Capítulo III - Disagreements

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- Sayuri? Está acordada?

Elina, a criada mais jovem da casa, bateu à porta e esperou algum tempo até que a dona do quarto a respondesse. A pedido da própria Sayuri, era Elina quem cuidava diretamente da mais nova, mesmo com o liame empregatício de empregada e empregador, ambas tinham um laço de amizade que ia além disso, entre outras coisas, ela era mais irmã do que funcionária.

Ouviu-se o som de algo caindo no chão e Elina preocupada, adentrou o cômodo dando de cara com uma Sayu com o rosto no chão.

- Você está bem? - Reprimia uma risada enquanto se aproximava dela para a ajudar a se levantar. - Machucou em algum lugar?

- Não. - Sentiu seu corpo se erguer lentamente até que ficasse de pé. - Estou bem, não se preocupe. Acredito que acabei dormindo perto da beirada outra vez hehe.

Elina se deixou rir brevemente da imprudência da outra.

- É a décima vez que isto acontece, Sayuri. Vai quebrar algo aí dentro se continuar caindo da cama. - Apertou sua bochecha como forma de repreensão. - O café já está servido, quer que eu prepare um banho e roupas para a senhorita?

- Por favor, Elina. - Pediu para a criada.

Sayuri se encontrava sentada na cama enrolada em uma toalha felpuda esperando que Elina terminasse por escolher as roupas do dia, sinceramente ela não ligava para o que vestia, não poderia ver mesmo, entretanto, Elina fazia questão de escolher sempre as melhores roupas para ela.

A criada voltou para perto da mesma com uma pequena muda de roupas e a deixou ao lado de Sayuri logo se virando de costas para a mesma, apenas ajudaria caso ela pedisse. Virou-se novamente assim que ela estava pronta e um sorriso satisfeito se fez presente em sua boca, ela estava perfeitamente adorável com uma blusa branca de manga comprida e um vestido preto de jardineira por cima, nos pés um coturno preto com o salto pequeno.

- Você está linda, Sayu. - Se aproximou da mais nova e esta enlaçou o braço no seu.

- Obrigada, Elina. - Agradeceu levemente corada. Não era acostumada a ser elogiada.

Assim que terminou o café, caminhou para o sofá onde se sentou e começou a ler um livro qualquer que achou na estante enquanto esperava pela sua companhia de todos os dias. Duas semanas já haviam se passado desde que aceitará o pedido de sua Arconte. Os primeiros dias foram terríveis para a pobre garota, já que dentre dez palavras proferidas por ele, pelo menos oito eram sobre alguma piada relacionada a sua capacidade visual, secretamente respirava bem fundo para não utilizar de sua Visão para o esmagar com algo. Com o passar dos dias as piadas foram ficando tão rotineiras que ela mesma se pegava fazendo a mesma coisa com ele, aquele garoto estava a corrompendo com seus sarcasmos e ironias desequilibrados. Com muito esforço conseguia fazer com que ele falasse algo sobre si, mesmo que fosse algo irrelevante demais, mas, pelo menos, era algo.

- Senhorita Sayuri. - Uma voz firme tirou sua atenção do livro. - A senhorita tem visita.

- "Ele já chegou? Deve querer se livrar de mim o mais rápido possível." - Riu com o pensamento. - Peça para que entre, por favor, Diana.

- Sim, senhorita. - A criada foi embora.

Diana, a empregada e governanta da casa, agia como uma mãe na maior parte do tempo, repreendendo tanto Sayuri quanto em Elina sempre que ambas aprontavam algo perigoso. Mas a governanta era uma mulher doce e gentil. Quando o patrão não estava em casa e Elina já havia partido para a sua própria, principalmente em dias chuvosos, Diana acolhia a jovem em seus braços protetores como uma verdadeira mãe de modo a tentar diminuir a dor que esta sentia, ela sabia sobre a história da garota, tudo que ela havia passado até chegar nos braços de seu chefe naquela noite tempestuosa.

Lírio de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora