O mundo real deixou de parecer mágico, quase místico, bem rapidamente. Park Jimin desfrutou cada instante da caminhada até uma pequena vila que havia ali perto, uma vila pequena que ficava ao caminho da cidade central. O primeiro detalhe que reparou foi que eles não pareciam tão animados quanto deviam parecer com o festival. O motivo não demorou muito pra ser esfregado na cara de Jimin com a mesma força que se alguém tivesse pegado seu rosto e esfregado contra a parede fortificada do palácio.
Jimin não demorou a perceber que algo ali estava errado. A alegria costumeira que se via nos moradores (e que há tanto tempo ele não testemunhava), não estava mais ali. Um sentimento pesado estava instaurado no ar. Parecia entranhado em cada árvore, escondido entre as construções precárias que chamavam de casas. Foi como estar ali pela primeira vez. Era um lugar completamente diferente das memórias que o garoto guardava. Seus olhos de criança viam diversão em cada metro quadrado, via as cores diferentes das roupas, via crianças com quem brincava. Os olhos de adulto, tão diferentes dos que tinha quando criança... Viam pobreza infiltrada em cada canto. Via pobreza na rua batida, puída como terra. Via pobreza nas casas decrépitas. Via tristeza nos poucos rostos abatidos que andavam pela rua. Jimin percebeu que o palácio não era um mundo paralelo. Talvez aquele ali é que fosse. Como um lugar tão próximo do palácio, onde havia tanta fartura e riquezas, podia ser tão pobre e triste?
- Mas o que... - Jimin questionou baixinho. O som baixinho e lamurioso do choro de uma mulher se fez ouvir. Era uma das casas centrais no pequeno vilarejo.
Havia poucas pessoas na rua, parcialmente deserta, mas o choro não pareceu-lhes afetar em nada. Com a cabeça baixa, Jimin caminhou até aproximar-se da casa. O barulho do choro ia ficando cada vez mais alto. Ele seguiu até praticamente apoiar-se na parede da residência humilde.
- Meu filho não... - A voz clamava, rouca e partida, tão frágil quanto uma folha de papel. - Meu filho não...
- Mamãe, porque o Joon não está abrindo os olhos? - uma outra voz feminina e bem infantil disse. Jimin entendeu logo que se tratava de uma criança que não tinha mais que seus quatro anos.
- Filha... - uma voz masculina disse. - Vem aqui no papai - chamou. A voz parecia prestes a quebrar em qualquer momento, como uma taça com rachaduras em toda a sua extensão, esperando o mínimo toque para finalmente estilhaçar-se.
- O Joon, papai - a vozinha choramingou. - Abre os olhos, Joon! - a criança disse caindo no choro.
- Eu não pude fazer nada! - a mulher que Jimin tinha entendido como sendo a mãe, disse de repente.
- A culpa não foi sua, querida. Foi minha - o pai disse. - Eu devia prover a nossa casa. Eu... Falhei como pai. Falhei como esposo. Eu mereço a morte. Deixei o nosso pequeno Joon morrer de fome... - Pela quebra na voz, e os engasgos que vieram a seguir, Jimin percebeu que o pai estava caindo no choro. A própria garganta de Jimin estava engasgada.
- Eu não sabia que ele não estava comendo. Estava dando toda a comida dele pra irmã... - a mãe disse. Pelo tom de voz, parecia já ter dito aquilo mil vezes.
- Ele disse que eu precisava ficar forte e me casar bem pela nossa família - a menininha disse, também chorando. Os olhos de Jimin encheram-se de lágrimas no mesmo instante, descendo rapidamente por seus olhos. Era como ser tirado do céu, aonde tudo ia bem, onde havia fartura e não havia problemas como... Fome? E ser atirado diretamente num inferno de desespero, dor e necessidade. Não podia ser real. Não podia!
- Eu devia ter visto... - a mãe disse, caindo em um choro lamurioso e sofrido que partiu a alma de Jimin em duas.
Seus olhos vertiam lágrimas sem parar, o verde dos olhos parecia uma folha perdida em um oceano que escapava e descia por sua face. Ele apoiou-se na parede, as pernas subitamente fracas. Ele não era inocente ao ponto de imaginar que não existia pobreza. Sabia que existiam pessoas pobres e que sempre iria existir. Mas não imaginava que existia tamanha pobreza, ao ponto de uma criança morrer de fome por não ter nada de comer. Como devia ser... Morrer de fome? O que o corpo sentia? Qual o nível da dor? Será que o garoto tinha visto a morte chegar? Tinha sentido os últimos fiapos de força e vida do corpo irem o abandonando pouco a pouco?
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O Canto do Cisne {Jikook}
FanficCONHEÇA O PRINCIPE. Park Jimin escondia sob a superfície de uma vida perfeita, um interior revolto e conturbado. Jimin não queria ser o próximo rei. Não queria se casar com uma princesa e ter filhos. Não queria ter um pai que o odiava e deixava isso...