4. O ENCONTRO

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            Jungkook estava sentado em uma das mesas mais afastadas da taverna. Ele havia passado as últimas duas horas seguindo sua próxima (e se tudo desse certo, penúltima) vítima. Kwan Rohim estava sentado em uma mesa bebendo com alguns amigos. Jungkook estava abarrotado até o pescoço de tanto tédio. Aquela era a parte mais chata de seu trabalho. Seguir as vítimas, conhecê-las e desvendar suas vidas até descobrir qual era o melhor momento para agir.

Apesar da sua altura e compleição física, Jungkook conseguia passar despercebido na maioria dos lugares. Ele era apenas mais um, uma vez que a maioria dos homens que estavam naqueles lugares não se importavam nem um pouco com a beleza dos seus traços. A pele clara, quase pálida, o maxilar bem desenhado que terminava em um queixo arredondado e fino, a boca vermelha, o nariz com uma ponte levemente arredondada e uma pinta discreta que o garoto já havia tentado arrancar na força do ódio. Os olhos eram grandes e redondos, apesar de serem puxados nos cantos como os de um tigre. A bem da verdade, não pareciam os olhos de um assassino altamente treinado.

Eram os olhos de um menino curioso, atento a tudo o que acontecia ao seu redor, que tinha ânsia por desbravar cada detalhe que o mundo ainda escondia. Eram olhos que tinham esperança, que pareciam estar sempre prestes a rir de alguma situação. Olhos de um garoto sonhador.

Jungkook já tinha sido tudo aquilo um dia. Talvez seus olhos fossem a única coisa que via quando olhava no espelho que o lembravam de tudo o que tinha sido um dia. Seus olhos eram a única fagulha de esperança que lhe restava, de que um dia ele seria capaz de deixar tudo aquilo para trás, que conseguiria recomeçar e deixar aquela parte de sua vida enterrada à sete palmos.

Jungkook tomou um gole da sua bebida, fingindo que não estava ouvindo e prestando atenção à cada sílaba que era dita três mesas ao lado, onde Kwan Rohim estava se gabando da punição que havia dado a um servo adolescente, deixando-o pendurado de cabeça para baixo a noite toda por ter feito algo que Jungkook não conseguiu entender.

Aquele homem revirava seu estômago.

Um dos amigos bateu em suas costas.

- É assim mesmo que se faz. Esses desgraçados não sabem quem é que manda? Isso me enoja.

A bebida desceu como pregos pela garganta do garoto. Às vezes, gostava de ser o Lâmina de Aço. Ele gostava quando via que tipo de pessoa ele matava. Quando via o quão asquerosas as pessoas podiam ser. Gostava principalmente quando entreouvia algumas conversas e percebia que ele havia se tornado uma espécie de "punição mística" para a classe nobre. Alguns deles já sussurravam o nome "Lâmina de Aço" com medo e reverência, como se o simples ato de citar seu nome pudesse invocar o assassino da sombra mais próxima, pronto para mata-lo.

Jungkook viu quando a porta da taverna foi aberta e um rapaz com cabelos loiros entrou. Não haviam muitas pessoas com aquele tom de cabelo naquele lugar, então foi impossível não deixar seus olhos correrem por ele, analisando cada detalhe. Aparentava ter aproximadamente a sua idade. Jungkook tinha 1,81m de altura. Aquele ali parecia ser um pouco mais baixo, talvez uns 8 centímetros mais baixo que ele. Se Jungkook fosse chutar alguma informação, diria que aquele rapaz não pertencia àquele lugar, apesar das roupas simples que usava.

O garoto parecia completamente perdido ao entrar na taverna. Olhou ao redor, e parecia estar quase com... Medo? Seria medo que Jungkook havia visto nos olhos do garoto? Já havia visto muitos sentimentos numa taverna masculina, mas medo provavelmente era a primeira vez. Viu o rapaz caminhar até o atendente e pedir alguma bebida.

Jungkook sacudiu a cabeça, culpando-se pela distração inesperada e voltou sua atenção integralmente para a mesa próxima onde sua vítima estava. Levou algum tempo para conseguir focar sua audição novamente para ouvir as conversas de mal gosto.

O Canto do Cisne {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora