Oitavo capítulo: Visão de Malfoy - Dor

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Ponto de vista | Draco Malfoy

Quando me dei conta eu estava um caco e minha vida estava começando a desmoronar à minha volta. Já tinha se passado uma semana que eu tinha percebido que a quem eu estava apaixonado havia ido embora, me largado como todos os outros que me relacionei.

Eu não me sentia nada além de um trouxa que por algum momento tivera a esperança de encontrar algo verdadeiro. Que Harry não me amasse, mas que fosse meu amigo ou tivesse a decência de sair da minha vida com alguma consideração.

O dia estava ensolarado janela a fora do meu apartamento. Queria poder estar feliz pelo dia bonito, mas lá estava eu, largado no sofá, de pijama e cabelos bagunçados, enquanto comia salgadinho. Tudo o que eu queria era um copo de whisky, mas sabia que essa seria a pior ideia de todas, pois se eu começasse eu não pararia até eu acabar a garrafa.

Ao fundo escutei a porta abrindo, talvez fosse Anne, então nem me movi, mas não, era a minha mãe que chegou com seu saltinho baixo segurando meu rosto com as mãos.

"Vai me contar agora o que está acontecendo!"

"O que..."

"Por Deus, Draco, você me ignorou a semana toda e mentiu que iria estar ocupado neste fim de semana!"

"Como..."

"A senhora Ross me contou que não estava bem. Olha para você, olha para o seu apartamento, filho!"

"Mas você mal..."

"Eu não preciso passear para saber que está uma zona. Olha o sofá todo sujo de porcaria, a mesa de centro também! A sua mochila e sapatos largados na entrada... O que houve?"

"Nada demais, eu vou ficar bem, só precisava de um tempo para mim."

"Mentindo para sua mãe? Se me dissesse eu teria respeitado seu tempo."

"Não, não teria." Suspirei fundo. Eu a entendia, entendia sua preocupação comigo, porque eu já tinha passado por coisas piores e me afundado antes de melhorar. Não tinha sido uma época bonita minha.

"Filho, o que..."

"Eu não quero falar sobre isso."

"É sobre aquele garoto?"

Fiquei quieto, encarando a Coca Cola sobre a mesa de centro.

"Vocês brigaram?"

Não respondi.

"Ele te largou?"

Não era sobre Harry, exatamente, apesar de eu gostar muito dele, mas era sobre mim e como eu nunca conseguia atrair ninguém o suficiente para ser fiel a mim e me entender.

"Filho..."

"Mãe, eu já disse que eu não quero falar sobre isso."

"Ignorar a questão, seja ela qual for, não vai ajudar, você sabe disse, querido. Já procurou a doutora?"

"Eu não quero falar sobre isso."

Sim, eu estava sendo um babaca com a minha mãe, mas eu não aguentava falar sobre qualquer coisa que fosse e ela percebeu isso. Vi a chateação dela ao não deixar ela se aproximar. Ela se levantou e disse me dando um beijo na testa: "Eu venho jantar quarta, está bem? Fica bem. Você sabe que estou aqui com você sempre."

"Eu sei."

"Te amo, ursinho."

"Também te amo, mãe."

***

Eu tinha ficado com Harry por pouco mais de dois meses e mesmo assim, quando pensava nele percebia o quão pouco eu conhecia dele, além de seus gostos de comida, de passeios e um pouco de música. Ele era lindo, mas quem era ele? Me segurei muito durante a semana, mas não consegui não pegar o registro de quando ele havia ido ao escritório.

"Merda..."

Eu tremia por inteiro, querendo chorar, querendo me bater, me sentindo estúpido. Dezessete anos, era isso que ele tinha. Jogando seu nome no Google consegui achar uma foto dele no último ano da escola em uma feira da escola em que estudava. Ele tinha mentido o tempo todo e eu tinha sido estúpido ao ponto de cair como idiota.

Não era ilegal, mas não era certo, muito menos eu não sabendo da idade que tinha. Ele tinha jogado sujo, muito sujo, mentido e sumido.

Pela primeira vez em anos eu cancelei os compromissos do dia por estar indisposto. Sempre que eu estava doente eu tomava algum remédio para passar os sintomas e aguentar a rotina, mas que remédio havia para o que eu estava sentindo?

Uma semana e seis dias depois de Harry ter me bloqueado, sábado, eu novamente estava em casa, um pouco melhor, mas ainda sim desanimado. Estava trabalhando para recuperar o atraso da semana.

Já estava anoitecendo quando ouvi a porta da sala abrir. Apenas eu e a senhora Ross estávamos em casa, então não estranhei.

"Sr. Malfoy?" Ouvi ela chamando meu nome em meu escritório.

"Hm?" Respondi, sem levantar a cabeça para olhá-la.

"Tem visita."

"Minha mãe?" Perguntei estranhando, se fosse ela, ela já estaria ali me perguntando como eu estava.

"Não, o Harry, senhor."

"O que?" Levantei a cabeça e a olhei. "Deixou ele entrar?"

"Não era? Desculpe, eu... eu não sabia que não era mais para deixá-lo entrar... Quer que eu o mande embora?"

"Não, eu... hm... tudo bem. Pode chamá-lo aqui, por favor?"

"Claro."

Ela se retirou e eu logo me levantei, ajeitando minhas roupas. Quando o vi entrando, prendi minha respiração.

"Draco..." Ele dizia aparentemente nervoso. "Eu... eu sei o que deve achar, mas não é o que está pensando. Desculpa ter sumido, eu não queria, é que aconteceram algumas que..."

"Eu não ligo." Eu o cortei, soando o mais frio que podia e vi que algo dentro dele doía também.

"Draco, por favor, me deixa explicar..." Harry deu alguns passos a frente.

"Não perca seu tempo, pois eu não vou acreditar."

"Mas..."

"Dezessete anos, não é?"

Ele ficou estático e pálido em segundos. Eu sabia que estava machucando ele, apesar de não entender o porquê ele se sentia ferido, como se ligasse para mim.

"Último ano da escola. É, você passou dois meses mentindo para mim."

"Draco, por favor, você tem que me escutar. Eu prometo contar tudo, mas..." Harry ofegava e eu sabia que se pressionasse mais um pouco, que ele choraria.

"Nove anos de diferença, alguém que sequer acabou a escola, que mentiu para mim, como quer que eu me sinta? Quer que eu sente e te escute? Teve dois meses para isso, para então sumir da minha vida e voltou sei lá porquê. Acabou o dinheiro? Não arranjou com quem transar?"

Acertando em cheio, eu via as lágrimas saindo daqueles olhos verdes que eu tanto gostava.

"Draco, por favor..."

"Sai daqui."

"Não..." Ele chorava ainda mais e eu me sentia podre por dentro.

"Não me faça mandar de novo."

"Eu tive que mentir minha idade..."

"EU JÁ DISSE QUE NÃO QUERO SABER!"

Depois dessa discussão eu entrei em um estado péssimo, no qual conseguia trabalhar, mas ficava inútil quando chegava em casa. Eu me odiava. Odiava por não parecer prestar o suficiente para dar certo na vida no quesito social. Me odiava porque colocava a culpa do meu relacionamento com Harry não ter dado certo, sendo que eu nada poderia ter feito, nada que eu tivesse feito teria mudado o rumo das coisas. Odiava não poder fazer nada sem sentir que me quebraria ainda mais.


| RECADINHO

Olás!

Espero que estejam gostando e curiosos para saber o que vai rolar no próximo capítulo, já que vai voltar a ser do ponto de vista de Harry.

Espero que estejam bem. Até a próxima!

Um Daddy para Harry | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora