Trilho

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 Dara.


 Um dia antes dele voltar, eu fiquei aqui. Deitada nesse telhado sujo, escondida de todos. Olhava as estrelas sob minha cabeça e ficava presa as lembranças... elas rodavam minha mente como um eterno carrossel. Não sei ao certo quando esses pensamentos ruins cessaram... só me lembro que rodaram tempo o suficiente para as lágrimas inundarem minha fase.

Passei o esse tempo em que ele esteve "preso" aquela cama refletindo, se valia apena ficar...

Se realmente faria falta...

Eles falam que me amam.

Falam que sentem minha falta.

Entretanto, por que agem ao contrario?

Por que, no momento que mais precisei, não me acolheram?

Que amor é esse? que só vê um lado...

Para mim isso é tudo, menos amor.

Talvez, seja apenas o comodismo de ter sempre alguém ao lado deles quando eles mas precisam... ou quem sabe, seja apenas a falsa esperança de se ter de volta algo que nem existe mais.

Me sinto como um brinquedo quebrado, que sua criança tenta inutilmente concertar, arruma-lo de uma forma tão estupida que na realidade apenas está o destruindo ainda mais...

Não queria me sentir assim, mais, é tão difícil evitar.

Desde que voltei, eles apenas falam o quanto ele precisa de mim, mas... e quanto eu?

Será que, eles não percebem? o quanto eu "grito" desesperadamente por eles.

Não escutam? o barulho desordenado do meu coração batendo no peito, quando acordo no meio da noite após mais um pesadelo...

Será que, o erro é meu? por colocar expectativas inalcançáveis em cima de terceiros?

Provavelmente, sim.

Eles exigem respostas que nem eu tenho...

Como posso? dizer o que aconteceu se as palavras simplesmente fogem de meus lábios?

Como posso? expressar tudo aquilo que estou sentindo, estando perdida.

Não faz sentido.

O choro sempre fica preso em minha garganta, ameaçando transbordar, com a simples possibilidade de ter que falar...

É uma sensação que te corre, maltrata a alma, mata seu ser.

Me sinto silenciada, e a culpa é minha.

Minha voz não saí, e a culpa é minha.

Não deveria ser tão difícil... 

É um simples processo: primeiro, nos reunimos; depois: sentamos um a frente do outro; terceiro: abro minha boca e... quarto: falo...

Mais nada se vem.

Como chegar ao ultimo passo, se nem do primeiro passamos?

A conta não bate.

Então as vezes me pego a me questionar, e se a culpa na realidade é realmente toda minha.

Faz sentido pensar assim.

Mas, sentir todo esse desespero deveria ser ... normal?

Sentir essa agonia batendo forte...

Essa dor aguda...

A falta de ar...

Sentir como se toda a dor do mundo fosse sua culpa...

Tudo é sua culpa... Ele ainda estaria bem, se não fosse por sua culpa.





Por Sinais, linhas e canções : Nosso amor aconteceu.Onde histórias criam vida. Descubra agora