Ruggero

Participar de festas com pessoas que sempre trataram minha família como lixo não é minha ideia de diversão, ainda mais depois do dia infernal que tive hoje

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Participar de festas com pessoas que sempre trataram minha
família como lixo não é minha ideia de diversão, ainda mais depois
do dia infernal que tive hoje. Mas por Mattia, decidi fazer o sacrifício.
Aperto o celular com força, por um instante desejando que
fosse o pescoço do miserável cuja participação na minha vida são
os cinco minutos de contribuição genética quando me conceberam:
Bruno pasquarelli
.
O homem que mesmo depois de ter matado um por um os
sonhos da minha mãe, ela não consegue virar as costas.
A notícia que acabo de receber mudará o rumo da nossa
família. E o pior: terei que guardar segredo como prometi, mesmo
odiando mentiras.

Fecho os olhos por um instante, tentando imaginar o futuro.
Nada jamais será igual.
Afasto a queimação que me envenena por dentro.
Até em uma hora decisiva de sua vida, ela o escolhe ao invés
dos filhos.
Ao menos por essa noite, não quero pensar que enquanto
aquele miserável traidor continuará se divertindo com todas as
outras amantes que eu sei que tem, a vida da minha mãe talvez
será regida por um maldito relógio. Uma contagem regressiva até
que nos deixe.
Quando eu achei que as coisas começavam a se encaminhar
para a normalidade, vem o destino e diz: foda-se você, ainda temos
muito mais para jogar em seu caminho.
Ando pela festa na mansão sevilla sem qualquer intenção de
interagir com quem quer que seja. Minha veia social, que é muito
pequena, geralmente está voltada para um objetivo e esse objetivo,
na maior parte das vezes, tem curvas e após alguns minutos de
conversa banal, me deixa levá-la para onde eu quiser e fazê-la
gemer enquanto a fodo.

Essa festa, entretanto, não foi feita para a caça. Vim para
prestar homenagem a uma das poucas pessoas que respeito,
mesmo que na maior parte do tempo, discutamos por termos visões
diferentes do mundo.
Mattia é excessivamente preocupado com a opinião alheia,
enquanto eu não dou a mínima. Aliás, o questionei outro dia por que
no inferno ele se mantém próximo a mim, sabendo que tanto eu
quanto meus irmãos somos considerados párias diante da alta
sociedade italiana.
Não me deu uma resposta satisfatória, apenas dizendo que
sou “seu garoto”.
Pensar nos meus irmãos me faz lembrar dos outros dois, que
são apenas meio-irmãos: Chiara e Benito.
Os filhos da outra.
Não, você é o filho da outra — uma voz me avisa.
Chiara
, é a caçula dos sete filhos do trapaceiro do Bruno
Pasquarelli — ele tem dois filhos com a esposa oficial e cinco, contando
comigo, com a minha mãe.
Minha meia-irmã é um pedacinho de gente determinado.
Tentei fugir de sua perseguição implacável porque nossas famílias
são inimigas por motivos óbvios: nosso pai, aquele desgraçado,
casou-se com a mãe dela, Carina e ao mesmo tempo manteve um
relacionamento com a minha mãe, administrando duas famílias
paralelas.
Eu poderia simplesmente odiá-lo como o faço de fato, mas o
que me corrói por dentro é que mesmo sabendo que ele não vale
um euro, minha mãe ainda beija o chão que o desgraçado pisa.
O relacionamento doentio dos dois foi a razão pela qual,
ainda adolescente, fui morar com meus avós. Eu não conseguia
suportar sua presença dentro da nossa casa e mesmo assim,
sabendo o quanto aquilo me fazia mal, mamãe permitia que se
sentasse à mesa conosco em um dos dias do fim de semana para
fazer refeições como um pai amoroso faria, não um maldito traidor
que é o que ele é.
Já com relação a Benito
, demorou um pouco mais para
conseguirmos nos entender. Diria até que nossa aproximação — se
é que o fato de conseguirmos conversar sem ter tanta vontade de
matar um ao outro possa ser chamado assim — se deu mais por
força do destino do que por vontade real de qualquer um dos dois.
O rancor entre nós, que começou quando descobrimos que o
nosso pai era o mesmo e que as duas mulheres mais importantes
das nossas vidas eram usadas por aquele canalha, foi aumentando
gradualmente conforme crescíamos e culminou quando, sem
sabermos, tivemos uma parceira sexual em comum, com uma
diferença de poucas semanas de um para o outro.
Não tem nada a ver com o fato de termos dormido com a
mesma mulher e sim com Emilia ter engravidado e não ter
certeza de quem era o pai. Eu nunca deixaria um filho ser criado
longe dos meus olhos, então mesmo que ela afirmasse que achava
que o bebê era de Benito , eu exigi um exame de DNA.
Como se fosse possível, meu meio-irmão me odiou ainda
mais. Quando o resultado veio negativo, senti um alívio fodido
porque ter um elo para o resto da vida com uma louca como Emília
seria minha ideia de pesadelo. Entretanto, depois que meu sobrinho
se foi, vítima de uma tragédia do destino
, pensei se de algum
modo, se fosse meu, não teria cuidado dele melhor.
Claro, eu estava sendo injusto. Benito , dadas as
circunstâncias — não compartilhava a guarda com Emília — era um
bom pai.

