Ruggero
Torsolena
— Itália
No dia seguinte
— O que diabos você está fazendo aqui? — pergunto, ao sair
da sede da minha vinícola e dar de cara com Brunopasquarelli.
— Sua mãe não quer falar comigo.
Sinto meu maxilar trancar, tamanho o ódio que o homem me
desperta.
— Minha mãe está doente, como você deve saber. Fique
longe dela.
— Quero ter certeza de que está sendo bem cuidada.— Ela está. Não precisamos de você. E essa sua
preocupação com a saúde da minha mãe começou quando? Porque
até ontem, estava em Mônaco com sua namorada pré-adolescente.
— Sou um homem livre — diz, com o cinismo que lhe é
característico e eu fecho os punhos ao lado do corpo para não partir
para cima dele.
— Exatamente. Um homem livre. Vá viver a porra da sua
liberdade no quinto dos infernos, então. Ela não precisa de você. É
o único culpado por mamma estar doente. Você envenenou a alma
dela por anos, até que sua maldade lhe alcançasse o corpo.
Apesar da raiva que estou sentindo e do desejo de morte
contra esse bastardo, eu acho que minha mãe deveria pôr um ponto
final nessa história distorcida dos dois, na base do cara a cara. Não
porque ele mereça qualquer consideração, mas para que ela
mesma possa ter um encerramento.
Confesso que desde que me disse que não queria mais saber
de Bruno , eu esperei que a qualquer momento, mudasse de ideia. Ela
passou a adolescência e toda a vida adulta apaixonada por ele e
não consigo imaginar algo assim terminando de uma hora para
outra.Surpreendentemente, no entanto, seguiu firme em sua
decisão e disse que começou inclusive a fazer terapia.
Eu não preciso ser um expert para saber que minha mãe está
com depressão. Eu só não tenho certeza se é por conta do câncer
ou da decisão que tomou de excluir Bruno de sua vida.
— O que você esperava que ela fizesse? Tomou um pé na
bunda da mãe Benito e sequer a procurou. Carina entrou com o
pedido de divórcio e qual foi a primeira coisa que você fez? Passou
a desfilar com uma garota mais nova do que sua filha caçula por
toda a Europa. Ao menos quando era casado com Carina, você
mantinha as outras amantes relativamente ocultas. Queria o quê?
Continuar humilhando minha mãe? Mostrando para ela que nunca
vai ser boa o bastante para você? Suma da nossa vida, porra!
Pela minha visão periférica, percebo que alguns hóspedes da
vinícola estão prestando atenção em nós, mas eu não dou a
mínima. Passei do meu limite com ele faz tempo e vê-lo em minha
propriedade invertendo a situação e culpando minha mãe por não
querer vê-lo, rompeu qualquer contenção que eu poderia manter em
público.
Eu não falo com Bruno pessoalmente há mais de um ano.
Quando fiquei internado no hospital por conta do tiro, não permiti
que entrasse para me ver. Ao contrário do que aconteceu com
Benito, sei que nunca vou poder perdoá-lo. Não tanto pelo que fez
conosco, os filhos, mas pelos anos de tortura emocional ao qual
submeteu minha mãe, sempre dando-lhe esperança de que um dia
ela seria a única.
Agora, livre e mesmo com ela doente, o filho da puta
escolheu ficar com outras ao invés da mulher que o amou a vida
inteira.
— Você está descontrolado. Não podemos conversar assim
— diz.
— Acho que o momento de conversarem já passou, Bruno . —
Ouço uma voz atrás de mim falar e quando me viro, percebo que é
Mattia.
— Não se meta nisso, sevilla. Essa é uma conversa entre pai
e filho.
— Então deveria ir, Bruno . Os únicos homens da minha vida
que pude chamar de pai foram meu avô e Mattia. Contribuir
geneticamente para uma concepção não faz de alguém um pai.
— Já vi que você está nervoso hoje. Nem adianta tentar
conversar, mas saiba que não vou desistir de cuidar da minha Greta.Dou um passo para mais perto dele.
— Não sei quanto tempo minha mãe terá de vida. Espero que
muitos anos ainda, mas guarde algo que vou dizer, Bruno: se fizer do
que lhe resta de tempo na Terra um mar de sofrimento, vou acabar
com você. Não é uma ameaça, é uma promessa.
— Venha, filho. Não vale a pena discutir — Mattia diz, me
puxando pelo braço.
Eu me deixo conduzir porque temo que se ficar mais tempo
perto de Bruno, possa fazer algo de que vá me arrepender.
— Quer entrar? — pergunto.
— Sim, leve-me para dar uma volta. Há muito tempo não
venho aqui.
— Tem se sentido bem?
— Estou ótimo — fala e depois conserta. — Quero dizer, tão
bem quanto esse bendito coração velho permite.
— Olhando para você, ninguém diria que tem um problema
cardíaco.
— Diga isso ao meu cardiologista. Aquele ditador não me
deixa comer e nem beber nada mais— Por que veio tão tarde? — pergunto, enquanto
começamos a circular pela sede.
— Sou idoso, gosto de conversa cara a cara.
— Tem algo para me dizer?
— Pedir, na verdade, mas isso pode esperar. Conte-me como
está Greta.
Eu já havia dito a ele que minha mãe não quer mais ouvir
falar de Bruno, então sei que está perguntando sobre a saúde dela.
— Melhor do que esperávamos. Reagiu bem à primeira fase
de radioterapia e tem se alimentado direito. Giovanna se mudou
para morar com ela.
Minha segunda irmã mais nova do lado de cá da família, se
separou recentemente do marido. Não sabemos o que realmente
aconteceu, mas era aquele tipo de relacionamento com mais brigas
do que acertos.
— E Giovanna vai ficar na Itália em definitivo, então?
— Quem pode dizer com certeza? No momento, sim. Está
determinada a cuidar de mamma.
— Bom. Nada melhor do que a família por perto. E é
justamente por isso que vim aqui. Sabe que karol está em Nova Iorque?
— Mesmo? Não fazia ideia.
Sei até onde ela está hospedada.
— Sim. Deve estar de volta em pouco tempo. Dentro de uns
dias, na verdade. Apesar disso, me preocupo com a minha bambina
e queria saber se não tem um amigo naquela cidade que possa dar
uma verificada, discretamente, se está tudo bem com ela.
— O que o impede de colocar um detetive para descobrir
como ela está?
Sei que já fez isso no passado, quando ela morava em Milão.
Além dos guarda-costas designados para cuidar de sua segurança,
Karol tinha verdadeiros espiões atrás de si, vigiando sua vida.
— Não quero aborrecê-la. Se ela descobrir, com certeza
brigaremos.
— Mas certamente ela está com motorista e seguranças lá?
— Sim, mas não é o suficiente.
— E o namorado?
Ele faz um gesto com a mão, como se nem tivesse
considerado aquela possibilidade, o que é bem esquisito, já que não
esconde que é seu sonho que karol e Emílio se casem.— Aquele ali é como eu. Só pensa em trabalho. Mas tudo
bem, se não tiver alguém que possa conferi-la, entenderei.
— Eu não disse isso. Na verdade, terei que ir a Nova Iorque
amanhã. — Falo, quando de fato, acabo de decidir nesse instante.
— Darei um jeito de encontrá-la e assim, saber se está tudo bem.
— Eu sabia que podia contar com você, filho.
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Segunda Chance
FanfictionUma garota com um passado corrosivos. Um ex-galinha com cicatrizes externas e internas. Um amor que pode salvar ambos... ou destrui-los de vez.