O Canto do Cisne {Jikook}

2. O ASSASSINO

            Jeon Jungkook debatia-se em sua cama. Os cabelos negros espalhavam-se pelo travesseiro macio ao mesmo tempo em que grudavam em sua testa pelo suor. O pesadelo parecia durar uma eternidade, envolto em escuridão, sangue e lâminas.

Quando ele finalmente despertou com um grito abafado, precisou de alguns segundos até conseguir se localizar. O quarto estava na penumbra. A noite quase se tornava dia, de modo que uma parca iluminação já se infiltrava pelas frestas da janela fechada. Jungkook sentou-se em sua cama, as mãos apoiavam-se no colchão firme, dando-lhe apoio para o corpo, fazendo as veias saltarem e destacaram-se em seu braço. O garoto concentrou-se em sua respiração. Inspira, expira, inspira, expira.

Jungkook não fazia ideia de qual a última noite que tivera que não era assombrada por pesadelos.

Na verdade, fazia sim.

Desde o dia em que sua vida fora virada de ponta cabeça e ele fora jogado em um inferno no qual estava preso desde então.

Respirando profundamente para se acalmar, Jungkook deixou os olhos vagarem pela penumbra do quarto, chegando até a parede branca em frente à sua cama, na qual havia um suporte de couro onde estavam os seus punhais por ordem de tamanho, desde a lâmina menor até a lâmina maior. Flashes da noite anterior invadiram sua mente. O sangue fresco encharcando sua mão. Ele havia chegado em casa e lavado as mãos, mas ainda havia um pouco de sangue encrustado sob as unhas.

Recuperando-se do pesadelo, o garoto levantou e caminhou pelo quarto lentamente, arrastando os pés. Ele tinha um dos melhores quartos da casa do Clã dos Assassinos. O que era justo, uma vez que ele era um dos melhores que havia ali, e com certeza um dos mais rentáveis, uma vez que o Lâmina de Aço se tornara um dos assassinos mais reconhecidos e temíveis do reino. Haviam cartazes de procura-se e uma gorda promessa de recompensa espalhados por toda a província de Boryeon, a capital do reino de Hanul, estampando os esboços que se tinham da imagem do temido assassino.

Jungkook pegou a sua máscara que havia deixado no pequeno móvel de mogno que havia em seu quarto e olhou para ela. Era uma máscara que cobria todo o rosto, indo da testa até a linha do queixo. Era uma máscara de porcelana branca, com o buraco para os olhos, uma sobrancelha fina desenhada acima, espaço para respirar e a boca era coberta com um forte tom de rubro.

Aquela máscara era a última coisa que havia ganhado de seu pai antes que...

Bem, antes que tudo desse errado.

Uma batida à porta distraiu o rapaz, que guardou a máscara na gaveta do seu cômodo e caminhou até ela, abrindo-a.

- Bom dia Mestre Jeon. – Senhora Seo, uma das criadas do Clã dos Assassinos, disse com uma mesura e um sorriso no rosto. – O café da manhã está servido no salão principal.

- Obrigado, Senhora Seo – Jungkook disse, curvando-se rapidamente.

- Temos pão assado com especiarias, que o senhor gosta. Se não descer rápido, o esfomeado do Lee Young vai comer tudo e não vai lhe deixar nem uma migalha. Alimente-se bem. – Ela disse, se retirando.

- Eu irei, obrigado – Jungkook disse para as costas da senhora, que se afastava rapidamente, indo chamar os demais moradores da grande casa.

O Clã dos Assassinos estava localizado em uma grande e bela casa em uma das muitas colinas da província de Boryeon. Eram cerca de doze quartos, cada um contendo um assassino perigoso e letal. Um deles, claro, abrigava So Namjoon, um conhecido nobre de Boryeon, e o assassino mais letal do país, cuja identidade era mantida em completo segredo. So Namjoon era o líder do Clã dos Assassinos. Tinha cerca de quarenta e três anos. Era herdeiro da fortuna do pai (que havia morrido misteriosamente) e não tinha uma família da qual cuidar.