Através do Portal

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A noite estava fria e nublada, Thomas ficou feliz por ter colocado a blusa. Ainda estava confuso e nervoso, e tudo que sabia era que estavam se dirigindo para o caminho entre os condomínios. O que viria depois daquilo, ele não tinha a menor ideia.

Embaixo da luz fraca das lâmpadas de rua Thomas pôde ver melhor o que a garota usava. Parecia um tipo de collant vermelho ou algo do tipo, com a parte de baixo escondida por um calção que chegava até seus joelhos, preso no lugar por um cinto amarelo. Era uma roupa um tanto estranha... E, a vendo daquele modo, ela parecia ainda mais real do que antes.

O que o deixava ainda mais nervoso. O que ele estava fazendo? Era como se ele tivesse se transformado em um daqueles personagens de filme de que ele fazia piada por serem idiotas ou curiosos demais!

Édna parou de repente, fazendo o garoto se chocar contra suas costas. Thomas se desculpou, mas se calou.

Tinham chegado ao tapete azul e verde.

Thomas se sentiu desconfortável.

– Afaste-se. – Édna tirou uma pequena lâmina cinzenta do cinto em volta de sua cintura.

Thomas se afastou da garota, sentindo um arrepio ao vê-la erguer a pequena faca.

– Isso é uma faca?! – Ele exclamou.

Édna o lançou um olhar e o rapaz notou que o canto de seus lábios ergueu levemente. O desconforto se intensificou. Ela girou a adaga - uma adaga de verdade - de modo confiante e Thomas sentiu seu estômago revirar. Se Édna queria que ele confiasse nela, ela estava fazendo um terrível trabalho... Mas então ela fincou a lâmina no tapete e se afastou, fazendo sinal para o garoto fazer o mesmo.

Um som lento ecoou pelo corredor, estranho, como o som de pedras rolando, e, acompanhando o som, uma pequena rachadura surgiu na parede. Ela cresceu rápido e outras rachaduras a seguiram, se conectando uma à outra como fios de uma teia de aranha, até criarem uma nova forma.

E então, entre as rachaduras, a parede, uma vez coberta de pichações e musgo, se encheu de luz. Thomas piscou, tendo de fechar os olhos com a intensidade dela.

Mas logo a luz sumiu, dando lugar à uma imagem: uma estradinha de pedras se esticava até sumir dentro de um paredão de árvores, o céu escuro acima dela estava limpo e a lua e as estrelas iluminavam o lugar, embora houvesse uma pequena linha alaranjada acima das árvores, mostrando que o sol ou se erguia ou se punha, não dava para ter certeza.

Sim, totalmente um sonho., ele decidiu.

Édna se voltou para ele, ainda sorrindo daquele jeito estranho, e acenou para o portal.

– Vá em frente.

Thomas não se moveu, ficou parado e observou por um momento.

Parte dele dizia que aquilo era insano, ele devia voltar para casa imediatamente. Mas... Ele examinou a imagem através do portal e sentiu seu coração bater mais forte, e não de medo ou desconforto. Durante toda a conversa com Édna ele não tinha se sentido assim, mas agora ele estava curioso.

Estava diante de um portal para outro lugar, um outro mundo. Fazia um bom tempo que ele não sentia aquilo, essa vontade de explorar, de descobrir... Quando ele tinha perdido aquele sentimento?

Thomas esticou a mão com cuidado e o medo retornou por um momento. Céus, no que ele estava se metendo? Mas ainda assim ele continuou. Ele se arrepiou quando sua mão tocou o portal, não havia parede alguma ali, mas ele ainda sentiu como se houvesse alguma coisa, invisível aos olhos, que ele só pôde sentir em sua pele.

No corredor o tempo estava frio e úmido, mas do outro lado o ar era quente e aconchegante.

Ele ousou erguer o pé por cima do tapete e, quando notou, estava do outro lado do portal. Ele podia ouvir o som de grilos entre as plantas e sentia as pedrinhas finas estalando em baixo de seus tênis.

A Saga do Destino livro 1 - A Chave ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora