Sobre reis, rainhas e inimigos

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Thomas seguiu a rainha e seu mordomo por um dos corredores do castelo, e não sabia em que prender os olhos. Havia portas por todos os lados, escondendo salões desconhecidos, além de enfeites e quadros pendurados nas paredes, mostrando pessoas de ar nobre, alguns deles sendo homens com barbas longas parecendo feiticeiros e mulheres que pareciam guerreiras antigas.

Eles seguiram até um salão com janelas trancadas, mas cujas cortinas abertas deixavam entrar a luz do sol, iluminando a grande mesa no centro do salão.

Êkila se sentou à direita do grande assento no fim da mesa, que devia pertencer ao rei, enquanto Markúz se sentou à esquerda. Ambos fizeram sinal para que Thomas sentasse ao lado do Transfigurador e ele obedeceu.

Sentar tão perto da cadeira do rei... Thomas sentiu sua barriga revirar. Aquele não era o tipo de lugar a que ele pertencia, Thomas vinha de lares pequenos e simples, ele não era um rapaz de salões grandiosos e enfeites pomposos.

Ele se ajeitou na cadeira – surpreendentemente confortável – enquanto o que devia ser o café da manhã era servido, embora ele chamaria aquilo mais de uma "ceia completa".

– Jovem Thomas. – Êkila disse, chamando a atenção do rapaz. – Markúz me disse que... Quando Édna o encontrou, você disse não ser o guerreiro... – Ela parou por um momento e Thomas quis se jogar embaixo da mesa. – E também que não sabe de nada sobre o poema a seu respeito.

– É tudo verdade... – Ele disse simplesmente.

– Entendo. – Êkila hesitou novamente, pensando melhor no que dizer. – Diga-me, o que você sabe?

Thomas corou, desconfortável, quando todos os olhos se voltaram para ele.

– B-bem pouco? – Ele se ouviu falando. – Quero dizer, eu sei o que Édna e Markúz me disseram. Que o Grande Reino precisa de ajuda por causa de... A-adra-iu-de...?

Êkila assentiu, suas sobrancelhas brancas se unindo.

– Certo. – Êkila murmurou. Ela se inclinou na direção de Markúz e perguntou alguma coisa em sua língua, a que Markúz respondeu. Thomas podia não entender, mas sentia que estavam falando sobre ele. Êkila suspirou, parecendo um tanto incomodada. – Certo... – Ela repetiu.

– Que expliquemos a ele o que aconteceu, Êkila. – Markúz disse em um tom de voz forte e Êkila lhe lançou um olhar estranho.

Thomas olhou de um para o outro, confuso e um tanto nervoso.

– Sim, é melhor explicar algumas coisas. – A rainha disse, se voltando para o humano. Thomas diminuiu diante daqueles seus olhos vermelhos. – Sim, Adraúde é quem está colocando tudo o que temos, tudo o que o Grande Reino é, em perigo.

Thomas sentiu um arrepio, mas se inclinou para a frente, ignorando o prato à sua frente – que tinha sido cheio para ele em algum momento sem ele notar.

– Por anos, o Grande Reino é regido por meu marido, Kìre. – Êkila contou. – É claro, porém, que Kìre não pode fazer esse trabalho sozinho. Por isso ele tem à mim e ao Conselho. – Ela assentiu para Markúz e então adicionou com ar de desgosto. – E... Adraúde... – Êkila suspirou. – Adraúde foi erguida ao cargo de 'governadora' há alguns anos, com o meu apoio e o de meu marido. Seu dever é simplesmente supervisionar nosso reino, nosso povo; manter contato com os guardiões das cidades maiores; cuidar de trabalhos menores e trazer os mais importantes para o conhecimento do rei. E ela fez seu trabalho como devia, até o desaparecimento de meu marido...

– O que aconteceu...? – Thomas perguntou.

– Kìre partiu meses atrás para as ilhas distantes. Missões diplomáticas. – Êkila adicionou, embora aquilo não parecesse importar. – Alguns meses atrás, seu navio foi avistado chegando às praias de Ângâm Múlta, mas desde então, não tivemos mais notícias dele. – Ela soava triste ao dizer aquilo, e um tanto nervosa. – Grupos de busca foram imediatamente mandados para encontrar algum sinal dele ou da tripulação do navio, tanto ao sudeste quanto pelo resto do reino. Mandamos frotas para além do oceano, mas nada até agora.

A Saga do Destino livro 1 - A Chave ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora