Jantar apenas com a luz das velas

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Estava na hora do jantar, Viollet tinha se sentado em seu lugar, depois da tarde juntas ela parecia mais feliz. Tenho ela ao meu lado desde que nasci, nossas mães eram melhores amigas, então com nós não foi muito diferente. Já tinha a visto passar por diversas dificuldades, mas sempre teve uma luz própria, como se sua alma fosse uma chama acesa. Quando dei-me conta ela estava a me olhar, lançou-me um sorriso que transmitia felicidade. No momento que vou me sentar à mesa a condessa dispara:

- Criados não podem se sentar conosco.

Um pouco envergonhada digo:

- Perdão.

- Por favor, Amélia, sente-se.

Viollet mantém o sorriso direcionado para mim e para minha mãe.

- Sempre fiz questão de que Penélope e Amélia se sentassem à mesa, estamos tratando não só de criados, são parte da família.

A condessa não parece ter gostado da resposta dada então retruca

- Não seja tola Viollet, não passam de uma empregada e sua filha medíocre.

Por um momento vi o ódio no olhar da minha melhor amiga, minha mãe sussurrou de longe para ela: "tudo bem, não se preocupe".

- Se a senhora se incomoda tanto, porque não se retira? Não vejo problema algum em jantar apenas com a "empregada" e a "filha medíocre" dela.

Eu sabia que ela não seguraria a língua.

- ISSO É UM ABSURDO, COMO PODE NOS TRATAR ASSIM.

Caleb esbraveja enquanto se levanta da cadeira, ele fez a pior besteira da vida dele, enfrentou uma decisão de Viollet.

- Você também? Pode se retirar junto de sua mãe se quiser, não abrirei mão das minhas acompanhantes de maneira alguma. Por algum meio, eu souber que qualquer criado meu está sendo maltratado por vocês mandarei serem presos imediatamente, este é meu primeiro decreto como rainha, satisfeitos?

A condessa e seu filho não responderam e saíram enfurecidos do salão de jantar.

- Vossa alteza por favor, não enfrente sua família por nossa causa, afinal estão certos....

Ela interrompeu a fala da minha mãe antes mesmo que pudesse terminar.

- Penélope, foi como uma irmã para minha mãe e meu pai tinha afeição pela senhora. Considero Amélia uma pessoa crucial em minha vida, durante todos esses anos se sentaram a mesa e continuaram ocupando os seus respectivos lugares.

- Não vai poder fugir da sua tia para sempre Vio.

- Não estou fugindo Amélia, apenas guiando o caminho para que minha tia aceite minhas opiniões e ordens.

Sempre que Viollet discutia com seus familiares ela perdia o brilho, talvez aquilo fosse o reflexo do cansaço das constantes desavenças. Logo terminamos o jantar, o clima entre nós três se manteve agradável, sabia que ela apenas estava fingindo estar feliz, subi com ela para o seu aposento.

- O jantar foi maravilhoso, não acha?

Talvez por todos esses anos ela só fingia ser completamente feliz, afinal a vida dela nunca foi um completo mar de rosas e um dos poucos motivos de seu sorriso havia partido a pouco tempo.

- Amélia...

Dei-me conta que ela estava a me chamar.

- Oi? Disse algo?

- Estava viajando em seus pensamentos de novo?

Ela riu

- Você não tem jeito.

Eu estava com medo, por mais que ela sorrisse, não sabia do que seria capaz para sua dor cessar.

- Você sabe que é minha melhor amiga, não sabe?

Me olhou com uma cara confusa

- Eu sei, você faz questão de deixar isso claro.

- Minha mãe me contou que ela e a rainha eram como nós, inseparáveis, praticamente irmãs. Disse que quando sua mãe faleceu ela entrou em desespero e mal conseguia dormir, ela ficou profundamente triste.

- Você nunca tinha tocado nesse assunto comigo, onde quer chegar com isso?

Ela estava confusa, pude ver em seu rosto.

- Viollet sua mãe... ela.

- Amélia? O que é que você está hesitando a me contar?

- Ela tirou a própria vida.

Vi sua face empalidecer, se segurando para não chorar.

- Isso é impossível, ninguém sabe o motivo do óbito.

- Sabem sim, só que éramos crianças demais para termos conhecimento disso. Me perdoe, mas seria pior se outra pessoa te dissesse isso, eu jamais permitiria que sua tia lhe contasse isso de uma maneira rude e cruel.

Ela se manteve de cabeça baixa e em silêncio, até que me abraçou. Pude e escutar ela sussurrar:

- Obrigado.

Não me contive e comecei a chorar.

- Então é por isso que cuida tanto de mim, tem medo de que acabe como minha mãe?

Ela perguntou enquanto secava as lágrimas.

- Tenho, porque sei que você não está num momento bom da sua vida, tenho medo do que possa vir a fazer para sentir que está livre.

Sorriu e balançou a cabeça.

- Sua tola, eu jamais deixarei você sozinha aqui, vai ter que se livrar de mim de outra maneira!

Começamos a rir de nós jogamos na cama.

- Obrigado Viollet

- Obrigado Amélia.

O Legado da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora