Karol

— Estou começando a acreditar que é coisa do destino

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— Estou começando a acreditar que é coisa do destino.
Eu congelo ao ouvir sua voz.
Aquela bendita voz que, mesmo depois de quase dois anos,
ainda consigo escutar sussurrando no meu ouvido a pergunta que
me deixou noites sem dormir: como eu preferiria gozar.
Naquela época, eu não tive uma resposta sexy para dar.
Ainda hoje não teria, se fosse só baseando-me em experiência,
porque se melhorei alguma coisa em minha vida sexual, foi tudo
virtualmente, ao ler os livros de M Cabot Olson
. Entretanto, ao
menos faria suas calças um pouco mais apertadas, porque apesar
da rejeição sofrida, eu sei que naquela madrugada, Ruggero me
desejou tanto quanto eu o quis.
Respirando fundo, olho para trás para focar no detentor de
todas as minhas fantasias sexuais.
— Boa noite, Ruggero. Não sei do que está falando.
— Eu vi que acabou de virar duas taças de vinho que
carregava em cada mão. Então pensei que devem ter escrito em
algum lugar que sempre quando nos encontrarmos, um de nós
deverá estar bêbado.
E então acontece outra vez.
Tem sido assim ao longo desses anos, desde aquela noite. A
pouca interação que temos, termina em briga. Eu o enfrento como
não faço com qualquer outro e acho que um psiquiatra poderia dizer
que é um modo de satisfazer algum tipo de emoção com relação a
Ruggero , como uma preliminar sexual, já que é tudo que eu posso
ter. O fato é que o homem me deixa louca.
— É isso o que diz para si mesmo sobre aquela noite? Eu sei
que tinha bebido porque lembro do gosto do álcool quando me
beijou, mas sei também que seu desejo era muito real. Faço
medicina, esqueceu? Se há algo de que entendo, é do
funcionamento do corpo humano.
Ele dá um passo para perto e eu estremeço porque não
consigo evitar reagir ao homem, mas mesmo sabendo que deveria
recuar, fico parada.
— Eu não disse que não me lembrava de nada, mas que
estava sob o efeito do álcool, assim como você está agora.
— Talvez não me conheça tanto quanto pensa. Cresci
praticamente dentro de vinícolas. Vinho não tem um efeito tão forte
em mim.
Como você, por exemplo, que me deixa completamente
embriagada somente quando me olha.
— O quê, então?
— Oi?
— Disse que o vinho não te deixa tonta, bella[14]? O que a faz
enlouquecer, então?
Não é o que ele fala, mas o tom de sua voz e também a
maneira como seus olhos me percorrem da cabeça aos pés, que
fazem borboletas rodopiarem em meu estômago.
Grande! Eu fico meses sem ver o homem e quando acontece,
voltamos à estaca zero.
— Homens arrogantes — falo, tentando fugir da nuvem
sensual para a qual ele me arrasta.
O canto de seu lábio superior se ergue em um fantasma de
um sorriso e doce Senhor Jesus, deveria haver alguma regra
proibindo que o homem me deixasse tonta só com aquela cara de
safado.
— Eu, no caso.
— Não. Em geral — minto, porque não conheço um mais
arrogante do que ele e porque também, mesmo que conhecesse,
ele seria meu favorito.
— O que está fazendo aqui sozinha?
A mudança de assunto é um alívio. Eu, que me considero
extremamente racional, não consigo pensar direito com Ruggero
tão perto.
— Não gosto de multidões.
— Mas não tem muita escolha?
Sei que ele está falando das constantes festas que meu avô
dá aqui na mansão.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, focando em um
ponto de luz atrás dele. Qualquer coisa é melhor do que ficar  encarando-o, ainda mais nessa parte do jardim, quase na
penumbra, o que cria uma atmosfera de intimidade muito arriscada.
— Ele não se diverte nessas festas — diz, se referindo ao
meu avô.
Ruggero o conhece tão bem quanto eu mesma e sabe que a
maior parte do que Mattia faz é para satisfazer a alta sociedade.
— Não — concordo —, mas quer oferecê-las assim mesmo.
— E você, como a boa menina que é, comparece.
— Não sei se está lembrado, mas hoje é o aniversário dele.
— digo, irritada com a crítica velada.
— E nas outras em que parece estar morrendo de tédio e
vem mesmo assim?
Ele presta tanta atenção em mim ao ponto de saber que
odeio essas festas?
— Como sabe?
— Sou um observador por natureza.
— Não gosto dessas festas porque me sinto vigiada. É meio
