11. Hope

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Hope

A cena é inacreditável e hilária.

Eu sei que encorajei o Liam a ir falar com o Steven, mas eu estava zoando. Tipo, eu queria que ele fosse falar com o cara pra ele passar vergonha, mas eles estão se comendo faz meia hora. E por se comendo, eu quero dizer se comendo. Eles deveriam alugar algum quarto no hotel mais próximo.

Liam voltou depois de muito, muito tempo, o rosto vermelho, cabelos bagunçados, roupas amassadas, boca rosada e inchada. Se sentou ao meu lado no bar, encostou os cotovelos na mesa e descansou a cabeça nas mãos. Não consigo parar de sorrir maroto pra ele.

"Então... Funcionou?" A irônia é tão grande que posso pegá-la no ar.

"Eu acho que ninguém nunca me beijou assim." Liam me encarou, surpreso com a própria frase. "Acho que eu nem sabia que se podia beijar assim. Ai, meu Deus, eu vou matar o Marcus."

"Ele te deixou com estresse pós-traumático. Me diga, ele tinha bafo?"

"Marcus? Provavelmente."

"Sinto pena dele."

"Eu não."

Acabei gargalhando, Liam é a pessoa mais adorável desse mundo, odeio ele. Beijei sua bochecha. "Você é a coisa mais lamentável que eu conheço."

"Que nós conhecemos. Meu Deus, como pude pensar algum dia que não ia gostar de beijar meninos?"

"A maior pergunta da nossa época. Pelo menos descobriu a tempo."

"A tempo?"

"É, antes de namorar a Julia, se casar com a Julia, ter filhos com a Julia e nunca mais beijar nenhum menino. Ou menina. Ou qualquer pessoa." Liam só ficou me encarando. Ri de novo. A criatura mais lamentável que eu conheço. "O que? Se assustou?"

"Não, é só que... Não."

"Hmm..."

"Só para, vamos beber."

"Tá bom..."

Liam pediu mais duas bebidas pra gente, e eu chequei meu celular. São duas da manhã. Entrei em meu instagram para postar um stories meu com o Liam, e um vídeo do James dançando Ride or Die apareceu na página principal. James é o menino mais talentoso que eu conheço. Sorri e dei um tapinha em Liam, que esperou eu falar algo, mas apenas mostrei a tela. Não dá para ouvir muito - não dá para ouvir nada -, mas a dança está impecável.

"Meu Deus." Liam ditou, exasperado, orgulhoso. É o nosso James. O mais novo do nosso grupo de primos-amigos.

"Precisamos ir logo." Disse, ele me encarou. "James queria falar comigo."

Liam assentiu. "Ele anda estranho esses dias."

"Ele gosta do Jaymes." Liam pareceu muito mais surpreso do que deveria. "Você é muito lerdo."

"Você tem certeza disso?" Assenti. "Por que?"

"A maneira que ele olha para o Jaymes. É a mesma maneira que o Jaymes olha para você. E que você olha para a Julia." Liam ficou me encarando.

Tudo aquilo era merda. Mas era verdade.

James estava apaixonado pelo Jaymes, que estava apaixonado pelo Liam, que estava apaixonado pela Julia, que não está apaixonada por ninguém.

Mas ainda não posso chegar nessa parte para o Liam.

Vou deixar ele na euforia da recém descoberta bi/pan/tanto faz sexualidade dele por alguns dias antes de chegar nesse assunto.

"Mas tanto faaaaz." Ditei alto, guardando o celular e bebendo minha vodka de uma vez só. Santo Deus. "Vamos dançar mais um pouco antes de ir embora."

"Sim." Liam também bebeu tudo de uma vez e sua cara era de Santo Deus. "Sim, por favor."

Peguei em sua mão para lhe levar por entre as pessoas, lhe girei quando chegamos na pista, ele sorriu, e eu o beijei, e ele me beijou de volta, porque Liam é a única pessoa que eu gosto de beijar, mesmo que ele seja literalmente a pessoa mais platônica que existe no mundo pra mim, talvez por causa disso, é terrivelmente confortável de o fazer.

"Ah. Meu. Deus." Começou a tocar kpop, o que é... Algo. Liam fechou os olhos, começando a dançar loucamente. Brand New. Nós amamos essa. "HEY PUT YOUR HANDS UP." Também dancei loucamente. Estou bêbado. Está tocando Xiumin. Realmente não sou eu mesmo no momento. Liam saiu dançando por entre as pessoas, cantando um coreano terrível e errado, eu gargalhei indo atrás dele. Ele segurou o ombro de um cara e cantou pra ele, tudo errado, ainda, então fez com outro, e com outro, acho que vou passar mal.

Não há nada melhor do que esse cara bêbado.

A gente disse que ia embora logo, mas na realidade, fomos embora depois das quatro. Liam se apoiava em mim, o que era um erro, porque eu também estava podre de bêbada. Ele ligou para o Peter, mas foi meu irmão que atendeu.

"Ai, porra, pai errado." Ele disse, a voz embargada. Ouvi Pedro histérico do outro lado. "Pode passar para o pai Peter? Pai... Tá. Tá. A gente precisa de carona." Meu irmão estava falando mais alguma coisa. Ele fala alto pra cacete. "Eu sei... Eu sei... Pai, eu sei de tudo isso. Eu vim com o carro, mas bebi muito. Sim, eu sei que quando saio com o carro não posso beber nada. A gente tá bem. Não. Não fomos assediados. A Hope tá bem, tá bem. Eu sei que não confia em Uber. Podem vir ou não?" Eu estava rindo do lado dele, mas Liam estava sério.

Ele se irrita com o Pedro, o que é justo, porque ter Pedro como irmão é porra, mas ter Pedro como pai deve ser porra, cacete, caralho, nem consigo imaginar. Mas Pedro não está errado hoje. Ou exagerando. São quatro da manhã e mal paramos em pé com o quanto estamos bêbados. Lhe dou esse crédito.

Foram quinze minutos até Pedro e Peter chegarem. Liam pediu para ir no carro com o Peter, mas Pedro se negou, ele ouviria algum sermão sobre ter responsabilidade ao sair dirigindo. Eles foram no carro do Liam, e Peter me levou para a minha casa em sua minivan.

"Foi uma boa noite?" Ele perguntou, assenti. "Que bom." Eu não converso muito com o meu cunhado, tipo, nunca. Foram as únicas palavras que trocamos até eu chegar em casa.

Meus pais estavam na porta, me esperando. Todos eles são tão protetores. Pedro, Peter, Jonathan, Yousef, Claire, Theo, Henry, Cristopher, Miles. Todos eles são assim.

Peter me acompanhou até a entrada da casa. A gente não conversa, nunca, mas eu amo ele. Gosto do jeito dele. Da sua energia. Me lembra o Liam.

"Está entregue." Ele disse, meus pais beijaram minha bochecha um de cada vez.

"Muito obrigado, Peter." Pai Miles ditou, agradecido.

"A próxima vez é a gente?" Cristopher indagou. Eles tem uma escala de quem vai buscar eu e o Liam na balada, pra não pesar pra ninguém.

"Sim. Boa sorte com isso." Peter deu um aperto suave no ombro do meu pai, que riu, então beijou sua bochecha. Eles tem uma relação de pai e filho, o que é fofo também.

"Boa noite." Miles disse. "Se cuida pra voltar."

Peter assentiu, beijou a bochecha de Cristopher e piscou para mim, voltando ao carro. Esperamos ele dar partida para entrarmos na casa.

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