As próximas detenções que se seguiram após o ocorrido na torre de astronomia, foram tranquilas. Podia-se dizer que eles subiram um degrau em sua relação.
Regulus ainda achava James um idiota, mas agora um idiota que não era tão ruim assim e passou a tolerar a presença dele.
O ano passou calmo, exceto pelas brincadeiras do quarteto fantástico denominado Marotos e as transformações de Lupin.
James procurou saber tudo que poderia causar, o que ele agora sabia chamar, meltdown’s em Regulus. Claro, ele foi pesquisar melhor sobre transtornos mentais com Lily, também uma desculpa para estar perto da garota, mas ele mal focou nela quando achou a categoria ‘autismo’, então era isso que o sonserino era? Ele não tinha certeza, mas também não chegaria pra falar nada sobre com o baixinho emburrado, ele sabia que qualquer fala ou gesto errado, o que quer que eles tenham construído iria por água abaixo, então se contentou em descobrir o que era demais para Regulus.
O grifinório ousou perguntar algumas coisas sobre Regulus para Sirius, esse que ficou desconfiado, mas ajudou o amigo que parecia estar conseguindo quebrar a barreira antissocial de seu irmão.
O ano terminou com um baile, esse que Regulus não desejou participar e James se sentiu tentado a vagar pelo colégio com o sonserino, porém o mesmo parecia querer ficar só e James teria que acompanhar Patil no baile, já que Lílian não aceitou seu convite pelo 3° ano consecutivo.
Sirius apenas queria ir com os amigos, mas teria que convidar alguma garota e lá foi ele e convidou uma corvina qualquer, apenas para não pensar no fato de que Remus havia sido convidado por uma garota chamada Hannah, do 4° ano. Hannah nem era um nome bonito, na opinião dele.Regulus ficou na torre de astronomia sozinho até suas duas melhores amigas, Ninfadora Tonks, que também era sua prima e Pandora Lovegood aparecerem para fazê-lo companhia. Era legal ter ambas amigas por perto. Elas estavam muito bonitas com aqueles vestidos de festa, ele gostou.
As férias chegaram e em casa ele foi recebido com muito esmero para o seu gosto, aquilo era estranho, tinha algo ali. Ele sabia que era sobre ele ser o único herdeiro, afinal, Sirius foi embora e não o avisou nada, ele sentiu raiva, mas sabia que hora ou outra aconteceria.
As férias foram chatas e sobrecarregadas. O Regulus de agora 12 anos tinha que estudar sobre feitiços imperdoáveis, desses quais ele não poderia contar a ninguém.
A volta a Hogwarts era quase um sonho para o sonserino e quando finalmente chegou ele se sentiu leve, mas ainda assim, mal. Ele teria que ver seu irmão, teria que olhar na cara da pessoa que o deixou só e ele estava com medo, muito medo.
Escolheu a cabine mais distante da multidão possível e se acomodou para ler seu livro. Era bom ficar sozinho, ele podia se mover como quisesse.
Mas sua paz foi tirada ao ouvir a porta ser aberta, ele pediu a Merlin para que não fosse Sirius e por sorte não era, mas era um Potter um pouco mais alto e com cabelos tão desordenados quanto antes e Regulus sentiu um frio na barriga.
—Oi, eu posso me sentar?—Regulus queria negar, mas não conseguiu, então apenas acenou positivamente e Potter se sentou em sua frente.
Surpreendentemente foi ele quem começou um diálogo.
—Você não penteia o cabelo?—Disse genuinamente curioso. James sorriu com a carinha que o garoto fez para si.
—Eu faço, mas eles nunca obedecem e ficam no lugar.—Levou uma mão para tentar arrumar e deixou mais desgrenhado ainda.
—Não tá feio.—Falou sincero desviando o olhar com as bochechas levemente coradas.
—Oh!—Surpreendido com o elogio implícito, não soube bem o que dizer.—O seu também não.
O sonserino corou mais ainda e voltou a ficar emburrado puxando o livro novamente para ler fazendo-o cobrir seu rosto.
A viagem seguiu calma até a hora de trocar de roupa.
—Você prefere trocar de roupa na cabine ou no banheiro? Se preferir aqui, eu posso sair.—Falou um Regulus calmo. James corou ao imaginar trocar de roupa na frente de Regulus e acabou falando algo meio distorcido, que confundiu o menino.
—An, eu vou no banheiro mesmo.—Pegou as coisas rápido demais acabando por derruba-las. Regulus foi o ajudar a pegar suas coisas e acabou encontrando algo que ele não era familiarizado.
—O que é isso?—Escapou dos lábios do menino antes que ele pudesse pensar. James não entendeu até ver ao que ele se referia, corou mais ainda.
