Parte Dois

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— Você está pronto?

— Não — responde Atsumu em um tom choroso.

Ele odeia ter que tirar o sangue de suas glândulas. Isso lhe traz as péssimas memórias, não apenas a da dor. Mas dos anos de bullying na escola, das visitas constantes ao hospital. Do termo "defeituoso".

Atsumu sente as mãos grandes de Shoyo tocarem sua pele nua, elas percorrerem toda a extensão de seus ombros antes de começarem uma massagem, aliviando seus pontos tensos.

— Relaxe — sussurra Shoyo em seu ouvido.

Isso era a última coisa que o ômega precisava para ficar relaxado. Mas ele tenta. Não funciona. Mas as mãos de Shoyo são habilidosas e logo tem que se segurar para não gemer. Está tão bom que solta um muxoxo quando o alfa para.

Logo sente a picada de agulha e sua glândula sendo perfurada. Não é nada agradável e o faz chiar de dor.

— Shhhh, tá tudo bem. Tá tudo bem — sussurra Shoyo, sua voz calma e gentil sendo o tranquilizante necessário para que aquilo não vire uma sessão de tortura. — Tá tudo bem, daqui a pouco acaba.

Atsumu se recosta totalmente em Shoyo, apoiando a cabeça no abdômen dele, deixando que o alfa sustente seu peso. Todo o seu corpo começa a doer então, uma dor familiar e nada querida. Ele está apenas se acostumando com a volta dela quando a dor cessa e a agulha é retirada de sua pele. As mãos de Shoyo seguram seus ombros enquanto ele se afasta e fareja na glândula furada.

Ele sempre faz isso.

O ômega nunca perguntou porquê, mas hoje a curiosidade bate forte.

— Por que faz isso?

— Isso?

— É, cheirar minha glândula.

— Dá pra sentir o cheiro do seu feromônio logo depois de tirar a agulha. É bem rápido, dura apenas dois ou três segundos.

Atsumu se vira para Shoyo. O movimento deixa seus rostos muito próximos, a ponto de seus narizes se tocarem.

— Você... Consegue mesmo sentir eles?

A pergunta não passa de um sussurro baixo. Os olhos de Atsumu se desviam para os lábios de Shoyo, depois para seus olhos. Mas seu olhar não é retribuído. Porque os olhos de Shoyo estão olhando para seus lábios. Ele parece se inclinar, apenas um milímetro, para mais perto.

Então se afasta, destruindo aquela proximidade. E Atsumu sente a agulha saindo de sua outra glândula.

— Aproveitei sua distração — diz Shoyo. — E sim, posso sentir seus feromônios.

Dois tipos de sentimentos estão pesando no estômago de Atsumu, mas ele não sabe distinguí-los. Ele decide seguir pelo caminho seguro.

— E como... Como eles são?

Atsumu não consegue dizer o quanto isso é importante para ele. Como seus feromônios, saber como eles cheiram, é importante. Eles são parte do que o faz ser ômega. São uma parte de si ao qual nunca teve acesso.

— Eles são deliciosos, Tsumu. Cheiram a morango.

A mente de Atsumu vai de uma palavra para a outra. "Deliciosos" e "morango", repetem em loop, ressoando em seus ouvidos.

— Morango... — repete baixinho. — Temos morangos em casa?

— Não, mas eu posso sair para comprar. Também posso comprar leite condensado.

— O Moça?

— Alguma vez eu comprei outro se não o seu favorito?

— Você não precisa ir. Parece que vai chover.

Estrelas Frutadas (AtsuHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora