Baile do Inferno

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A noite seria longa, mas estou disposta a sacrificar o que resta de minhas forças para realizar o desejo de Amélia. Estava devidamente pronta, os convidados já haviam chegado, era hora de começar mais uma atuação, foi anunciada a minha chegada ao salão

- Boa noite, é uma honra receber todos os aqui presentes hoje. Creio que não há nada melhor do que uma festa para sempre reafirmar os laços da paz que foram construídos entre nossos reinos. Não esperem um discurso homérico essa noite, espero que todos aproveitem o baile.

Os convidados aplaudiram. Entre um comprimento e outro eu procurava minha melhor amiga.

- Sempre se portando muito bem, não é vossa majestade.

- Ah que prazer relevo príncipe Jacob!

Jacob e eu éramos amigos de longa data, já tínhamos participado de diversos eventos em conjunto, era um rapaz encantador.

- Gostaria que conhecesse minha noiva, a princesa Felícia.

- Vossa Alteza

Ela fez uma reverência.

- Podemos deixar as formalidades de lado.

Rimos em conjunto.

- Se me dão licença moças eu irei conversar com os cavalheiros.

Jacob saiu deixando-me com a princesa.

- Monterás é um reino encantador, estou admirada com a beleza deste lugar.

- Creio que os reinos do Sul também sejam lindos, já ouvi falar de muitos deles, a qual a senhorita pertence?

- Sou de Sutam.

Sutam era um reino do Sul, sempre fomos parceiros de comércio e lutamos na guerra lado a lado.

- Sempre será bem-vinda em meu reino Viollet.

- E você sempre será muito bem-vinda para visitar Monterás.

Estávamos conversando algumas horas, Felícia era muito agradável, conseguimos manter uma conversa verdadeiramente maravilhosa.

- Logo me casarei com Jacob, estou um pouco nervosa para falar a verdade.

- Não posso dizer que te compreendo, pois ainda não estou comprometida.

Ela parecia realmente tensa.

- Viollet, será que posso lhe confiar um segredo.

Um segredo? O que é que está por vir.

- É lógico.

- Estou grávida, achamos melhor não contar a ninguém por conta dos inimigos que podem oferecer algum mal. Mas acredito que você jamais faria mal a nós.

- Como você se sente?

- Sou a mulher mais feliz do mundo.

Ela realmente parecia feliz

- Meus parabéns, sei que você e Jacob serão ótimos pais.

- Saberemos em breve.

- em breve?

Eu estava confusa.

- Estou com aproximadamente oito meses.

- Como assim?

Ela riu

- Como o vestido é extravagante, fica fácil de esconder.

Estava impressionada

- Você é uma gênia felícia.

Ela segurou minha mão e disse:

- Senti algo muito especial com você esta noite, meu noivo já tinha me dito como sua pessoa era gentil, mas percebo que seja mais que isso. Quero que meu filho sempre possa ter contato com alguém assim, e eu também. Nós cogitamos você como madrinha do nosso neném.

Fiquei em choque, eu madrinha de uma criança?

- Tem certeza disso? Eu não sei, talvez tenha outro alguém...

- Eu ficaria feliz que fosse você.

Continuei indecisa, mas talvez a emoção teria sido mais forte.

- Eu aceito então.

- Obrigado!

Ela me deu um abraço. Passaram-se mais algum tempo, nada de Amélia. Onde ela estaria? Logo senti algo tocando meu ombro, era ela, pegou a minha mão e me arrastou para o lado de fora onde se situava uma mesa com algumas frutas e comidas frescas para os convidados. Quando fui tentar falar com ela, fui interrompida pela própria.

- Viollet conheça meu namorado.

Namorado? Minha cabeça tentou processar a frase.

- Vossa majestade é um prazer conhecê-la.

- O prazer é todo meu.

Um homem claramente mais velho, cerca de vinte cinco anos, Amélia só poderia ter batido a cabeça. Ele se foi e nos deixou a sós.

- É isso, queria te apresentar, logo iremos nos casar e irei me mudar de reino.

Era a facada final, não seja tão egoísta, ela precisa ser feliz.

- Você não vai dizer nada?!

Estava calculando o que soaria melhor.

- Fico feliz por você.

Ela não pareceu gostar muito do que ouviu

- É isso que tem a me dizer?

- O que espera que eu faça? A impeça de se casar?

- No mínimo algo parecido com que a Viollet diria se soubesse que vou ter um casamento arranjado pelo meu pai.

- Eu pensei que estava feliz, pelo menos é o que parecia a dois minutos atrás, antes de você começar a brigar comigo.

- Agora sabe como eu me senti hoje mais cedo, acho justo.

Ela estava me punindo, ótimo, me sinto um monstro agora.

- Não vamos discutir aqui, se você quer se casar e mudar de reino é escolha sua. Não vou te apoiar ou tentar te impedir, a decisão é sua Amélia, não minha.

- É, você está certa, eu escolho ser feliz Viollet, algo que você não entende. Talvez seja a minha chance de viver um amor...

- Um amor? Com um desconhecido?

Como as pessoas tratavam o amor dessa maneira? Isso me deixa perplexa.

- É um desconhecido agora, vamos nos apaixonar.

- Isso é o cúmulo da insanidade.

- São assim que as coisas funcionam Viollet. Acorde desse seu mundo de fantasia e para de agir assim. Não seja tão teimosa, você sabe o que tem que fazer, só não faz por puro medo, qual é o seu problema?

Senti meu coração disparado mais uma vez, estava começando a doer, eu tinha feito a mesma coisa com ela esta manhã. Era a primeira vez que gritamos uma com a outra.

- Eu não sei, passar bem Amélia.

Decidi que não aguentaria ficar mais um minuto sequer nessa festa.

- Se alguém perguntar sobre mim, diga que a rainha não estava se sentindo muito bem e foi repousar.

- Sim senhora alteza.

Fui ao meu aposento e deixei que a festa continuasse.

O Legado da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora