24. Liam

9 1 34
                                    

Julia apareceu antes do almoço do ano novo.

Ela trouxe uvas e estava com um vestidinho curto e branco que brilhava dependendo da luz. "Vou passar na minha tia." Ditou, eu assenti. Julia me entregou as uvas. "Quer fazer o ritual?"

Todo primeiro dia do ano, eu, Julia e Hope enfiamos uma quantidade absurda de uvas em nossas bocas, para dar sorte no ano seguinte. Essa tradição não existe, é claro. É algo nosso. E não faz sentido. Mas é importante. Talvez até mais importante por ser algo só nosso e que não faz sentido.

"Tá." Disse, Julia sorriu. Meu coração dói tanto que posso morrer.

Fomos até meu quarto. Hope já estava lá. Ela pulou da cama ao ver Julia. Ficou simplesmente radiante. Elas se abraçaram. Nos sentamos em minha cama. Julia abriu a caixa de uvas. Já estavam lavadas. Fechamos os olhos e fizemos um pedido silencioso. (Eu pedi para Julia me amar.) Então começamos a devorar as uvas. Nós rimos muito enquanto o fazemos, porque nossas bochechas ficam gigantes e nos engasgamos por rir e acabamos rindo mais ainda. Após terminarmos, Hope apertou meu ombro e saiu do quarto, fechando a porta. Julia me encarava. Então ela pegou minha mão. Eu respirei fundo, encostei o rosto em seu ombro.

"Tem alguma chance?" Perguntei.

A voz de Julia soou quebrada. "Acho que não."

Respirei fundo outra vez. Não iria chorar. "Ok."

"Realmente sinto muito."

"Não é sua culpa."

"Eu te amo muito, Liam." Julia disse. "Você foi a primeira pessoa a me chamar pelo pronome feminino. Você foi a pessoa que mais apoiou no mundo inteiro na fase mais difícil da minha vida e nós éramos apenas crianças. Eu te amo muito, eu só... Eu acho que confundi esse amor."

Doía ouvir aquilo. Doía saber que ela me amava só como um amigo.

Mas pelo menos ela me amava.

"Ainda somos amigos?" Sua voz estava tão quebrada.

Doía para caralho. "Sempre." Me desencostei de seu ombro, olhando em seus olhos. "Pra sempre. Vai ficar estranho um tempo, mas vai voltar ao normal. Prometo."

Julia assentiu. "Tá." Seus olhos estavam marejados.

"Só... Posso te dar um último beijo?"

Julia sorriu, triste. "Claro." Nós rimos, mas não achamos engraçado. "Você beija bem."

Eu me aproximei de seu rosto, toquei seus cabelos e as linhas do rosto. Encostei nossos narizes, então lhe dei um beijo suave. E então um beijo desesperado, porque era o último e eu estava despedaçado e desesperado. Minhas mãos correram por toda as suas costas, que estavam a mostra porque o vestido era de tiras amarradas na parte de trás. Eu apertei, e apertei, e Julia ofegou contra minha boca e eu só conseguia pensar por que caralhos a gente não pode dar certo? O que tem de tão errado comigo que ela não consegue me ver como mais do que um amigo?

Julia subiu em meu colo. Foi insano. Nunca tínhamos nos beijado daquele jeito. Ela rebolou de verdade em mim. E minhas mãos encaixavam tão bem nas pernas dela. Ela rebolou. Então suas mãos estavam em mim, em partes que nunca estiveram antes. Ela abriu minha calça, e seu vestido era muito curto e eu apenas o puxei para cima. Julia me beijou, as mãos lá em baixo, me provocando. Acabei gemendo contra sua boca.

"Julia..." Eu queria fazer aquilo, mas parecia errado. "Eu sou virgem."

Ela me encarou, seus cabelos estavam uma bagunça e seu rosto esbanjava tesão. "Eu sei."

Eu suspirei. Eu queria fazer aquilo. Mas não queria fazer aquilo. Não queria. Não daquele jeito. Era humilhante demais. "Não posso fazer desse jeito." Arrumei seus cabelos. Julia parecia desapontada. "Amo você e é... Humilhante fazer isso desse jeito."

Julia pensou por alguns segundos. "É. Não. Sim. Eu entendo."

"Você entende?"

"É." Ela disse, se levantando, puxou seu vestido para baixo. "É sua primeira vez." Julia estava tranquila. E senti alívio.

"Eu queria que fosse com você." Disse, ela esperou. "Mas só se você gostasse de mim também."

"Quer que sua primeira vez seja com alguém especial?" Julia indagou, eu assenti, não estava com vergonha, era verdade. "Você vai encontrar, Liam." Ela sorriu. "Você é uma ótima pessoa. E você vai ser muito bom de cama. Posso dizer pela sua pegada."

Meu ego inflou um pouquinho. "Sério?" Tentei conter um sorriso.

Julia não conteu. Ela sorriu. Então beijou minha testa. "Sim, Liam. Com certeza." Ela andou até a saída do quarto. "Nos vemos por aí?"

"Sim."

"Até." Julia abriu a porta, dei um tchauzinho, e ela saiu.

Meu coração doía. Ele iria doer por muito tempo. Mas pelo menos éramos amigos, e eu poderia suportar isso. Suportei isso por anos. E eu estava me mudando para a Califórnia. As coisas ficariam diferentes.

Califórnia.

Preciso fugir daqui.

Eu preciso da Califórnia.

YOUNG BLOODOnde histórias criam vida. Descubra agora