INSTINTO ^^

Aula prática ^^

Estava eu na aula, enquanto brincava com a caneta, tentava se esquecer tudo que o Kairus me disse.

Eu não tinha forças para suportar uma vida assim, sem sentimentos, sem objetivos, sem esperança, somente saciar minhas vontades, assim como eu vi o Kairus aquele dia, ele mordeu o pescoço do garoto. Pude notar naqueles olhos vermelhos uma fúria demoníaca, mas também notei a doçura de um homem que acabara de me proteger, onde já estava entregue aos lobos, eles saciariam sua fome, e eu os deixaria satisfeitos.

Eu não quero fazer isso com as pessoas, eu preciso dar um jeito de reverter essa situação, não posso aceitar que eu não tenha uma outra alternativa, não quero aceitar que tem apenas um caminho agora a seguir. Meus passos calmos me levam a minha perdição, sem escolher um caminho, apenas caminho entre as sombras e a luz, que já se apagará breve.

Quando o professor disse. 

— Bom alunos, hoje vamos ter uma aula prática, como estávamos estudando os órgãos mais importantes do corpo humano, vamos ver como se saem na prática — disse ele. 

Levantei minha mão e disse. 

— Professor! Aula prática? Tipo manipular um coração nas mãos? — perguntei. 

— Sim Yonus, afinal quer ser uma médica né — respondeu. 

— Sim professor — respondi desanimada. 

— Bom! Peguem seus livros e me acompanhem até o laboratório — disse ele. 

Todos os alunos saíram da sala, e eu sabia que não era uma boa ideia eu participar disso, tudo que o Kairus me disse, eu não ia aguentar lidar com sangue ou órgãos humanos. Seria o mesmo que tivessem levado um lobo feroz para um açougue de livre e espontânea vontade, eu já sentia as mudanças no meu corpo, meus sentidos, assim eu já me conhecia o suficiente para saber que eu não iria suportar.

Mas eu botei na minha cabeça.

" Você é forte, você consegue, você resiste, você ainda tem um coração humano cheio de amor ".

Peguei meus livros e segui atrás da última aluna indo dureto para o laboratório. Fiquei muito ansiosa, mas também muito apreensiva com a situação. Como se a qualquer momento uma fúria fugisse de mim, e começasse a mostrar toda a sua horripilante voracidade.

Todos os meus colegas estavam comentando que não viam a hora de tocar num coração de verdade. Eu ouvia os seus comentários, brincando, rindo da situação, praticamente levando tudo na brincadeira.

Mas eu, estava distante, preocupada com o que iria acontecer comigo, preocupada com minha mãe, e todos os que estão próximos a mim. Porque eu estou aqui? Porque eu continuo prisioneira de minhas próprias decisões? Porque eu não saio correndo desse laboratório, onde tem sangue, sangue e mais sangue.

Foi quando todos os alunos entram no laboratório, eu estava de cabeça baixa e dava  passos calmos, sem pressa de entrar no local. Fiz o máximo possível para demorar para adentrar o laboratório. A maioria dos alunos já adentraram, e eu me senti caminhando para a forca, pois eu não era mais tão humana assim.

O professor diz. 

— Mais rápido aí atrás, para prosseguir a aula. 

Quando cheguei na porta, olhei rapidamente para tudo, vi muita coisa ali, várias caixas brancas, com certeza eram ali que estavam os órgãos humanos. Foi quando em apenas dois passos para frente, meus olhos focaram numa pequena gota de sangue, que escorria pela caixa do lado de fora. Minhas pupilas dilatam seguidas vezes, meu olfato se aguçava com muita vontade, minha língua tocava no céu da minha boca.