A Página Final

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Recolhida em meu aposento, era muito tarde, como os demais eu deveria estar dormindo. Infelizmente me encontrava sem sono, de imediato minha cabeça foi invadida por pensamentos sorrateiros que estavam conectados uns nos outros, olhei para minha mesa de cabeceira onde tinha deixado meu livro. Faltavam apenas cinco páginas para que eu pudesse finalizar, como não tinha sono, decidi que o terminaria. A história era perfeita, contava sobre seres místicos e seus poderes, fascinante eu diria. Minha mãe costumava contar-me essas histórias, que saudade dela, queria que ela estivesse aqui para me acompanhar, tenho certeza que ela não iria gostar de me ver melancólica desse jeito! Peguei o livro e comecei a ler, enquanto lia comecei a pensar sobre cada ser e criar inúmeras teorias, o que me fez demorar ainda mais, finalmente a última página. Esta página era diferente, nela havia inúmeros desenhos e anotações, a letra era inconfundível, era a letra de minha amada mãe. Porém dei-me conta de que não eram anotações e sim uma mensagem deixada por ela, o texto dizia: " minha querida Viollet, temo que não conseguirei explicar-te certas coisas pessoalmente, por isso deixo esta mensagem. Acredito que você já tenha se tornado uma mulher a esta altura, pois pedi ao seu pai que lhe entregasse este livro quando fizesse 19 anos..." minha leitura foi interrompida por um barulho que vinha da porta, quem poderia ser uma hora dessas?

- Quem é?

-Sou eu Viollet.

A voz era inconfundível, Amélia estava do outro lado da porta.

- Decidi que antes de dormir precisava te falar algumas coisas, você precisa reparar os seus erros.

Erros? Do que ela estava falando?

- Acha que agir assim vai te levar a algum lugar? Destronar a condessa, o que você estava pensando? Ela é sua tia! Um membro de sua família, como pode ser tão cruel? Essas pessoas são as únicas que se importam com você.

Eu não sabia o que dizer, como ela havia descoberto aquilo? Não tinha comunicado nem o conselho.

- Começo a odiar essa Viollet, sabe porquê? Por que ela é rude, egoísta, fria e idiota.

- Se veio para dizer coisas que eu estou habituada a escutar, não perca seu tempo, pensei que diria algo inovador ou surpreendente.

Aquelas palavras me feriram, tratei-a com tanta frieza, mas meu coração se quebrava mais a cada palavra.

- Ficará sozinha se continuar assim, já está na verdade. A partir desse dia você passa a ser apenas a rainha para mim e eu sou só a filha da cozinheira. Boa noite alteza!

Teria me tornado uma pessoa tão horrível assim? Como pude ser tão ruim, talvez eu deva ir atrás dela e pedir desculpas, mas alguém pode me ver desse estado, Serei taxada de louca e descontrolada. Me rendi ao choro, mas uma vez estava naquela situação, cerca de uma hora depois consegui controlar-me, decidi que pegaria meu livro e terminaria de ler a mensagem de minha mãe, até que ouvi um barulho na porta.

- Amélia é você?

Será que ela voltou?

- Quem está aí?

O barulho se repetiu

Levantei-me e fiquei ao lado da cama

- Irei perguntar apenas mais uma vez, quem está aí?

Logo dei-me conta que o barulho não era na porta em si, mas sim na fechadura. Ela se abriu, e para minha sorte eram duas figuras conhecidas

-Surpresa, querida prima.

- Caleb, padre Vicent! Eu poderia saber o motivo dessa invasão? Era apenas o que me bastava.

- Minha prima, a pior de suas decisões foi ficar acordada até este momento, Iria ser mais fácil com você dormindo.

Disse o infame do meu primo entrando junto ao padre e fechando a porta de meu quarto

- estava chorando?

o que é que esse estrupício queria?

- Desde quando você se importa com as minhas dores Caleb?

- Eu e o padre viemos justamente para isso, acabar com as suas dores por você.

- Era apenas o que me faltava, façam o favor de se retirar do meu quarto.

- Prima você sempre foi uma tola, bondosa demais, gentil, isso chega a ser irritante. "As criaturas mágicas" não me admira que seja louca igual à sua mãe.

Enquanto dizia folheava o meu livro com um ar de desdém

- Não ouse falar de minha mãe seu rato imundo.

- Vossa majestade, peço que se acalme, andei conversando com sua tia e seu primo e tomamos uma decisão, Para o bem do reino.

- Pois bem, gostaria de saber a qual decisão o senhor se refere?

- Você não irá subir ao trono.

- O senhor está zombando da minha cara, perdão Padre, mas isso é uma afronta a minha pessoa. Afinal eu sou a herdeira legítima do trono de Monterás.

- Não poderão dar o trono a um morto.

Após a fala de meu primo eu tinha compreendido o motivo daquela reunião.

- Caleb, amarre-a!

Ordenou o padre em um tom calmo

- Não toque em mim.

Minha fala não adiantou muita coisa, Caleb era mais forte que eu. Pensei em gritar, porém isso não adiantaria, as paredes eram resistentes ao som.

- Acha que o reino não descobrirá esse assassinato? Como vocês pretendem esconder a morte da rainha?

- Não iremos esconder querida, logo ao amanhecer o reino ficará ciente de sua morte.

O Padre mantinha o olhar tenebroso e cruel.

- Entenda Viollet, você é uma mulher que subiria ao trono sozinha, uma vergonha eu diria.

- Comentários tão podres só poderiam vir de uma trápola como você.

- Em poucos dias eu me tornarei o rei e você se tornará um cadáver ainda esta noite.

- Vindo de meu primo isso não me admira, mas o senhor padre Vicent é um patife, a igreja e o povo confiam na sua palavra! EU CONFIEI EM SUA PALAVRA!

- Monterás nunca irá prosperar com você no trono, aliás a senhorita é apenas uma versão diferente da imagem fraca de seu pai. O que livrava o rei Dominic era o fato de ser um homem, sejamos sinceros, você é apenas uma jovem moça ingênua, frágil, inútil e dispensável.

Aquelas palavras eram podres

- Nem um marido conseguiu arranjar, o que é realmente lamentável! Você é bonita Viollet, sabe o que te atrapalha?! Sua personalidade, nenhum homem deseja uma mulher que se mostre demais.

- Homens como você não desejam isso, quer saber o porquê? Porque você e burro, mulherengo e fraco.

- Já chega! Não permitirei que me insulte.

Caleb estava enfurecido. A esta altura eu já tinha tentado me desamarrar inúmeras vezes, porém o nó era forte demais.

- Vamos acabar com isso logo, é uma pena que uma jovem como você tenha um fim tão cruel, mas isso é melhor para o reino.

O padre tinha um olhar frio e em seu rosto havia um sorriso perverso. Eu já tinha aceitado o meu destino, afinal eu não poderia fazer nada no momento.

- Últimas palavras vossa majestade.

- Se a morte é o meu destino, irei enfrentá-la com honra e coragem.

- Comovente, se eu não fosse te matar eu até sentiria pena.

Meu primo tirou uma adaga do bolso, se aproximou e a cravou em meu peito. Acabou, esse era o último dia de minha vida, me arrependo de poucas coisas, uma delas é não ter terminado o meu livro, talvez se não tivesse demorado tanto eu teria lido a última página. Sentia meus batimentos cada vez mais fracos, afinal parece que eu tinha chegado na última página do livro da minha vida.

O Legado da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora