4. montando cavalos.

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Visenyra era uma criança inteligente, Viserys dizia. Ele sempre se gabava da filha mais nova. Não havia um único lorde em toda Westeros que não soubesse que a caçula do Rei havia aprendido valiriano aos seis anos de idade, quando já sabia ler e escrever como Viserys jamais havia visto alguém fazer. Ela era sua menina excepcional, alguns arriscariam dizer que era até a favorita dele: mas Viserys nunca teve um olhar submundano para as filhas, elas eram suas garotas e isso bastava para que ele não as enxergasse como outros nobres enxergavam os filhos. Ele não criava competições ou impunhava hierarquia entre as meninas: elas eram igualmente amadas e bem tratadas.

Mas do que adiantaria ter uma fama tão boa por Westeros Visenyra ainda seria impulsiva como todo Targaryen era. Do que adiantou ser inteligente se, na primeira oportunidade, montou um cavalo raivoso mesmo sendo completamente inapta á montaria?

Visenyra nem teve tempo de reagir quando o cavalo apoiou-se todo nas patas traseiras e se ergueu, derrubando-a de sua cela e a jogando no chão. Criston Cole, que havia insistido para que a Princesa fosse junto a ele, sentiu um filme passar por seus olhos. O primeiro Protetor Juramentado a deixar sua Princesa protegida ser morta por um cavalo raivoso. Ele seria a piada do Reino. Mas antes de se preocupar demais com essa parte, o pensamento de que Visenyra havia se machucado esmagou sua cabeça e ele saltou do próprio cavalo, correndo na direção da Targaryen, as batidas de seu coração aumentando a cada passo dado.

— Princesa! – Ele gritou, jogando-se de joelhos ao lado da figura estirada no chão.

Visenyra estava ali, deitada, seus olhos fechados e sua respiração tão leve que parecia inexistente. Em silêncio ela permaneceu, mesmo escutando o chamado de Criston. Ela estava abalada, mas não estava com dor: ela estava humilhada.

Daemon, como ela apelidou carinhosamente o cavalo que havia acabado de tentar acabar com sua vida, já tinha um temperamento conhecido pela Guarda Real e pela Patrulha. Mas ela pensou que estava tudo bem quando saíram da Fortaleza Vermelha e ele estava tão calmo quanto era possível. Eles até haviam chegado à Colina de Rhaenys.

Após breves segundos ignorando a avalanche de palavras de Cole, ela agarrou o pulso do moreno.

— Não conte pra ninguém. – Ela falou, ainda de olhos fechados e sem intenção de olhar para o homem. Era pior do que imaginava... Ela havia caído na frente de um homem bonito. – Me ajude a levantar, sir Criston. – Ela continuou e Criston percebeu, pela maneira como ela encaixou o "sir" no que comumente é apenas "Criston", que ela estava brava. Ele só não sabia com o quê.

Ele ficou em silêncio, agarrando a cintura fina da princesa e levantando-se junto dela, que fizera uma careta ao ficar de pé.

— Está sentindo dor, Princesa? Devo chamar o meistre? – Ele perguntou, olhando para Visenyra, esta que nem mesmo olhava em seu rosto.

— Não, sir Criston. Eu estou bem. – Ela mentiu, sentindo o músculo de suas costas contrair: era definitivamente uma lesão. Ela soltou-se do aperto do homem e virou se de costas.

— Desculpe-me? – Ele falou, metendo-se na frente da Targaryen e fazendo-a parar de imediato. Nem assim ela o olhou. – Eu fiz algo de errado?

— Não. – Ela o respondeu, sua voz saindo mais grossa que o esperado enquanto sua mão empurrava o peito de Criston. Ela seguiu caminho, não se importando em deixar seu protetor para trás. – Me sinto humilhada pela queda e envergonhada por ter sido na sua frente, por isso não desejo olhar seu rosto agora, Criston. – Ela disse e Criston quase riu.

— Eu sou seu protetor, Princesa. Como a senhora espera que eu te proteja se você não se machucar? – Ele perguntou, um sorriso nos lábios que Visenyra podia até não ver, mas sentia que ele tinha. Ela acelerou o passo, não querendo o escutar mais, mas não havia saída: eles estavam na Colina de Rhaenys e somente o cavalo de Criston poderia levá-la de volta para o Castelo. – Voltará para o Castelo a pé?

— Eu tenho um Dragão. Ele sabe quando me encontrar.

— O mesmo Dragão que o Rei acorrentou no Fosso após sua última aventura? – Criston a rebateu e ele quase não se reconhecia. Alguma coisa em Visenyra o fazia agir daquela forma: imprudente e desrespeitoso, afinal, o que permitia um simples cavalheiro de rebater a princesa daquela forma? Mas ali estava ele, discutindo e brincando com sua princesa.

— Voltarei a pé, sim. – Ela respondeu, confiante de suas próprias palavras.

— Existem animais selvagens no caminho. – Ele a respondeu, mais uma vez, e Visenyra parou abruptamente no lugar onde estava. Criston, desta vez, não se segurou e riu alto. – Vamos, Princesa, seu protetor a levara em segurança para casa.

Visenyra sentiu sua bochecha queimar, mas não pela vergonha de Criston ter gargalhado a suas custas, mas algo no jeito como ele se denominava seu protetor a fazia ter borboletas no estômago.

— Certo, me rendo á suas ameaças. – Ela disse, em exagero, enquanto voltava a olhar para Criston, seus pés apressadamente indo na direção do cavalo de pelagem negra.

orange couple | criston coleOnde histórias criam vida. Descubra agora