Ruggero


Horas antes— O alarme está desligado — falo, quando entramos na casa
da mãe de Benito , Carina, pela porta da garagem ao invés da
principal

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Horas antes

— O alarme está desligado — falo, quando entramos na casa
da mãe de Benito , Carina, pela porta da garagem ao invés da
principal.
— Minha mãe deve ter se esquecido novamente.
Ao longo das últimas semanas, o detetive que eu contratei
para investigar a morte de Nicolo finalmente trouxe respostas.
Descobriu que Emília tinha um amante chamado Carlo Abato, um
dos guarda-costas que Benito colocou para cuidar do filho.
Quando soube que estava sendo procurado, o bastardo
desapareceu. Mas antes de sumir no mapa, confessou tudo ao
irmão, que por um fodido acaso, é um dos meus empregados — um
cara acima de qualquer suspeita e que trabalhou para mim por
anos.
O filho da puta do Carlo disse que estava apaixonado por
Emília. Queria que se casassem, mas ela não estava interessada
em se unir a alguém sem dinheiro. O irmão tentou aconselhá-lo a se
afastar, mas ele ficou obcecado com a ideia de que Nicolo era o
empecilho. Na noite da tragédia, depois que Emília adormeceu, ele
abriu a porta do quarto de Nicolo e o levou para fora. Em seguida,
só precisou deixar o portão da piscina escancarado.
Ela acordou e viu o que tinha acontecido. Nunca saberemos
a razão da mulher ter se suicidado. Se por remorso verdadeiro ou
porque perderia o estilo de vida que Benito lhe proporcionava através
do filho. Talvez um pouco de cada. De qualquer modo, ela seria
responsabilizada.
Ainda assim, com a certeza de como tudo acontecera, não
conseguíamos descobrir o paradeiro de Carlo. Então, eu precisei
recorrer à única pessoa capaz disso, um amigo de longa data: Agustín
. Foi ele quem rastreou Carlo, um ex-combatente do
exército.

Agustín descobriu que Carlo ainda não estava satisfeito com
todo o mal que causara, porque passou a acompanhar a rotina de
Luna, a esposa de Benito, de perto. Só poderia significar que ele
queria se vingar do meu irmão. De alguma maneira louca,
enxergava Benito como o responsável pela morte de Emília.
Agustín passou a vigia-lo e foi assim que soubemos que ele
estava vindo hoje.
O maldito covarde resolveu atacar quando ela estava mais
vulnerável, na casa da sogra, Carina.
No caminho para cá, nós chamamos a polícia e também mais
dos nossos seguranças.
Decidimos entrar pelos fundos porque estranhamos a
ausência dos guarda-costas designados para tomar conta de Luna
desde que avisei a Benito sobre Carlo.
A casa se encontrava desprotegida e quando chegamos à
cozinha, vemos a razão: os homens, assim como a mãe dele, estão
caídos no chão.
Benito corre para verificar a pulsação de Carina e eu vou até
onde os seguranças foram subjugados.

Ao mesmo tempo em que ele coloca os dedos na garganta
da mãe para confirmar que está respirando, fala com Luna ao
telefone.
Quando soubemos que Carlo estava vindo, Benito mandou
que ela se escondesse em um dos quartos.
Enquanto isso, eu ligo pedindo uma ambulância.
— Como sua mãe está? — pergunto, depois que desligo.
— Respirando. Acho que foi dopada, porque não encontrei
qualquer machucado.
— Eles também não estão feridos. Devem ter sido sedados,
mesmo — digo, apontando para um pedaço de pão que um dos
homens tem perto de seu corpo desacordado.
Um som de baque, como alguém se jogando contra uma
porta, nos faz agir.
Pego as armas dos dois seguranças desmaiados e entrego
uma para ele.
Sei que tanto quanto eu, aprendeu a atirar. Esse é um dos
esportes favoritos do nosso pai e tenho certeza de que inseriu todos
os filhos nele.

O corredor da casa da mãe dele é muito longo e como uma
espécie de “u”, tem entrada para os dois lados.
Cada um de nós segue em uma direção diferente, tentando
surpreender o desgraçado.
Os barulhos contra a porta continuam.
Eu já não vejo mais Benito, que foi pelo outro lado.
Viro uma curva, já que a casa mais parece um labirinto e
finalmente encontro Carlo.
O homem não é tão alto quanto eu e meu irmão, mas deve
pesar mais do que qualquer um de nós. Enquanto tenta derrubar a
porta, seu rosto está transtornado.
Agora eu já consigo ver Benito, por trás do homem, mas o
desgraçado do Carlo encontra-se em meio a uma crise de fúria,
como se tivesse feito uso de alguma droga, e não percebe nossa
aproximação.
No último instante, no entanto, pressente Benito e aponta a
arma para ele.
Eu não hesito.
— Procurando por alguém, filho da puta? — pergunto,
tentando desviar sua atenção do meu irmão.

Sei que Luna deve estar naquele quarto e de jeito nenhum
esse bastardo vai matar o marido dela.
Carlo se volta para mim muito mais rápido do que eu
supunha, arma apontada.
Sinto uma fisgada no braço direito, mas não tenho a menor
ideia do que aconteceu.
— Carlo! — Benito grita.
Quero dizer o quanto ele é estúpido por fazer aquilo, mas
assim que o ex-soldado se vira para ele, meu irmão atira duas vezes
em seu peito.
A arma cai no chão e ele tomba de costas. Vejo Benito se
aproximar e chutar o revólver ao seu lado para longe.
— Eu prometi ao meu filho que mataria seu assassino — diz,
de pé, perto do homem. — Espero que faça uma boa viagem para o
inferno.
Ele corre até onde estou.
— Você foi ferido — fala.
Só então percebo que tenho sangue em mim.
— Por que fez isso? Ele poderia ter alvejado sua cabeça,
matado-o — diz, se abaixando, enquanto ouvimos as sirenes da
ambulância do lado de fora.
— Eu não ia deixar você ficar com toda a diversão — falo,
tentando sorrir, mas agora que minha adrenalina baixou, o local do
tiro dói para caralho.
Ele segura minha mão, apertando com força e é estranho ter
algum tipo de contato com o homem que aprendi a detestar. Nunca
nos tocamos antes de hoje.
— Por que fez isso? — repete.
Fecho os olhos por um instante antes de voltar a encará-lo e
cansado de mentir para mim mesmo, falo:
— Porque você é meu irmão. Eu nunca deixaria que fosse
morto.
Nos olhamos por muito tempo. Mesmo quando os
paramédicos se aproximam, Benito ainda não me solta.
Não sei o que acontecerá conosco daqui por diante. São
anos de rancor e mágoas. Talvez devamos deixar apenas que a vida
siga seu rumo.
— Você é meu irmão — ele diz de volta e eu sei que muito
mais do que o título, ele está esclarecendo o significado: não
importa o quanto Bruno tenha destruído as duas famílias com seu
egoísmo e capacidade de manipulação. Somos irmãos.
— Senhor, precisa nos deixar trabalhar — um enfermeiro
avisa.
— Vá atrás de Luna. Diga-lhe que tudo ficará bem — peço.
Eu realmente gosto da menina-fada com quem ele se casou.
Uma coisinha pequenina e de aparência frágil, mas que o trouxe de
volta à vida.
Há uma movimentação grande de pessoas no corredor
agora, entre policiais e paramédicos.
Enquanto ele se levanta para ir verificar a esposa, vejo um
deles recolher as três armas — as nossas e a de Carlo — e um
outro avisa:
— Ele está morto.
Com essa certeza, eu finalmente me permito cair na
inconsciência.

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