— Boa noite, meu caro! Já estava a ponderar que o anfitrião da festa não ia aparecer. — instintivamente, aperto-lhe um pouco o braço e sei que ele entende o medo que me atinge.
— Não te preocupes, não te vou largar. Nem hoje, nem nunca! — sussurra-me ao ouvido. — Lamento, mas precisei fazer uma pequena paragem. Esta é a Adriana, a minha futura mulher. Por isso, espero que seja tratada como EU sou tratado. — posso notar o tom ameaçador no tom de voz dele.
Intercalo o olhar entre ele e o desconhecido à nossa frente, talvez para perceber qual dos dois cederia primeiro. O desconhecido perde em menos de nada.
Olha-me de alto a baixo, num estado de puro pânico. Ele sabe do que o homem a meu lado é capaz.
— Mas é claro que será bem tratada. Será um enorme prazer servi-la, senhora Adriana. — diz, enquanto me faz uma vénia.
Não sei como reagir a esta vénia.
Isto significa que terei mesmo uma família de mafiosos ao meu dispor?
Quando notam no que se está a passar, todos os olhares se viram para mim. Posso ver os olhares de confusão, por alguém me estar a prestar uma vénia. Estou ainda mais apreensiva neste momento.
Engulo em seco.
Joong Ki solta-se do meu abraço, rodeando-me a cintura, puxando-me assim para mais perto de si. Isso torna esta confusão ainda maior do que já estava.
— Ainda bem que tenho a vossa atenção! Esperava fazer este anúncio no salão, mas faço-o agora mesmo, uma vez que estão a olhar na nossa direção. Apresento-vos a vossa Rainha, a Adriana. Não espero nada menos que todo o vosso respeito e lealdade por ela. Sabem muito bem do que sou capaz, caso algum de vós pense sequer desrespeitar a minha futura mulher! — ele fala alto o suficiente para a voz ecoar pelo grande espaço.
Olho para ele, aterrorizada com a ameaça latente no discurso dado. As pernas parecem pequenas varas verdes, de tanto que tremem. A mão firme pousada na cintura faz uma ligeira pressão e sei o que tenta fazer. Está a pedir para não ter medo, para ser forte e mostrar o rosto a todos os presentes.
A medo, afasto-me um bocado de Joong Ki, que me olha pelo canto do olho, curioso com o passo a seguir. Levo as mãos ao casaco, tirando-o em seguida, expondo deste modo a enorme cicatriz. Como ele me disse durante a viagem, a marca do meu poder, o de sobreviver a incontáveis torturas toda a vida.
Inspiro.
Expiro.
Ganho a devida coragem para ser a Rainha que o meu salvador deseja ter. Este não é mais o momento para fraquejar.
— O meu nome é Adriana! Conto com a vossa hospitalidade e respeito. Já conheço bem o Inferno, por isso posso trazê-lo a quem o quiser! — a voz sai forte e firme, enquanto me esforço para não me verem tremer.
Respiro fundo.
Neste momento, todos os que me encaravam me prestam uma vénia. Viro o rosto para aquele que será o meu marido, o queixo quase cai no chão. Ele também se curvou perante mim!
Fico sem reação para ele.
— Ouviram-na?! — questiona, ao se endireitar. — Se não querem que ela vos mostre o Inferno, sabem o que devem fazer.
Pela primeira vez sei o significado de poder. Mas não sei se o irei alguma vez usar, especialmente contra alguém. Não nasci para magoar os outros.
— Por favor, peço apenas para me chamarem Adriana. Não precisam de formalidades comigo. Não saberia como reagir a outro tipo de nomes ou alcunhas. — peço.
Não tenho a certeza se posso fazer tal pedido, mas agora também já não posso voltar atrás na minha palavra.
Procuro o olhar de desaprovação dele, que me surpreende com um olhar de orgulho e desejo.
