Sinto um leve tremor passar pelo meu corpo, junto àquela sensação que tem alguém te encarando, desviando da tela do meu notebook, eu encaro minha mãe parada na porta, ela faz aquela expressão de "precisamos conversar, tem algumas coisas que quero extrair de você." Me recosto sobre o encosto da minha confortável cadeira e suspiro, apertando meus dedos e estrelando as juntas.
Silenciosamente ela adentra meu escritório e senta-se na cadeira a minha frente.
— Estava distraído, nem mesmo viu que eu abrir a porta. — Passo as mãos em meus pesados cabelos longos, os perdendo num coque no topo da cabeça com o elástico que sempre carrego no pulso.
— Apenas distraído escrevendo, estava num momento bom. — Tamborilo com meus dedos sobre a mesa de madeira, fazendo um som baixo e abafado.
— Seu irmão chegou a pouco, estava perguntando de você.
— Ele sabe onde me encontrar. — Olho diretamente nos olhos pretos idênticos aos meus. — O que quer saber, mãe? — Deixo um sorriso escapar ao notar ela apertar seus dedos em nervosismo sobre seu colo, as unhas bem-feitos deixando marcas leves sobre a pele. — Vai se machucar. — Digo apontando com a cabeça para suas mãos.
— Vai ficar escondendo até quando essa pessoa que você está saindo? É serio mesmo entre vocês? Estão namorando? — Ela dispara as perguntas. Muitas vezes me sinto incomodado com essa abertura toda que minha família tem, isso de não haver segredos, sempre contamos tudo um para o outro, e me pergunto onde fica a minha intimidade, coisas que não quero revelar para eles. Mas depois vejo que se eu conto, é porque me sinto a vontade e confortável em compartilhar cada passo sobre minha vida, meus pais sempre deixaram claro que eu e meu irmão poderíamos sempre contar tudo, que por parte deles não haveria julgamento e, realmente nunca houve, sempre teve compreensão, conforto e abraços quentes junto a palavras de carinho, então eu agradeço pelos pais maravilhosos que tenho, são muito poucos com essa sorte.
— Ainda estamos nos conhecendo, estamos lidando com tudo que sentimos, ele é sensível apesar de me dar respostas afiadas para todas as minhas brincadeiras, ele é carinhoso e nem mesmo se dar conta disso, ama ler, ama gestos simples e pequenas palavras de admiração, ele ama desenhar roupas tanto quanto ama vesti-las com suas maquiagens sutis que apenas realça toda a beleza que ele exala. Alegre mesmo com os olhinhos pesados por um passado triste e traumatizante, mas a admiração com que ele olha a tudo á sua volta, torna ele belo, extraordinário. — Quando acabo meu discurso, exalo, meu peito enchendo com aquela sensação eufórica, paixão, amor, desejo, estou apaixonado, completamente apaixonado, amando, aquele pequeno pônei. Eu o amo!
Tenho meus olhos arregalados e olho com surpresa e desespero, espalmo minhas mãos sobre a mesa e noto o sorriso gigante de mamãe sobre mim. Puta merda. Estou muito ferrado.
Eu sabia que havia paixão, mas não que chegou a esse ponto, amor. Eu o amo. Isso só me faz querer ainda mais o bem de Murilo, preciso contar toda a verdade para ele, e logo em seguida pedir meu pequeno pônei em namoro oficialmente.
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Pônei - Spin-off de DRV
RomanceMurilo Ferreira, formado em moda na França, está de volta ao Brasil. Abre sua pequena loja, onde o mesmo vende roupas desenhadas na sua maioria por ele. Ele ama o que faz, assim como Ama quem ele é. Um homem livre de todo o preconceito que a socieda...