—É um binder.—Vendo a evidente dúvida ainda presente no rosto do menino, prosseguiu.— É uma espécie de faixa para, você sabe, é seios.
—Ahh!—Exclamou com compreensão ao se lembrar do fato do grifinório ser um garoto trans.
James não gostava muito do assunto, ele tinha muita disforia com essa parte de seu corpo e falar sobre isso, mesmo que implicitamente, o incomodava.
Tendo pego o que precisava, saiu para vestir seu uniforme. Regulus sentiu algo na magia de James, mas não soube bem o que era.
O resto da viagem foi silenciosa.
A caminho das carruagens James se dirigiu meio cabisbaixo até seus amigos.
—Prongs!—Exclamou Sirius pulando no garoto a sua frente animado, mas estranhou o desânimo do amigo.—Tudo bem com você, Jay?
—Oi, Sirius! Tudo sim, só meio distraído.
—Eu e o Peter te procuramos adoidados pelo trem, onde você tava?
—E-eu estava com a Lilian.—Mentiu na cara dura. Sirius deu de ombro e James soltou o ar que nem sabia que havia prendido.
Remus apareceu logo em seguida se juntando aos dois e foram até a carruagem que Peter já estava.
Regulus se encontrou com Pandora e Tonks e foram juntos até a escola.
Uma semana após a chegada e James não estava o seguindo ou tentando conversar, Regulus não gostou disso e inconscientemente procurou pelo garoto ao longo da escola, até o encontrar em um corredor vazio escorado em uma parede e ele não parecia muito bem.
Regulus se aproximou e notou que o grifinório estava ofegante e suando.
—Potter?—James se assustou com o aparecimento repentino.
—O-oi, Regulus.—Falou forçando um sorriso que até o Regulus com sua dificuldade social veria que era totalmente forçado.
—Você tá bem?
—Sim, só corri um pouco.—Ele continuava ofegante e Regulus sentia que tinha algo errado.
—Você tá mentindo!—A cara assustada do Potter só confirmou.
—O-o que?
—Não sou burro nem cego, Potter.
James viu que não adiantaria falar mais nada.
—Eu só, eu tô a uns dias sem tirar o binder.—Ele parecia envergonhado. Regulus não entendeu. James notou isso e decidiu ser mais explicativo.—Comprime a caixa torácica por o aperto ser nessa área.
—Então você deveria tirar.—Falou como se fosse óbvio. As vezes o Potter conseguia ser tão burro.
—Eu não posso...—Falou sentindo o ar ficar mais precário, dessa vez não por causa do binder.
—Porque?—Regulus viu que estava piorando as coisas e instintivamente se aproximou mais de James.
—E-eu não consigo.— Lágrimas já escorriam pela bochecha bronzeada e de alguma forma Regulus não gostou disso e apenas esticou as mãos pousando de cada lado do rosto do grifinório, limpando as lágrimas que insistiam em cair.
Regulus não era bom com palavras como Sirius era ou sabia o que fazer como Sirius saberia, mas ele tinha que tentar, então ele desejou a sala precisa um lugar calmo.
James não sentiu ser levado a algum lugar até estar sob algo macio. Uma cama de lençóis vermelhos que pareceu o acalmar um pouco. Regulus estava na sua frente e segurava uma de suas mãos, mas ao notar isso, ele a soltou.
—Desculpe não saber o que dizer. Mas você pode falar, se quiser.—Sirius costumava dizer isso quando ele tinha crises.
—Eu não sinto que nasci no corpo errado, eu só sinto que algumas coisa não deveria estar aqui. Garotos não tem seios.—Regulus e sua falta de filtro foi obrigado a falar algo.
—Mas você é um garoto e tem seios. Então...sim, garotos tem seios.—Falou com toda simplicidade do mundo e James sorriu. As palavras foram carregadas de obviedade, mas confortaram James de alguma forma.
O ar ainda faltava e suas costelas doíam e ele pareceu voltar a se dar conta disso ao se mover naquele colchão.
—Você deveria tirar isso, ao menos um pouco.—James hesitou, mas o fez após pedir rapidamente para que Regulus se virasse, o que foi feito.
James se deitou na cama confortável e Regulus continuou na poltrona verde, ironicamente. Ambos ficaram ali até James se sentir melhor. E ali eles souberam, mesmo que muito no fundo, que nada era como parecia e de alguma forma eles se ajudavam.
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Nothing is as it seems
FanficJames quer ser amigo de Regulus, Regulus via James como um idiota de vida perfeita que roubou seu irmão. As vezes nada é como parece e talvez eles aprendam isso juntos.