Porque será que o coração parece enlouquecer a cada olhar destes? Que sensação estranha é esta? Porque o quero tanto apenas para mim?
Todos concordam, antes de dispersarem e aproveitarem a noite, as bebidas e a comida.
Respiro fundo.
Sigo-o até a um enorme salão, com paredes igualmente brancas, onde as pessoas estão. Algumas conversam entre si, umas bebem, outras aceitam os petiscos que os empregados oferecem à medida que por eles passam. Olho para todo o luxo do espaço, das pessoas. Não me sinto nada confortável no meio de dezenas de pessoas desconhecidas, por isso limito-me a segui-lo por onde ele vá.
Vez ou outra, sorrio e aceno a alguém. Mas estou mesmo desconfortável.
Um empregado passa por mim com uma bandeja cheia de flutes de champanhe. Pego numa antes que este se retire. Pelo canto do olho, reparo que ele também tem uma na mão.
Dou um gole na bebida, arrependendo-me no segundo seguinte.
— Estás bem? — oiço-o indagar, com um tom de voz preocupado.
— S-sim! Só me engasguei com o champanhe. — minto. Na verdade, esta é a primeira vez que bebo uma bebida alcóolica.
— Tens a certeza? — insiste.
— Tenho. — respondo.
Não posso fraquejar agora ou ainda serei motivo de risadas por parte de toda a gente.
Lentamente, lá me vou habituando ao gosto da bebida, controlando ao máximo as expressões faciais. A cada gole, sinto o líquido queimar-me todo o corpo no seu interior.
Um novo empregado passa e agilmente troco o copo vazio por outro cheio.
Bebo uma grande parte do champanhe de um só gole, enquanto observo todos os presentes na festa. Todos aparentam ser pessoas poderosas, com ligação à política, polícia e cargos de grandes importâncias. Ainda assim, todos respondem ao homem a meu lado.
Estou tão distraída, que não noto quando ele me deixa. Quase entro em pânico, mas sinto uma mão pequena e gelada no ombro esquerdo.
Dou um salto de susto.
Olho nessa direção, dando de cara com uma senhora com cabelo grisalho, olhos enormes e verdes, uns lábios impecavelmente pintados de vermelho.
Assim que os olhares se encontram, ela entrega-me um enorme sorriso. Quase como se me conhecesse desde sempre.
Devolvo-lhe o sorriso.
— Boa noite. — cumprimento-a educadamente.
— Boa noite. O meu nome é Evelyn e estou ao seu dispor, menina. — responde, sem perder o sorriso caloroso. — Como é maravilhoso conhecê-la finalmente. O menino procurou-a durante 2 anos, para a salvar. Já perdera a esperança, até ele ter entrado consigo na mansão!
— Desculpe, o que disse? — questiono.
Salvar-me? O que quis ela dizer com isto?
Termino o restante do champanhe de um só gole, ansiosa. Estou tremendamente confusa com esta descoberta. Se foi contratado pelo meu tio, porque disse ela que Joong Ki me queria salvar?
— Lamento. Acho que já falei demais. Só queria dizer-lhe que será um prazer servi-la. Seja bem-vinda. — e, antes que tentasse questioná-la, vai embora, deixando-me neste sufoco, sem entender o que realmente se passa aqui. Comigo.
Quando mais um empregado passa com bebidas, não hesito em pegar num copo baixo e largo com uma bebida acastanhada, que julgo ser Whiskey.
Dou um enorme gole na bebida, não me incomodando com o ardor que me percorre no interior.
Olho em todo o lado. Procuro-o em cada rosto que encontro. Não o encontro em nenhum.
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Amor Feroz
Short StoryEle é um mafioso coreano, que a procura há 2 anos. Quando a encontra, as coisas desenvolvem-se rápido! Ela, vive escondida de um tio que a torturou grande parte da vida, numa cabana remota, perto de um lago. Quando ele aparece onde ela está, a ponde...