uma lágrima teimosa.
O coração falha um batimento, anseio por aqueles lábios tão perto, mas tão longe.
Ergo o braço direito, puxando-o pelo colarinho. Agora, ele está em cima de mim com um ar de confusão estampado naquele rosto perfeito, meu. Faz alguma força, para que não lhe note o peso em mim.
Levo a mão à nuca, entrelaçando os dedos nos fios de cabelo, puxando-o para um beijo.
Rapidamente começamos uma dança frenética e desesperada pelo outro. O beijo dura alguns minutos, só terminando por precisarmos recuperar o fôlego.
— Para que foi isso, princesa? — indaga, enquanto tenta respirar compassadamente.
— Porque te quero! — exclamo. — Quero-te tanto, que me dói ver o sofrimento nesse belo rosto. Não quero saber se foste contratado para me matar. Tiveste a oportunidade de me ver morrer afogada no lago, mas salvaste-me! — explico.
Suspiro.
Ele endireita-se na cama, para me olhar de alto a baixo, uma expressão de pura felicidade.
— Posso perguntar-te algo?
— Tudo! — responde.
— Ele está morto? — tento saber.
— Há 6 meses. Não aguentou mais as torturas e sucumbiu aos ferimentos. — responde, mantendo o contacto visual.
— O-brigada. — digo, por fim.
Estendo-lhe a mão, para que me envolva num abraço. Agora, tenho a certeza de que poderei conhecer a felicidade , ao lado deste homem.
Agora posso ser feliz, sem medo.

FIM


Amor FerozOnde histórias criam vida. Descubra agora