A mulher era louca e expôs a criança a um estilo de vida
irresponsável, o que acabou desencadeando toda a tragédia.
Quando tudo aconteceu, não fiquei satisfeito com a
investigação da polícia e fui atrás da verdade.
Segundo nos disseram, Emília se descuidou do meu
sobrinho, deixando a porta da piscina aberta, o que resultou no
afogamento dele. Ao acordar e descobrir que o filho morrera, a
mulher se matou.
Para mim a história não parecia completa, então decidi
contratar um dos melhores investigadores particulares da Europa
para apurar todos os fatos.
Benito  estava tomado pela dor e não conseguia pensar com
clareza. Já eu, estava determinado a descobrir o que realmente
aconteceu com meu sobrinho. Pouco importava que Nicolo era filho
de alguém que me detestava e por quem eu tinha igual desprezo e
sim, que o menino era meu sangue.
No fim, o que nosso parentesco indesejado não conseguiu, a
morte do garotinho fez. Eu e meu meio-irmão estamos longe de
sermos melhores amigos. São anos demais de rancor — verdade
seja dita, alimentados muito mais por minha mãe do que por Carina,
a mãe dele —, para que, de uma hora para outra, possamos
conviver pacificamente.
De qualquer modo, agora temos um objetivo em comum e já
encontramos o fio da meada que talvez nos permita desvendar o
que realmente ocorreu naquela madrugada.
Estou quase chegando à piscina, tentando fugir um pouco da
multidão de convidados, quando vejo de relance uma nuvem de
cabelos loiros virando uma árvore e sumindo de vista.
Sei que é karol  e se tivesse pensando direito, lhe daria as
costas para voltar à festa, mas ao invés disso, sigo em seu encalço.
Há alguma coisa na loira deliciosa que me mantém preso,
observando-a a cada vez que nos encontramos.
Não é algo que eu aceite com facilidade. Ao contrário, eu
combato porque mesmo após dois anos, nada mudou. Por mais
atraído que eu me sinta por ela, a garota não é para mim.
Mattia tem planos de casá-la com um cretino: Emílio Osório Marcos e mesmo achando-o um completo imbecil, talvez seja o que
Karol  precisa: alguém que vá viver, assim como ela, sob o
comando do velho sevilla.
Depois daquela noite em que eu quase traí a confiança de
Mattia, comendo sua neta virgem debaixo do teto dele, eu só vi
Karol  poucas vezes.
Ela já estudava medicina em Milão, o que facilitou tudo.
Nesse semestre, entretanto, com a saúde do avô abalada
devido a um infarto recente, ele me disse que voltará e concluirá os
estudos em Florença.
Antes, parece que irá fazer um curso nos Estados Unidos —
é, eu sei tudo da vida dela. Minha mania de controle se estende até
mesmo sobre quem não deveria. No caso, a neta de sevilla, que é
totalmente proibida para mim.
Eu só vou dar “oi” — digo a mim mesmo, quando sei que é
mentira.
Na verdade, estou a caminho de brincar com fogo — um bem
quente e curvilíneo —, mas não consigo resistir.

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