5. A Tribo dos Domadores de Feras, Parte II

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Acordei após um salto repentino, descobri, em seguida, que estava em uma das tendas da aldeia. Me impressionei, confesso. O interior dela, apesar de simplório, retinha algo intrigante, como se houvesse algo que me fizesse sentir em casa. A iluminação era presente, a partir de pequenas engenhocas penduradas no teto que parecem casinhas de pássaros com algo luminoso dentro delas; os móveis estavam em falta, onde via-se apenas uma mesa grande feita de uma madeira avermelhada, que em torno de si estavam alguns tamboretes distribuídos em cada um de seus lados largos.

Mas algo que estava disposto na parede que me fez ficar mais curioso. Tratava-se de um grande filtro de sonhos. Ele era lindo e imerso em detalhes. Me levantei da cama e fui até o objeto decorativo. Ao que parecia, era todo feito a mão, utilizando linhas e uma mistura artística de penas pretas com roxas. Forçando a visão, já que era difícil de identificar o que estava bordado, aos poucos comecei a notar o que estava sendo exposto: tratava-se de uma árvore ao centro com figuras estranhas cercando-a, pareciam homens agonizando, presos às raízes da mesma. Era sombrio e, deveras, intrigante.

Com cuidado, toquei-o.

Uma voz mansa, seguido de um beliscado repentino na minha perna direita, me fez saltar para o lado. Meu coração palpitou feito uma bola de gude sendo arremessada contra o chão.

– Ai, credo! Que porra é… – interrompi os xingamentos no momento que encontrei os olhos de uma garotinha me observando.

– Olá, senhor Henry. Você finalmente acordou! – disse ela, sorrindo.

Ela não aparentava ter mais de cinco anos e, além do mais, era a réplica da irmãzinha mais nova do Kaio, a Molly. Tinha o mesmo cabelo enroladinho, os mesmos olhinhos cor de mel e até o rostinho único que só a Molly possuía — redondo e expressivamente alegre. Uma vez, eu e o Edward, vimos nosso amigo saindo com essa garotinha de uma loja de conveniência. Depois que o seguimos até onde ele morava, descobrimos a relação dele com a garota, sua irmã caçula. Foi só assim, através de uma aventura meio “stalker”, que descobrimos um pouco sobre sua vida secreta que ele fazia questão de ocultar.

– Todos estavam preocupados, sabe... Você deu um trabalhão! – Ela continuou a explicar. Seu jeito energético, em que demonstrava gesticulando, era tão fofo.

– Sobre quem você tá falando?

– Do chefe Darak, ué. Toda a tribo, na verdade. Tivemos que te carregar até aqui. Você parecia um tapete de tão leve que era. – riu.

Enquanto processava o que dizia, reparei que a garotinha não possuía um espírito animal, como o Kaio tinha o Matt. Provavelmente tinha haver com sua idade.

– Darak… Espera, e o Kaio? Onde ele tá?

Não sei o porquê, mas sentia um péssimo pressentimento.

– O Kaio... Ah, sim! Ele vai lutar com o Bjorn. Foi ele que me pediu pra te ver.

– Bjorn? O guerreiro mais forte da tribo?!

Ela assentiu, me observando com uma expressão curiosa.

– Tá, onde vai ser essa luta? – Me aproximei mais dela, na qual, recuou um pouco.

– No Coliseu da Aldeia...

– Então por isso que todos estavam ausentes quando chegamos… – pensei alto. – Me leva até lá?

Ela sorriu e, em seguida, assentiu com a cabeça concordando.

Antes de sair daquela tenda, a sósia da Molly me pediu para vestir algumas roupas que o Kaio havia me deixado ao lado da cama. Finalmente! Não via a hora de tirar aquele pijama do meu corpo – os trapos estavam marcados por manchas enormes de lama e rasgos visíveis.

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