Um punho fez contato com o lado da cabeça de Harry, erguendo-o do chão. Luzinhas brancas cintilaram diante dos seus olhos. Pela segunda vez em uma hora, ele sentiu a cabeça rachar ao meio; no momento seguinte, estatelou-se no chão e a varinha voou de sua mão.
– Seu lesado! – berrou Harry, os olhos marejando de dor, ao mesmo tempo que tentava levantar apoiado nas mãos e nos joelhos, apalpando freneticamente a escuridão. Ele ouviu Duda tentar se afastar, bater na cerca da travessa, tropeçar.
– DUDA, VOLTA AQUI! VOCÊ ESTÁ CORRENDO DIRETO PARA A COISA!
Ouviu-se um guincho horrível e os passos de Duda pararam. No mesmo instante Harry sentiu um frio paralisante às costas que só podia significar uma coisa. E havia mais de uma.
– DUDA, FIQUE DE BOCA FECHADA! FAÇA O QUE QUISER, MAS FIQUE DE BOCA FECHADA! Varinha! – murmurou Harry, nervoso, suas mãos saltando pelo chão como aranhas. – Onde está... varinha... depressa... lumus!
Ordenou o feitiço automaticamente, desesperado por uma luz que o ajudasse em sua procura – e, para seu alívio e descrença, a luz acendeu a centímetros de sua mão direita – a ponta da varinha acendeu. Harry agarrou-a, ficou em pé e se virou. Seu estômago deu voltas. Um vulto altaneiro, encapuzado, deslizava em sua direção, flutuando sobre o solo, sem pésnem rosto visíveis sob as vestes, sugando a noite à medida que se aproximava. Cambaleando para trás, o garoto ergueu a varinha.
– Expecto patronum!
Um fiapo de fumaça prateada disparou da ponta da varinha e o dementador retardou o passo, mas o feitiço não funcionara direito; tropeçando nos próprios pés, Harry recuou mais, à medida que o dementador avançava para ele e o pânico anuviava seu cérebro – concentre... Um par de mãos cinza, sarnentas e viscosas se estendeu para ele. Um ruído crescente invadiu seus ouvidos.
– Expecto patronum!
Sua voz soou abafada e distante. Outro fiapo de fumaça prateada mais tênue que o anterior saiu da varinha – não conseguiu mais do que isso, não conseguiu realizar o feitiço. Harry ouviu uma risada em sua mente, uma risada desagradável e aguda... sentiu o cheiro podre do dementador, um frio letal encheu seus pulmões, afogando-o – pense... alguma coisa alegre...
Mas não havia felicidade nele... os dedos enregelados do dementador começaram a se aproximar de sua garganta – a risada aguda tornou-se cada vez mais alta e uma voz falou em sua mente:
"Curve-se para a morte, Harry... talvez ela seja indolor... eu não saberia dizer... Nunca morri..."
Ele nunca reveria Rony e Hermione... E os rostos dos amigos surgiram com nitidez em sua mente enquanto ele lutava para respirar.
– EXPECTO PATRONUM!
Um enorme veado de prata irrompeu da ponta de sua varinha; a galhada do animal atingiu o dementador na parte do corpo em que deveria estar o coração; o dementador foi atirado para trás, imponderável como a escuridão e, quando o veado avançou, ele se precipitou para longe, como um morcego, derrotado.
– POR AQUI! – gritou Harry para o veado. Dando meia-volta, ele saiu correndo pela travessa, segurando no alto a varinha acesa. – DUDA? DUDA! Harry deu apenas uns dez passos e já os alcançou: Duda estava enroscado no chão, os braços cruzados sobre o rosto. Um segundo dementador agachava-se para ele, agarrando seus pulsos com as mãos escorregadias, forçando-as a se separarem lentamente, quase carinhosamente, aproximando a cabeça encapuzada do rosto de Duda como se fosse beijá-lo.
– PEGA ELE! – berrou Harry, e, com um ruído de força e velocidade, o veado prateado que ele conjurara passou a galope. A cara sem olhos do dementador estava a menos de três centímetros de Duda quando a galhada de prata o atingiu; ele foi atirado para o ar e, como seu companheiro, saiu voando e foi absorvido pela escuridão; o veado se dirigiu a meio galope para um extremo da travessa e se dissolveu em uma névoa argentina. A luz, as estrelas e os lampiões recobraram vida. Uma brisa morna varreu a travessa. As árvores farfalharam pelos jardins dos arredores e o ruído abafado dos carros no largo das Magnólias encheu mais uma vez o ar. Harry ficou muito quieto, todos os seus sentidos vibrando, procurando absorver o retorno à normalidade. Passado um instante, ele percebeu que sua camiseta estava grudada ao corpo; ele estava alagado de suor. Não conseguia acreditar no que acabara de acontecer. Dementadores ali, em Little Whinging.
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O Bastardo das Trevas
FanficAo ganhar o Torneio Tribruxo, Harry é obrigado a comemorar a vitória junto com o pessoal da sua casa, mesmo que ainda esteja de luto por Cedrico. Na comemoração o vencedor acaba bêbedo demais e vai parar na cama de um desconhecido. Em um novo ano em...