sufocante. As pessoas esperam de mim um comportamento
perfeito. É como se eu fosse uma cobaia em um laboratório.  — Por isso fugiu? Ou foi por que seu namoradinho não
aprovou o vestido?
Sinto meu rosto esquentar e sem conseguir me impedir, olho
para baixo, verificando minha roupa. Quando volto a encará-lo,
esperando ver uma expressão de deboche, sou surpreendida ao
ouvir:
— Não deveria dar tanta importância ao que os outros
pensam.
— Os outros, como você chama, é aquele que me deu um lar,
o único que me quis.
Sei que Ruggero conhece a minha história do avesso. A
Itália inteira conhece.
— Não deveria se considerar em dívida com ele. Não se trata
de um estranho, mas de seu próprio sangue. O que Mattia fez por
você não foi um favor, foi obrigação. Porém, não era dele que eu
estava falando e sim, de Emílio.
— Eu posso lidar com meu namorado. Além do mais, essa
roupa não é mesmo adequada para o meu tipo de corpo. Assim que
o vesti, me arrependi.
— Você está linda.
— Não precisa me elogiar para me fazer sentir melhor. Sei
muito bem o tipo de mulher que te atrai: alta, magra, dois metros e
meio de pernas e de preferência, modelo, atriz ou apresentadora, se
não for os três juntos.
Ele joga a cabeça para trás, rindo e fico meio hipnotizada,
olhando para a pele de seu pescoço que aparece na gola da camisa
social cara e que eu sei, foi feita sob medida.
— Está prestando atenção em minha vida amorosa,
Karol ? Seu namorado não dá conta de distraí-la?
— Para eu prestar atenção na sua vida amorosa, você
precisaria ter uma. Já passou da idade de conseguir diferenciar
sexo de amor, meu senhor. Quanto ao meu namorado, ele me distrai
muito bem. Quando estamos sozinhos, não conseguimos tirar as
mãos um do outro. Estar com Emílio é um verdadeiro passeio às
estrelas.
Meu bom Deus, eu preciso ser internada.
De onde tirei isso? Ruggero deve ser um dos maiores
conquistadores da Itália e vai saber em um piscar de olhos que
estou mentindo.
Para minha surpresa, no entanto, seus olhos se estreitam e a
boca vira uma linha fina, demonstrando irritação.
— Tanto quanto eu fiz naquela noite?
— Um cavalheiro nunca perguntaria uma coisa dessas.
— Nunca fui acusado de ser um cavalheiro.
— Meu avô pensa que sim.
— Seu avô me conhece como ninguém.
— Se não é um cavalheiro, por que não foi até o fim naquela
noite? Por que sou neta de Mattia? — jogo, antes que consiga
evitar.
É a pergunta de um milhão de dólares que tenho me feito
desde então.
Por que, sendo Ruggero quem é, não tomou o que eu
estava lhe oferecendo?
— Mattia foi um fator importante em minha decisão, mas não
o principal.
— O que, então?
— Você estava apaixonada por mim e eu queria sexo. Nunca
passaria disso. Se tivéssemos ido até o fim, eu iria te estragar para   qualquer outro homem. Você iria querer mais e eu não tinha nada a
oferecer.
Se ele tivesse me dito essas palavras naquela noite, eu
provavelmente me debulharia em lágrimas, mas de lá para cá,
cresci. Moro sozinha há dois anos e aprendi a chorar pelos motivos
certos.
— Se não fosse a promessa que fiz ao meu avô de me casar
virgem, eu iria ter prazer de te fazer engolir cada uma dessas
palavras, Ruggero. Talvez, depois de uma noite comigo, fosse você
quem não conseguisse me esquecer.
Vejo com satisfação quando ele engole em seco, mas isso
dura poucos segundos porque em seguida, o sorriso debochado
volta.
— Somente a promessa que fez ao seu avô a impede de ter
uma noite de sexo comigo?
— O quê?
— Esqueceu que está namorando?
Sim.
Ai, meu Deus!
— Claro que não — falo, usando minha melhor cara de
jogadora de pôquer. — Estava falando hipoteticamente, em uma
realidade paralela.
Ele se aproxima e abaixa-se, quase colando os lábios na
minha orelha.
— Se um dia desistir dessa sua promessa, podemos pôr à
prova quem vai deixar quem maluco na cama.
— Nunca vai acontecer. Não quebro minhas promessas e
também não traio.
— Nem a si mesma? Porque é isso que está fazendo ao ficar
com alguém por quem não sente nada, karol .
Depois dessa senhora frase de efeito, ele sai, me fazendo
pensar que talvez Ruggero me conheça melhor do que eu mesma.

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