3. A FUGA

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            Park Jimin estava em uma refeição com sua mãe, a rainha, seu pai, o rei, a irmã mais nova e cerca de mais quinze pessoas, entre nobres e alguns familiares distantes. Suas refeições eram sempre assim. Às vezes, tudo o que o garoto queria era poder comer em paz no próprio quarto, ou dividir uma refeição comum com a mãe e a irmã (com o pai não), mas em sua posição, tudo devia ser visto, ouvido e compartilhado. Um simples almoço era a chance de uma aliança política, ou a chance de Jimin fazer uma grande burrada e seu pai perder um importante aliado político.

A bem da verdade, aquilo já tinha acontecido uma ou duas vezes.

Naquele almoço em particular, um dos senhores nobres que estavam dividindo a refeição com eles era o pai da garota que viria para o palácio nos próximos dias, para que Jimin a cortejasse.

A comida estava ótima, mas a sensação era que Jimin comia tacos de madeira temperados com cinzas de fogueira ferventados ao suor de porco.

- Minha filha é uma mulher notável – o homem disse, gabando-se. Jimin atentou-se ao adjetivo "notável". Que droga de elogio era aquele? Tinha quase certeza de já ter ouvido o cavalariço referir-se a um dos cavalos como notável. – Minha esposa deu a ela a melhor educação. Dócil... – Também aplicado a cavalos, Jimin pontuou mentalmente – Educada, fala baixo, borda esplendorosamente bem. Será uma ótima mãe e esposa. E com certeza, uma rainha ainda melhor, doce e benevolente.

Jimin demorou alguns segundos para perceber que o senhor havia dirigido a última sentença em sua direção. Os olhares na mesa se voltaram para ele, aguardando uma resposta do príncipe e futuro rei.

- Tenho certeza que sim – Jimin respondeu, sem graça, forçando um sorriso. Vislumbrou um olhar condenatório do pai em sua direção e prontamente ignorou. No mesmo instante o rei chamou a atenção do homem para outras questões e a resposta desanimada de Jimin foi esquecida. Servos entraram com mais comida e bebidas, e o garoto mal via a hora de sair dali logo e poder ter algum vislumbre do mundo exterior.

A conversa na mesa progrediu para outros rumos.

- O Lâmina de Aço fez mais uma vítima – Jimin ouviu um dos presentes falar.

- Outro nobre? – Um deles questionou, a taça parando à meio caminho da boca.

- Não é de se espantar. Ele matou o Choi Jun-re.

- Aquele velho desgraçado? Eu também o mataria se tivesse a chance.

- Muito cuidado com a sua boca, senhor – outro advertiu.

- Esse Lâmina de Aço está indo longe demais. – O Rei começou. – O que é isso? Uma espécie de cruzada contra os nobres? É ridículo.

- Eu já tive pesadelos com ele – uma das esposas presentes pontuou, fazendo alguns rirem, e outros revirarem os olhos.

- O intuito é justamente nos amedrontar. Não podemos ceder ao medo.

- Ele está pouco se importando com nosso medo, desde que receba pelos crimes.

Algum tempo depois, cansado daquela ladainha e vendo a hora se estender, Jimin pediu licença a todos os presentes.

- Com a licença de vocês, vou me retirar. Não estou me sentindo muito bem.

- O que está sentindo, filho? – A Rainha, Park Heejin disse, os olhos claros e calmos mostrando preocupação com o seu filho.

- Um pouco de indisposição. – Jimin disse, uma vez que "vontade de sair logo desse lugar e dar uma espiada no lado de fora do mundo" ainda não era considerada uma doença.

O Canto do Cisne {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora