PRÓLOGO

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O punhal atravessou carne e músculos até entranhar-se em uma confusão de ossos e órgãos. O assassino sentiu a mão ser encharcada do líquido vermelho escuro que saia aos borbotões do corpo da sua vítima. A vítima, um homem na casa dos cinquenta anos, arquejou e tentou gritar, mas a mão encapuzada do assassino tampou-lhe a boca, fazendo com que sua tentativa de clamar por socorro fosse reduzia a não mais do que os sons gorgolejantes que o faziam parecer um animal sendo abatido.

Ele debateu-se, mas sua tentativa de escapar fazia apenas o punhal rasgar-lhe mais o corpo, fazendo ondas ainda maiores de dor espalharem-se daquele ponto onde a lâmina cortava a carne.

Um pouco de sangue caiu sobre as roupas escuras que o assassino usava. Não adiantava quanto tempo passasse, ele nunca se acostumaria com aquilo. O sangue quente jorrou em suas mãos, e apesar do seu interior estar revolto como se seu próprio sangue se agitasse dentro dele, seu exterior era coberto por uma máscara dura e fria, branca, sem emoções. O Lâmina de Aço não podia hesitar. Não podia errar.

Atrás deles, na parede, animais empalhados olhavam a cena com seus olhos mortos. Eles causavam arrepios no Lâmina, sempre causariam. Não era ali que os animais deviam acabar. Enquanto ceifava uma vida, o Lâmina sempre se lembrava do porquê estava ali. Do que a sua "vítima" tinha feito para merecer a morte.

O homem que agonizava em suas mãos, com o punhal atravessado bem próximo do coração, havia sido o responsável pela morte de nove famílias. Incluindo os filhos pequenos destas famílias. Ele não teve piedade ao expulsar os servos de sua residência ao descobrir que um deles havia roubado um de seus preciosos vinhos. E como não tinha provas para acusar alguém em específico, culpou a todos. Na mesma noite, antes que pudessem fugir, ele ordenou que ateassem fogo às pequenas casinhas de madeira e palha onde eles vivam, no limite sul de sua propriedade, logo após colocar barricadas nas aberturas que serviam como portas e janelas, impedindo que escapassem. Queria que eles estivessem bem mortos.

Ele ficou bem próximo do local, com a luz da lua e um lampião sendo seus companheiros conforme ele viu o fogo crescer e ganhar vida, quase como se quisesse subir até o céu. Ele ouviu os gritos deles. Ouviu o grito de pais, mães e seus filhos, e não sentiu nada.

O Lâmina também não sentiria.

Ele tinha aceitado a missão, e ele a cumpriria. Ele girou o punhal, pressionando-o mais fundo e erguendo-o um pouco mais, chegando ao coração. Ele pôde quase sentir quando a alma começou a deixar o corpo. Podia jurar que sentiu calor quando aquela alma podre foi recebida no inferno. Tão silencioso quanto havia entrado, o Lâmina retirou o punhal do corpo já sem vida e usou a própria roupa que o falecido vestia para limpar o sangue da sua arma. Confirmando que não havia qualquer registro de sua passada por ali, exceto, claro, o grande e pesado corpo sem vida que jazia no chão do escritório, ele caminhou até a janela, abriu-a e olhou ao seu redor antes de pular sem hesitar. Ele pousou no chão pedregoso como uma pluma. Ali era escuro, e grandes árvores cobriam os fundos da residência. Foi por ali que ele escapou.

Andou por alguns quilômetros até que algo chamou a sua atenção. Estava escuro, mas a luz da lua cheia possibilitou-lhe ver um cartaz onde um desenho bem feito, ele precisou admitir, ostentava o rosto do famoso Lâmina de Aço. Ou pelo menos, aquilo que os poucos relatos das pessoas que o haviam visto podiam fornecer. Parecia com ele. Um pouquinho, se ele comprimisse bastante os olhos. Parecia que as pessoas não haviam percebido que a máscara branca que ele usava não era seu rosto. Bom pra ele. Embaixo do seu não tão fiel retrato, havia uma mensagem.

"Recompensa: 100 mil wones. Vivo ou morto".

O Lâmina riu. Não seria capturado, não tão fácil. Eles mal esperariam. Eles o estavam caçando? Ótimo. Só não esperavam que eles também seriam sua presa. Muito em breve.

O Canto do Cisne {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora