16. Hope

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Eu vou matar a Julia.

Eu sempre me perguntava por que ela estava com o Liam se não estava apaixonada por ele. Isso é sequer algo que se faça? Não é algo justo. Eu amo ela, mas isso não é algo que se faça.

Ela veio na minha casa, logo após a conversa deles. Está com a mesma camiseta amarela e a jardineira jeans, roendo as unhas, as pernas cruzadas em cima de minha cama de casal. Eu estou em uma cadeira, em frente a escrivaninha ao lado da cama, fico girando e girando, tentando encontrar uma maneira de iniciar essa conversa com ela.

"Por que?" Não consegui pensar em nada, ela me encara. "Se você não gostava dele... Por que? Eu não entendo."

"Eu gosto dele, só..." Julia passou as mãos pelos cabelos loiros. É irritante o quanto ela consegue ser bonita, mesmo apreensiva. "Eu amo ele. Eu realmente amo ele, mas não me sinto atraída por ele. Ele é tipo... Um irmão, eu acho."

"Eu tenho que fazer você parar."

"Hope..."

"Não, Julia, por Deus." Girei a cadeira novamente, várias vezes. "Só... Não."

Estou com muita raiva. Eu estou tipo, possesso. Eu disse milhares de vezes para ela que isso não daria certo, que ela deveria ter sido honesta com o Liam desde o primeiro dia em que ele disse que gostava dela. E eu disse que eu não poderia ser quem iria contar a verdade pra ele porque, um, ele não iria acreditar, e dois, iria doer ainda mais ouvir por outra pessoa que não fosse ela - caso ele acreditasse.

"Agora vocês dois vão me odiar?" Odeio o tom da sua voz. Ela está triste. Está preocupada. Mas estou com raiva, e não consigo disfarçar.

"Como se fosse possível a gente te odiar." Continuava girando na cadeira. Parei de frente para ela, fechei os olhos e respirei fundo antes de encará-la. "Isso é uma merda."

"É." Ela fez um pequeno biquinho, então olhou para as próprias pernas, começando a brincar com um fio solto de seu macacão. "É uma merda."

Me levantei da cadeira e andei até ela, se sentando ao seu lado. Odeio essa situação. Eu amo ela. E eu amo o Liam. Eu não posso escolher um lado. Eu preciso escolher um lado? As coisas vão mudar agora? Não vai mais ser nós três, vai? Lhe abracei de lado, ela encostou a cabeça em meu ombro.

"Você vai continuar sendo meu amigo?" Julia pergunta.

"Me sinto muito desconfortável com essa pergunta." Porque a resposta é óbvia: é claro que sim.

"Por favor, Hope. Eu não quero ficar sem vocês dois, e o Liam não vai mais ser meu amigo, eu sei que não."

"Ainda não entendo..."

"Eu queria gostar dele." Julia disse. "Eu pensei que ia ser fácil. Ele é o Liam." Ele é o Liam. Ele é o Liam. Ele andaria no fogo por ela. Nunca vou entender. "As coisas vão mudar. Eu não queria isso. Por isso eu..." Ela se afastou, me olhou nos olhos. "Por isso quis tentar com ele. Não queria dizer não. Mas acho que teria sido mais fácil se eu tivesse dito não. Não teríamos memórias agora."

"Pois é..." Suspirei, não sabia o que fazer. "Só... Esquece. Já foi. Temos que superar isso agora. Não podemos voltar no tempo."

"Ele não vai mais ser meu amigo."

"Eu duvido muito disso."

"Você não viu o rosto dele." Eu não queria ter visto, realmente, me dói de imaginar. "Ele ficou tão magoado. Eu magoei ele." Julia começou a chorar, lhe abracei outra vez. "Não posso acreditar que fiz isso." Eu não posso acreditar que ela fez isso. Por que as pessoas são tão complicadas? Nem sequer sei o que falar pra ela. E com certeza não sei o que vou falar para o Liam.

Ela foi embora depois de chorar muito nos meus braços, e eu mandei uma mensagem para o Liam depois. E duas. E três. E dez. E muitas, muitas mensagens. Ele demorou pra responder, era noite quando o fez.

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estou com o steven

Senti ciúmes, porque eu sou o melhor amigo dele, ele deveria ter vindo falar diretamente comigo.

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a julia já foi?

É, por isso ele não veio falar comigo. Faz sentido. Eu nem lhe disse que ela estava aqui, mas era meio óbvio.

eu
vocês não vão mais ser amigos?

Não sei por que foi a primeira coisa que pensei, mas me preocupo com isso, e meu coração aperta em ansiedade da resposta.

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eu não sei

Eu não posso julgar. Não sei o que faria no lugar dele.

O resto do dia passou. É sexta-feira, então meu irmão e minha irmã mais velha vão vir jantar aqui em casa, sem os maridos e sem os filhos, só eles, como se fossemos uma família que nunca se separou. Eu pessoalmente gosto disso. As conversas são diferentes quando estamos só nós. Nós também temos o dia em que eles vem com a família toda, geralmente é aos domingos - mas também é bom, também tem conversas diferentes.

Depois do jantar, subo ao meu quarto e meu irmão me segue sem nenhum tipo de rodeio. Ele quer conversar comigo sobre o assunto de ser gênero-fluido, e eu agradeço profundamente por ele se interessar tanto por isso. Assim que entramos, ele fecha a porta, cruza os braços em frente a mesma.

"Em que pé estamos?"

"Ah..." Pensei, bufei levemente. "Eu não sei. Olha... Lembra que aquele dia eu disse ser só menino? Acho que não. Eu gosto de ser menina as vezes. Não sei. Não sei!"

"Ok." Ele não parece surpreso. Aliás, é irritante o quanto ele parece entender do que estou falando.

"Eu acho que só... Sou mais menino, mas não totalmente...?" A hesitação fez soar como pergunta.

"Entendo."

"Eu sei." Suspirei. Me sinto idiota.

"Você não é idiota." Ele lê mentes agora?

"Não falei isso."

"Eu leio mentes." Odeio ele.

Virei os olhos, então sorri. "Obrigado. De verdade."

"Por ser seu irmão? Eu não escolhi isso." É, definitivamente odeio ele.

Pedro sorriu, seu sorriso é tão bonito que faz meu coração doer. Acho que ele é a pessoa que mais amo no mundo.

"Você está bem?" Perguntei, porque sempre é ele quem me pergunta.

"Claro. Sempre. Eu sempre estou bem."

"Isso é o que alguém que não está bem falaria."

"Eu realmente estou." Ele sorriu novamente, e pareceu honesto. "Realmente estou, maninho." Pedro bateu continência em dois dedos, então abriu a porta. Eu sorri. "Me chama se precisar de algo."

"Pode deixar."

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