Karol

Hospital Geral de Florença Semanas depois — Você é amiga da família pasquarelli, né? — uma enfermeira pergunta

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Hospital Geral de Florença
Semanas depois
— Você é amiga da família pasquarelli, né? — uma
enfermeira pergunta.
Acabo de chegar para meu plantão da noite.
Estou na minha primeira semana no Hospital Geral de
Florença, depois que pedi minha transferência da faculdade de
Milão para cá e também a quinze dias de viajar para Nova Iorque,
para fazer meu curso.
— Sim, meu avô é, na verdade, por quê?   — Um dos pacientes,  Ruggero pasquarelli, acaba ser
operado. Ele levou um tiro.
Olho para o rosto dela a espera de que vá dizer que é uma
piada, mas a mulher parece concentrada na prancheta que carrega,
fazendo seu trabalho de rotina.
Eu me apoio na parede, as pernas perdendo subitamente a
força.
— Pode repetir?
— O signor pasquarelli deu entrada no hospital essa tarde,
vítima de uma bala. Parece que houve um tiroteio na casa da mãe
do signor Benito, mas eu não sei explicar bem como foi —
diz, agora com as bochechas vermelhas e eu sei a razão: não é
segredo que os irmãos se detestam.
— Entre eles? Atiraram um no outro? — pergunto, quase
histérica agora.
— Não. Parece que foi um invasor quem atirou no signor
Pasquarelli.
Ruggero estar na casa de Carina, a esposa oficial do pai
dele, é algo praticamente impossível.
— Como ele está?  Eu só precisaria ir até o computador para verificá-lo, mas o
nervosismo me impede. Sempre fui tranquila e até mesmo tachada
por alguns professores de fria em meu trabalho, mas pensar em
Ruggero ferido faz meu estômago revirar de agonia.
— Estável. Foi um tiro no braço, pelo que soube, mas está
bem.
Finalmente eu entendo que aquilo é real e começo a me
afastar.
Ruggero tomou um tiro.
Vou até um dos computadores para verificar em qual andar
ele está e levo menos de dois minutos para descobrir, mas antes
que possa entrar no elevador, meu celular toca.
— Mattia? — eu raramente o chamo de avô.
— Karol , você precisa verificar Ruggero.
— Eu acabei de saber. Já estou no hospital e, na verdade,
estava indo vê-lo agora. Sabe o que aconteceu?
— Não com certeza. Sei que ele mandou investigarem a
morte do sobrinho, o filho de Benito e parece que descobriu que não
foi acidental, mas um homicídio.
— O quê?  — Sim, eu sei, minha filha. Algo grotesco de se pensar.
Tirarem a vida do bambino
. Enfim, parece que houve um
confronto com o assassino, e Ruggero foi ferido. Estou indo para
aí, mas queria que você o verificasse pessoalmente e me desse
notícia o mais rápido possível.
— Ainda está na Suécia?
— Sim, em voo, já. Tentei te ligar assim que soube.
— Eu estava em um curso online. Tenho prova amanhã e
fiquei incomunicável o dia todo. Sinto muito.
Estou me sentindo um ser humano horrível.
— Não tinha como saber.
— Mas eu deveria ter avisado ao senhor, ao menos. Olha,
preciso ir agora. Quero verificar Ruggero. Assim que tiver notícias,
eu aviso.
Desligo o telefone, tentando organizar as informações que
meu avô me deu.
Eu sei que Ruggero e Benito se tornaram mais próximos nos
últimos meses porque em uma conversa com Donatella, ela deixou
escapar que a mãe, Greta, estava muito aborrecida com isso. É algo que eu não consigo entender. Das duas mulheres com
quem Bruno pasquarelli formou famílias paralelas, Carina deveria ser
aquela com mais razão para sentir rancor, afinal, ela sempre foi a
“oficial” do mulherengo sem-vergonha. Mas não, é Greta que
sempre odiou-a e também a seus filhos.
Sei que a situação dela não é fácil e que é vista como uma
destruidora de lares pela maioria dos italianos, mas odiar os filhos
do amante é inexplicável para mim. Se há alguém que não tem
qualquer culpa nessa situação, são os sete filhos de Bruno.
Chego no corredor e vejo que todos os pasquarellis estão
presentes. Até mesmo Gaetano, que é piloto de fórmula um e vive
viajando pelo mundo inteiro.
Entretanto, Greta não está.
Estranho.
Nos assentos opostos, encontram-se Benito  e Chiara.
É esquisito que todos sejam irmãos e mal se falem, mas
quem sou eu para julgar?
E de pé, andando pelo corredor como se não tivesse
qualquer preocupação na vida, está o responsável por tanta mágoa:
Bruno pasquarelli.  Ele olha para mim e sinto meu estômago embrulhar porque
não é um olhar qualquer, mas o que um homem daria a uma mulher
por quem estivesse interessado.
Será que esse infeliz não consegue conter sua cafajestagem
nem com o filho internado?
Desvio dele e foco na única pessoa de quem sou próxima:
Donatella.
Quando me vê, ela vem até mim.
— Oi. Eu te liguei feito uma doida. — diz.
Eu a puxo para um abraço.
— Sinto muito. Vovô também tentou. Estava em um curso e
mesmo que seja online, ficamos incomunicáveis. Temos inclusive
que girar a câmera por todo o quarto para que vejam que estamos
sozinhos.
Ela acena com a cabeça, como se aceitasse minha
explicação.
— Jesus, eu nunca senti tanto medo na vida, kah . Agora, os
médicos disseram que ele já está estável.
— O que houve?
— Meu irmão… e Benito …
— Seus irmãos — corrijo-a, porque não aceito aquele tipo de
besteira. Podem se odiar, mas não muda o fato de que são irmãos.
— Isso. Meus irmãos descobriram que a morte de Nicolo não
foi acidental como se pensava e também o nome do culpado. — Os
olhos dela estão cheios de lágrimas. — Eu nunca o vi, karol .
Estou falando do meu sobrinho. Nem cheguei a conhecê-lo e jamais
o conhecerei.
— O que aconteceu foi horrível e não pode ser mudado,
Donatella, mas seu irmão, o pai do bebê, está bem ali. Tenho
certeza de que Benito não lhe viraria as costas se você decidisse
prestar solidariedade. Mas agora, termine de falar.
— Eu não sei bem dos detalhes, mas o homem, o assassino
de Nicolo, invadiu a casa de Carina e tentou levar Luna
, a esposa
de Benito.
— Meu Deus do céu, ela não está grávida?
— Está, sim. Consegue imaginar alguém que não só faz mal
a um bebê, mas que também tenta machucar uma gestante? Aquele
miserável teve o que mereceu.
— Ele foi morto?  — Sim. Benito o matou. Como deve saber, Bruno sempre fez
questão que todos os filhos soubessem atirar, mas eu não sei dos
detalhes ou como ele conseguiu a arma para matar aquele monstro.
— Mas se Benito matou o bandido, como Ruggero acabou
ferido?
— Parece que o cara ia atirar em Benito e Ruggero tentou
lhe chamar a atenção para salvar nosso… irmão.
— Idiota.
A despeito de tudo, ela sorri.
— Louco, isso sim. Mas agora, por favor, vá lá dentro. Eles
não deixam todos entrarem e a primeira pessoa que Ruggero pediu
para falar foi Benito.
Quando olho para o lugar em que ele estava, não o vejo
mais.
— Tudo bem, eu vou entrar. Darei somente algum tempo para
que possam conversar e depois, vou ver seu irmão.

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