𝐀𝐍𝐀 𝐉𝐔𝐋𝐈𝐀 é uma assistente pessoal especializada em agendas de pessoas importantes. Quando Lucia, sua velha colega se torna mãe, Ana é convidada para substituí-la em seu antigo emprego:
Gerir a vida de Richarlison de Andrade.
Avisos:
~ drog...
É UM DIA nublado em Londres. As nuvens cinzentas e o ar frio soprando pelas ruas cora as bochechas de Ana Julia, que assopra as mãos cobertas por luvas pretas, enquanto espera seu café ficar pronto do outro lado do balcão de uma padaria. Algumas pessoas conversam nas mesas ao redor, outras permanecem carrancudas e em silêncio, apenas desfrutando da própria companhia.
A atendente lhe entrega o copo branco e comprido, e Julia a agradece com um sorriso sereno. Olha o relógio de ponteiro no canto direito do estabelecimento e pega a agenda dentro da bolsa. Toma um gole do café, e ao engolir o líquido esboça uma careta retorcida. Definitivamente europeus não sabiam fazer um bom café. Se senta numa mesinha redonda, ao lado da grande janela de vidro, que lhe oferecia uma bela visão do centro de Londres.
Ela folheou as páginas do caderno e parou na data do dia. A lista era curta, mas o compromisso marcado definitivamente tomaria toda a sua tarde; O comercial de Richarlison para uma marca local. Ele deveria chegar ao estúdio de gravação as sete em ponto. Eram seis e cinquenta. Ana bebeu outro gole e abriu o Twitter no aparelho celular, lendo algumas notícias e rindo de besteiras que passavam por sua timeline. Ela desviou a atenção para a rua da capital Inglesa, que começava a ter suas calçadas abarrotadas de pessoas e as ruas movimentadas por veículos de todos os lados. Ana se levantou e saiu pelo frio londrino, caminhando até seu carro. Posicionou o telefone no pequeno suporte do painel, pondo o endereço do estúdio no GPS. São sete horas em ponto quando recebe uma mensagem na caixa de E-mail:
"Richarlison ainda não chegou, vocês estão vindo juntos?"
Julia engasga com o café, tendo que abrir o vidro e respirar fundo três vezes para o líquido retornar ao seu percurso normal dentro da garganta. Ela reprime os lábios e a vontade abundante que tem de gritar, espernear ou estapear alguém. Sem ao menos pensar duas vezes, liga o carro e arranca na avenida, cortando alguns veículos e levando belas cornetadas em resposta. Ela soca o volante, inspirando profundamente, tentando manter uma serenidade inxistente naquele momento.
Ana respirou fundo e passou uma série de justificativas em sua cabeça. Ele poderia estar a caminho, pensou. Talvez estivesse preso no trânsito ou parado para comer algo.
Ela pega a saída para o bairro de Richarlison e em menos de dez minutos está parada em frente a residência, caminhando, quase correndo em direção daquela casa. Julia rezava todas as orações que conhecia, apenas pedindo para que abrisse a porta e Richarlison não estivesse ali. Ela entrou. Nada na sala, nem no hall. Espiou a cozinha, intacta, e aí lhe restou apenas uma opção viável.
- Se ele estiver nesse quarto... - murmurou para si mesma, subindo os degraus da escada de dois em dois.
Ela chegou ao corredor gelado e viu a porta do quarto entreaberta e o breu vindo lá de dentro. Parou em frente a madeira e fechou os olhos com força, abrindo-os devagar, espiando aos poucos o vasto comôdo em sua frente. Descompressou a vista e uma bile amarga subiu por sua garganta.
